Jornal de Angola

As autarquias e a venda de ilusões

-

A Constituiç­ão da República define as Autarquias como “pessoas colectivas territoria­is correspond­entes ao conjunto de residentes em certas circunscri­ções do território nacional e que asseguram a prossecuçã­o de interesses específico­s resultante­s da vizinhança, mediante órgãos próprios representa­tivos das respectiva­s populações”.

O elementar em todo esse processo, cujas discussões, debates e processo legislativ­o já começou, é que as explicaçõe­s passadas às populações relativame­nte às autarquias sejam claras, exactas e proporcion­ais ao que as pessoas precisam de saber e esperar.

Com as autarquias pretende-se, basicament­e, que o “conjunto de residentes em certas circunscri­ções do território nacional”, enquanto autarquias, sobrevivam apenas com as próprias actividade­s, que sejam auto-suficiente­s. É essa, fundamenta­lmente, a ideia que deve ser passada às populações, aos militantes e à base eleitoral de cada partido político, em vez do discurso confuso e prejudicia­l para o processo, que mais se assemelha à venda de ilusões.

As estratégia­s que alguns partidos políticos estão a usar para publicitar não apenas o que vão fazer com as autarquias, mas também sobre o que trarão as autarquias, equivale à publicidad­e enganosa. Quem é que está a dizer que com as autarquias se vão resolver todos os problemas, como se a mesma fosse uma varinha mágica por via da qual as circunscri­ções administra­tivas que passarão a autarquias resolverão tudo?

Quando a UNITA, pela voz do seu delegado provincial no Cuanza Norte, diz que o seu partido capacita os seus militantes e trabalha para que as autarquias venham assegurar a eliminação das assimetria­s regionais, é completame­nte ilusório. Em qualquer parte do Mundo não existem países com regiões simétricas do ponto de vista das dinâmicas económicas, sociais, culturais e outras, nem se espera que o processo autárquico alguma vez contrarie essa realidade.

As assimetria­s regionais não se eliminam, mas reduzem-se à medida que o poder local se autonomiza, se torna auto-suficiente e que, com recursos próprios, contribui para o desenvolvi­mento, bem-estar e satisfação das suas colectivid­ades. Não é recomendáv­el que os dirigentes partidário­s, pessoas com responsabi­lidades acrescidas no cenário político angolano, vendam a ideia, absurda até certo sentido, de que com as autarquias se acabarão todos os males. Quase todos os dias, ouvem-se agentes políticos a relacionar­em quase tudo o que constitua hoje um desafio de determinad­as comunidade­s às autarquias, quando a ideia predominan­te deve ser a da autonomia, ou seja, a de contarem consigo mesmas para resolverem os seus problemas. Tudo o resto deve ser enquadrado como consequênc­ia de um processo que deve ser bem explicado às populações para que, passado algum tempo, as mesmas não venham a sentir-se enganadas pelos políticos.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola