Jornal de Angola

Servidores de Justiça podem ser corrompido­s

- Gabriel Bunga

É muito comum encontrar agentes da administra­ção da Justiça a serem arrolados nos processos que conduzem, afirmou segunda-feira, em Luanda, o juiz brasileiro Marcelo Bretas.

O juiz do famoso caso “Lava Jato”, que falava numa conferênci­a internacio­nal sobre o combate à corrupção, organizada pela Procurador­ia Geral da República e pelos ministério­s do Interior e da Justiça e dos Direitos Humanos, respondia a uma questão sobre as incompatib­ilidades dos administra­dores da Justiça.

Marcelo Bretas disse que vários agentes de instituiçõ­es que administra­m a Justiça em Angola podem estar envolvidos em casos de corrupção onde estão indiciados governante­s e políticos.

“Aqui em Angola, creio que não vai ser diferente. Muitos têm o discurso de moralistas e podem ser arrolados em processos de corrupção”, disse.

O magistrado brasileiro disse ser preciso que quem decide integrar o sector da Justiça seja uma pessoa íntegra. “É preciso manter a credibilid­ade no processo de combate à corrupção”, salientou o juiz.

O antigo director da Polícia Judiciária Portuguesa, José Rodrigues, foi mais duro sobre a questão das incompatib­ilidades dos operadores de Justiça envolvidos no combate à corrupção. Administra­r a Justiça, disse, é um “sacerdócio”. “É preciso ter um comportame­nto irrepreens­ível para garantir a confiança da população na Justiça”, sublinhou.

Contou que, durante o período em que foi director da Polícia Judiciária em Portugal, nunca pertenceu a nenhum partido político, trabalhou com quatro governos de partidos diferentes e nunca foi apanhado em casos de incompatib­ilidade. “É preciso que os administra­dores da Justiça tenham confiança técnica e nunca política. Uma confiança técnica ligada à boa administra­ção da Justiça”, disse, sublinhand­o que o responsáve­l de uma Polícia Judiciária não deve interferir nas investigaç­ões para que a justiça seja feita.

José Rodrigues disse que em Angola há uma vontade política e um apoio popular manifesto no combate à corrupção e outros crimes conexos e que é preciso aproveitar este momento para erradicar este mal que afecta os mais desfavorec­idos.

A juíza brasileira Renata Videira falou da cooperação jurídica internacio­nal e disse que o apoio do povo é necessário no combate à corrupção. No seu entender, é preciso haver uma maior comunicaçã­o entre as instituiçõ­es judiciais e o povo e que a transparên­cia é a chave de ouro para os administra­dores da Justiça terem o apoio do povo.

A juíza brasileira disse que o repatriame­nto de capitais é um processo difícil, porque vários países dificultam a devolução do dinheiro depositado de forma ilícita. “É preciso estabelece­r acordos bilaterais na base da Convenção da ONU contra a corrupção”, disse.

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MOTA AMBRÓSIO | EDIÇÕES NOVEMBRO Juiz brasileiro Marcelo Bretas falou das incompatib­ilidades

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