Tratamento de feridas complexas em discussão
As feridas complexas (crónicas) são patologias que requerem um tratamento adequado, com conhecimentos científicos por parte dos técnicos de enfermagem, mas muitas vezes negligenciadas, o que tem levado à morte de muitos cidadãos, disse ontem, em Luanda, a especialista Judith Luacute.
Licenciada em Ciências de Enfermagem, Judith Luacute disse, em exclusivo ao Jornal de Angola, haver necessidade de despertar a classe de enfermeiros do país, muitos dos quais tentam banalizar essas patologias, pensando que “um curativo é apenas limpar a ferida e cobri-la”.
Para tratar deste e de outras maleitas, a Ordem dos Enfermeiros de Angola, em véspera do IV congresso internacional da classe, a ter lugar hoje, em Luanda, realizou ontem, nas instalações do Hospital Josina Machel, um curso sobre tratamento de feridas complexas, com a participação de técnicos de enfermagem daquela unidade hospitalar.
A acção formativa, que teve como prelectores especialistas brasileiros, visou dotar os enfermeiros angolanos de conhecimentos científicos para os cuidados no tratamento de feridas crónicas ou complexas, muitas das vezes negligenciadas pelos técnicos de saúde, familiares dos próprios pacientes e estigmatizados pela sociedade.
A presidente da Sociedade Brasileira de Enfermagem de Tratamento de Feridas, Mara Blanck, disse que tratar de feridas é muito mais do que limpar e colocar uma compressa e fechar com adesivo ou ligadura.
O tratamento de feridas complexas requer um entendimento científico para que se possa perceber os seus meandros, “a cada dia que abrimos para cuidar delas”, disse a especialista brasileira, para quem “não se pode falar de feridas sem falar na sua classificação”.
Mara Blanck falou dos vários processos contínuos que contribuem para a restauração da ferida, nomeadamente a regeneração celular, a proliferação celular e produção de colágeno, uma proteína de rápida absorção que pode ser encontrada naturalmente no organismo e que contribui para a elasticidade e resistência da pele.
De acordo com a especialista brasileira, as feridas da pele são definidas como interrupções da integridade cutâneo-mucosa, que resultam no desequilíbrio da saúde, muitas vezes impedindo ou dificultando as actividades básicas do dia-a-dia, como a locomoção.
As lesões da pele são classificadas como feridas crónicas e agudas, que se não forem bem tratadas podem levar a morte do paciente, disse na ocasião a especialista brasileira.
Inicia-se hoje, em Luanda, o IV Congresso Internacional dos Enfermeiros, sob o lema “A contribuição da enfermagem na promoção da saúde em Angola: Os desafios do século XXI”.
Promovido pela Ordem dos Enfermeiros de Angola, o evento tem como objectivo proporcionar uma reflexão sobre o protagonismo da enfermagem na atenção à saúde, a formação profissional, a compreensão do papel social do enfermeiro, os cuidados, a forma de agir no serviço e no contexto das organizações de saúde.
Para o evento, que encerra amanhã, participam, além de representantes de Angola, especialistas do Brasil, Cuba, Portugal, República Democrática do Congo e Moçambique.
Judith Luacute disse que durante o congresso vai haver um fórum específico sobre feridas, no qual será espelhada a realidade de Angola e do Brasil, bem como as novas tecnologias aplicadas no tratamento dessas enfermidades.