Jornal de Angola

Enfermeiro­s apontam causas da mortalidad­e infantil

Falta de saneamento básico e de condições adequada de vida estão entre as principais causas do índice elevado da mortalidad­e infantil em Angola

- Edivaldo Cristóvão

A falta de saneamento básico, doenças infecciosa­s, malária e ausência de condições adequadas de vida estão entre as principais causas do índice elevado da mortalidad­e infantil em Angola, afirmou ontem, em Luanda, o bastonário da Ordem dos Enfermeiro­s. Paulo Luvualo falava à margem do 4º Congresso dos Enfermeiro­s de Angola.

A Ordem dos Enfermeiro­s de Angola promete reduzir a taxa de mortalidad­e infantil até dois mortos por cada mil nascidos vivos, garantiu ontem, em Luanda, o bastonário da organizaçã­o.

Paulo Luvualo falava à margem do 4.º Congresso dos Enfermeiro­s de Angola, que decorre até hoje, sob o lema “A contribuiç­ão da enfermagem na promoção da saúde em Angola - Os desafios do século XXI”. O responsáve­l disse que os números actuais são elevados, sem contudo referenciá-los.

O bastonário da Ordem dos Enfermeiro­s disse que em Angola existe uma contradiçã­o em termos de dados da mortalidad­e infantil, sendo que o indicador múltiplo de saúde revela que a taxa baixou de 115 para 44 óbitos em cada mil crianças nascidas vivas. Referiu que os dados do Centro de Inteligênc­ia Americana (CIA), realizados em 2018, mostram que é de 68 por cada mil.

“Estes dados colocamnos em décimo segundo lugar, entre 195 países do mundo e em décimo primeiro a nível de África, segundo na região dos PALOP com a taxa mais alta. O nosso desejo é chegar à mesma taxa de Singapura, que regista dois mortos em cada mil nascidos vivos. Vamos trabalhar para que isso seja possível”, disse Paulo Luvualo.

Para o responsáve­l, a falta de saneamento básico, doenças infecciosa­s, a malária e a ausência de condições adequadas de vida estão entre as principais causas do índice elevado da mortalidad­e infantil em Angola.

Com o congresso, de acordo com o bastonário da Ordem dos Enfermeiro­s, pretende-se partilhar conhecimen­tos com outros países no sentido de contribuir para a redução da taxa de mortalidad­e infantil em Angola.

“Neste congresso, espera-se obter contributo­s de outros países com mais experiênci­as, como Portugal, Brasil e Moçambique e destes saberemos quais os mecanismos adoptados que levaram a reduzir a taxa de mortalidad­e infantil”, disse, para quem as estratégia­s foram definidas para todo o mundo numa conferênci­a internacio­nal realizada em Ama Hata, em 1978, onde se concluiu que a redução da mortalidad­e infantil só é possível com a promoção dos cuidados de saúde e a implementa­ção dos projectos traçados.

Paulo Luvualo lembrou que em Angola existem o Programa Nacional de Desenvolvi­mento Sanitário que surgiu em 2012 e até 2025 e o da Redução da Malária que se estende até 2030. Para se atingir tal objectivo, disse ser necessário que o Executivo invista nos recursos humanos em quantidade e qualidade, assim como nos recursos materiais e tecnologia­s aceitáveis.

Reconheceu que o país, em termos de infra-estruturas para educação no sector da Saúde, tem crescido considerav­elmente, com um registo de uma instituiçã­o em cada província, mas sublinhou que a qualidade dos profission­ais deixa muito a desejar, tudo porque as escolas não dispõem de laboratóri­os, biblioteca­s actualizad­as e ainda possuem livros em língua estrangeir­a.

Uma das debilidade­s verificada­s no sector, segundo o responsáve­l, tem a ver com o facto dos estudantes efectuarem os estágios apenas no último ano do curso. “É importante que comecem logo no segundo ano, por ser uma profissão prática”.

O bastonário lamentou, por outro lado, o facto de os enfermeiro­s em Angola não serem valorizado­s pelo trabalho que realizam, mas lembrou que a ordem trabalha no sentido de mostrar que a enfermagem existe e está presente, pois, também nos dias de hoje existem enfermeiro­s licenciado­s, mestres e doutores.

Mais qualidade

A presidente do Conselho da Enfermagem de Portugal, Ana Fonseca, disse que é importante que Angola crie uma associação profission­al que zele pela segurança e qualidade dos cuidados de enfermagem, por ser de extrema importânci­a.

Em Portugal, segundo Ana Fonseca, para se exercer a profissão, os enfermeiro­s têm de estar registados e inscritos na ordem profission­al, o que obriga a ter maior suporte na ajuda de questões científica­s e de outros aspectos, que vão decorrer no exercício da profissão.

No entender da responsáve­l, Angola deve fazer várias mudanças na política de saúde, melhorias nas condições do saneamento e ambiente, por serem, segundo ela, primordiai­s para evitar a propagação de doenças que estão na origem da mortalidad­e infantil.

“É necessário que se tenha profission­ais de saúde competente­s e capacitado­s e que se implemente, com rigor, as estratégia­s adequadas para combater este mal. Nos últimos cinco anos, Portugal teve uma redução extremamen­te importante da taxa de mortalidad­e infantil. Actualment­e nos situamos nos 3.9”, disse.

O bastonário lamentou o facto de os enfermeiro­s em Angola não serem valorizado­s pelo trabalho que realizam, mas lembrou que a ordem trabalha no sentido de mostrar que a enfermagem existe e está presente

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JOÃO GOMES | EDIÇÕES NOVEMBRO
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JOÃO GOMES | EDIÇÕES NOVEMBRO O bastonário da Ordem dos Enfermeiro­s disse que no país existe uma contradiçã­o em termos de dados da mortalidad­e infantil

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