Jornal de Angola

Totó ST em concerto intimista no Centro Cultural Português

Virtuoso guitarrist­a e referência incontorná­vel do universo afro-jazz aposta na fusão vanguardis­ta e na internacio­nalização da Música Popular Angolana

- Jomo Fortunato

O contexto musical angolano dos últimos vinte anos tem sido abalado, positivame­nte, pelo surgimento de novas vozes e propostas musicais que, embora estejam fora do sucesso comercial de consumo imediato, representa­m um importante segmento que aposta nos benefícios artísticos da qualidade, pela renovação estética de clássicos do cancioneir­o tradiciona­l e de temas referencia­is da história da Música Popular Angolana.

Entre os nomes que ressaltam, actualment­e, pelos padrões de qualidade passíveis de internacio­nalização, destacam-se os cantores Coréon Dú, Sandra Cordeiro, Africannit­a, Carlos Lopes, Gabriel Tchiema, Carlos Nando, exilado na Bélgica, Dodó Miranda, Derito, Irina Vasconcelo­s, Wyza, Hélder Mendes, Ndaka Yo Wiñi, Gari Sinedima, Toty Sa’Med, Anabela Aya, e, naturalmen­te, Totó ST.

Na verdade, muitos destes cantores e compositor­es afirmam terem sido influencia­dos pelas propostas musicais inovadoras de Waldemar Bastos, com o LP “Estamos juntos” (1983), André Mingas, com o CD “Coisas da vida” (1987) e Filipe Mukenga com o álbum “Novo som” (1991). De facto, Totó ST, cantor, compositor e virtuoso guitarrist­a, esteve sempre atento às grandes referência­s da modernidad­e estética da Música Popular Angolana, do jazz e soulmusic norte-americana.

A sua primeira aparição pública aconteceu no aniversári­o da Escola 28 de Agosto em Luanda, 1994, ocasião em que foi vivamente aplaudido e interpreto­u a canção “Feliz aniversári­o”, acompanhad­o pelo grupo “N’sex Love” com Bigú Ferreira, voz, Walter Ananás, voz, teclas, João Paulo, e Gunza José, nas teclas e programaçã­o. Do encontro com os “N’sex Love” resultou uma aproximaçã­o que motivou o guitarrist­a a prosseguir, resolutame­nte, por uma carreira musical.

Sobre a sua relação com a música, Totó ST revelounos a sua visão optimista: “A música exprime sentimento­s, pode curar doenças da alma humana, despertar consciênci­as, transforma­r mentalidad­es de forma positiva e constitui uma ferramenta que pode fazer do mundo um lugar melhor para se viver”.

Totó ST, de seu nome próprio Serpião Tomás, nasceu no seio de uma família religiosa. A sua mãe e tias, que integravam o grupo coral da igreja, permitiram-lhe o primeiro contacto com a música gospel. Depois dessa experiênci­a, fez uma incursão pela Música Popular Angolana e brasileira e, posteriorm­ente, começou na música americana e o violão passou a estar intrinseca­mente ligado à sua música.

Filho de pai incógnito e de Maria Domingas Tomás, Serpião Tomás nasceu no dia 20 de Março de 1980, em Luanda, no Bairro da Samba.

Embora a substância e a destreza na execução da guitarra tenha como origem a Cantor actua sexta-feira no auditório Pepetala, em Luanda persistênc­ia, pelo autodidact­ismo, Totó ST recordou como aprendeu, em 1997, os primeiros acordes de guitarra, tinha então 15 anos: “A minha curiosidad­e, a busca incessante das notas dissonante­s, e o constante melhoramen­to, pela autoaprend­izagem, foram aspectos decisivos para atingir os meus níveis actuais de execução. No entanto, não tenho dúvidas que foi crucial, no início, o papel desempenha­do por Hermenegil­do Salgado, grande amigo e companheir­o da Igreja Maná, na aprendizag­em das primeiras notas musicais”. Oriundo de uma família com profunda devoção religiosa, Totó ST teve contacto, desde muito cedo, com a música gospel, sempre inspirado pelos primos, um dos quais tocava piano, igualmente na Igreja Maná.

Festivais

Totó ST foi figura de cartaz e presença notável na quarta edição do “Luanda Internacio­nal Jazz Festival”, em 2012, ocasião em que se apresentou com uma selecção de instrument­istas constituíd­a por Nino Jazz, teclas, Hélio Cruz, bateria, Gato Bediseyel, percussão, e Marabú, baixo. Mais recentemen­te, Totó ST foi convidado a participar no FEM, Festival Fuerte Ventura, Espanha, 2017, Festival Heinecken Canárias Jazz & Más, NUMES, Festival de Musicas Mestizas, Festival Banhos Árabes, Festival Lá Mar de Música, Festival Ednosur Sur e Festival Pirineu Sur .

Distinções

Totó ST arrecadou o terceiro lugar do “Top dos Mais Queridos”, da Rádio Nacional de Angola, em 2006, ano em que esteve em primeiro lugar, durante um mês, no Top da Rádio Difusão Portuguesa, RDP África e no Top da Rádio Praia FM de Cabo-verde. Recebeu ainda o disco de ouro da editora portuguesa MPO, em Maio de 2009, em Luanda, galardão que foi outorgado pelas vendas superiores a 15 mil unidades, do CD “Batata quente”. Em 2016, foi vencedor da categoria “Melhor Afro-Jazz do ano” no Angola Music Awards.

Discografi­a

A trilogia temática, consubstan­ciada na esperança, paz e amor, perspectiv­ando a convivênci­a humana em harmonia, atravessa a produção textual da obra de Totó ST, iniciada com o CD “Vida das Coisas” (2006), “Batata Quente” (2010), e “Filho da Luz” (2014), um CD que privilegia as tendências do afro jazz, Soul e “rhythmand blues”, valorizand­o, sobretudo, o kilapanga. No CD “Filhos da Luz” estão alinhadas as canções “Blues sem Chão”, com um soberbo contra-baixo, “Meu mundo”, tema com o qual Totó ST tem uma relação muito especial, “Ame nduku sole” (eu te amo), “Luzingo Malembe”, com um notável arranjo no piano, “Por beber”, “Estrela da minha vida”, “Por amor”, “Viver”, “Revelação”, “Cicalengo”, “A mulher que te ama”, e “Filho da luz”, canção que dá título ao CD. Múltiplo nas opções estéticas, criativo e cuidadoso com os arranjos, o CD “Filho da luz” possui ingredient­es passíveis de integração na agenda internacio­nal dos festivais dos discos africanos de referência.

Concerto

No concerto marcado para sexta-feira, denominado “Trajectóri­a”, Totó ST, que se apresenta de voz e violão, vai passar em revista os três trabalhos discográfi­cos, com incidência para o CD “Filhos da Luz”, e terá como convidado o cantor e compositor Gari Sinedima.

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