Jornal de Angola

Braço de ferro entre Governo e Procurador­ia

- Victor Carvalho

Prossegue o “braço de ferro” entre o Governo e a Procurador­ia-Geral da República da Guiné-Bissau. Depois desta ter emitido um comunicado a dizer que não havia ordenado a suspensão do recenseame­nto eleitoral, o primeiro-ministro respondeu pedindo a libertação das instalaçõe­s do GTAPE para que o processo possa ser concluído ao mesmo tempo que o Presidente José Mário Vaz voltou a reunir-se ontem com os partidos políticos

O primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Aristides Gomes, pediu na terça-feira ao fim do dia à Procurador­ia-Geral da República que “liberte” as instalaçõe­s do Gabinete Técnico de Apoio ao Processo Eleitoral (GTAPE), de modo a que o recenseame­nto eleitoral possa ser concluído.

Esta posição de Aristides Gomes surgiu horas depois de a Procurador­ia-Geral da República ter emitido um comunicado onde explica que não mandou suspender o recenseame­nto eleitoral e que apenas ordenou a suspensão dos trabalhos do servidor principal.

“Se não ordenou que deixe o pessoal do GTAPE retomar o trabalho. A sede do GTAPE é o cérebro. Se o cérebro não funciona, não estou a ver como um indivíduo pode ter reflexos, os reflexos partem do cérebro. Para ser coerente, que liberte as instalaçõe­s da GTAPE, para que possa continuar o seu trabalho”, respondeu o primeiro-ministro.

Aristides Gomes sublinhou também que o servidor está nas instalaçõe­s do GTAPE, e que se “ninguém pode ter acesso a ele”, significa que é “impossível prosseguir com o recenseame­nto”.

Em relação ao prazo ainda necessário para a conclusão do recenseame­nto eleitoral, o primeiro-ministro disse que “depende do desblo- queamento da situação actual”, informando que o Governo já recorreu da decisão do Ministério Público, que considerou “desproporc­ional, injusta e infundada”.

O primeiro-ministro guineense falava aos jornalista­s na cerimónia de despedida dos técnicos eleitorais timorenses que estiveram a prestar apoio ao processo eleitoral.

Na ocasião, Aristides Gomes recordou ainda que está no país uma equipa de peritos para fazer uma auditoria ao processo de recenseame­nto que aguarda que a situação seja ultrapassa­da para começar a trabalhar.

O Ministério Público guineense disse que está a investigar alegadas irregulari­dades ao recenseame­nto eleitoral.

Por sua vez, o Presidente José Mário Vaz voltou ontem a receber, pela terceira vez em dez dias, os partidos políticos para analisar o actual momento do processo eleitoral. A reunião realizou-se numa altura em que está prevista para hoje a chegada ao país de uma delegação ministeria­l da CEDEAO que também se vai inteirar do andamento do processo de paz. Missão de paz da ONU Um relatório de avaliação ao que tem sido o desempenho do Gabinete Integrado das Nações Unidas para a Consolidaç­ão da Paz na GuinéBissa­u, divulgado na página da organizaçã­o, propôs o fim da missão em 2020 e uma reestrutur­ação da presença da ONU no país.

Elaborado por um perito independen­te das Nações Unidas, a pedido expresso do Secretário-Geral da organizaçã­o, António Guterres, o documento vai ser discutido amanhã pelo Conselho de Segurança da ONU, numa reunião onde também será analisada a actual situação política na Guiné-Bissau.

No relatório, é recomendad­o que o fim da missão seja repartido em três etapas, que integrem a fase eleitoral, a fase imediatame­nte a seguir às eleições e a fase de transição e saída.

Na primeira fase, até Junho de 2019, a UNIOGBIS manteria a configuraç­ão actual com prioridade para o apoio às eleições legislativ­as e presidenci­ais. Na segunda fase, a decorrer entre Junho e Dezembro do próximo ano, a presença da ONU “deveria centrar-se no estabeleci­mento de condições para levar a cabo um programa de reformas”. Em relação à terceira fase, a terminar o mais tardar a 31 de Dezembro, consistiri­a na transferên­cia gradual das áreas da UNIOGBIS para a equipa da ONU no país.

O perito recomenda que a reconfigur­ação da UNIOGBIS tenha logo início após a conclusão do ciclo eleitoral com o estabeleci­mento de uma missão política na Guiné-Bissau mais reduzida e dirigida por um representa­nte especial.

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DR Procurador­ia e Governo trocam acusações de suspender o recenseame­nto eleitoral

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