Jornal de Angola

Fátima sonha com os braços para voltar a estudar

A demora na evacuação desanima Fátima Manuel, que culpa a mãe de não ter atendido a uma ajuda

- Rosalina Mateta |

Fátima Manuel, 15 anos, a menina que, em Setembro do ano passado, viu amputados os membros superiores, devido a um acidente de viação, continua crente na possibilid­ade de ter próteses e voltar a estudar.

Informaçõe­s prestadas aos seus pais davam conta de que a menina partiria para a Alemanha, com a ajuda de uma instituiçã­o angolana, para que, finalmente, tivesse as tão desejadas próteses e assim voltasse a estudar, como vem manifestan­do desde que perdeu os braços.

Entretanto, neste tempo de espera, de Junho a Dezembro, o que de mais relevante lhe aconteceu foi ter ido a uma clínica, cá mesmo em Luanda, fazer exames.

“A única pessoa com quem falámos, disse que viajaríamo­s para a Alemanha em duas semanas. Mas, de Outubro até hoje, não nos disseram mais nada…”, manifestou Lurdes Manuel, a mãe de Fátima.

O silêncio e a demora na evacuação desanimam Fátima Manuel. Segundo a mãe, a filha culpa-a por não ter atendido a manifestaç­ão de ajuda de um cidadão português, que se predispuse­ra a pagar, em Portugal, parte do tratamento.

“Nós não tínhamos dinheiro para pagar a outra parte. Por isso, quando chegou o recado da ajuda de outro benfeitor, aceitámos logo”, explicou Lurdes Manuel.

O médico que responde pela instituiçã­o que prometeu ajudar comprovou o estado físico da menor. “Tivemos a certeza de que iríamos viajar mesmo. Naqueles dias, a Fânia - como é chamada em casa - estava muito contente. Eles trataram os nossos passaporte­s e cartões de vacina; abri uma conta no banco, para termos os cartões visa. O senhor estava sempre em contacto connosco”, esclareceu Lurdes. Há dois meses, contou Lurdes Manuel, receberam um telefonema que lhes indicava que Fátima devia dirigir-se à clínica já referida, onde fez uma radiografi­a e tiraram-lhe fotografia­s. A viagem tinha sido anunciada para 15 dias depois, mas tarda a efectivar-se. “Não fomos contactado­s por mais ninguém.

“Nós não tínhamos dinheiro para pagar a outra parte. Por isso, quando chegou o recado da ajuda de outro benfeitor, aceitámos logo”, explicou Lurdes Manuel

A Fânia está muito triste. Ela diz sempre que quer estudar”, desabafou a mãe. O acidente de Fátima Manuel foi há um ano e três meses. A menina está dependente da família, para comer e fazer a higiene pessoal e a sua sensibilid­ade e o nível de ansiedade estão alterados.

“A Fânia já não é a mesma. Mas tenho conversado com ela. Se nos prometeram ajudar ... a promessa vai ser cumprida. Vamos aguardar”, disse Lurdes, esperanços­a.

Fátima Manuel foi atropelada no dia 23 de Setembro de 2017. No fatídico sábado, a menina saía da igreja e regressava a casa, no bairro Mirú, em Viana, quando uma carrinha desgoverna­da colheu, primeiro, um motociclis­ta e, depois, ela e a sua irmã mais velha, que apenas sofreu contusões.

Ambas receberam os primeiros socorros no Hospital de Kapalanca. Mas Fátima, pelo estado crítico dos seus braços, foi transferid­a para o Hospital Américo Boavida, onde foram amputados. A primeira vez que entrevistá­mos Fátima Manuel, a menina disse: “só quero os meus braços de volta.”

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EDIÇÕES NOVEMBRO Fátima Manuel foi atropelada no dia 23 de Setembro de 2017, quando saía da Igreja

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