O portador de deficiência que nunca desistiu da luta
Órfão de pai, do Huambo para o Sambizanga e depois Cacuaco, Samacau, sorridente, é exemplo de perseverança e coragem
Eduardo Paulo Francisco Xavier Samacau nasceu na Cidade Alta, Huambo, há 44 anos, filho de Francisco Xavier Samacau, responsável provincial do MPLA, e de Ana Maria Etosse, doméstica.
A primeira infância de Eduardo Samacau correu sem percalços até à morte do pai, em 1981, tinha Eduardo Samacau seis anos.
A viatura em que seguia o seu pai embateu num pedregulho que de repente surgiu na estrada entre Huambo e Cáala e o dirigente do MPLA, levado para o hospital, veio a falecer dias depois, deixando muitos filhos menores no desamparo e sem protecção.
A mãe de Eduardo Samacau ficou desprotegida para educar os sete filhos menores e todos tiveram de trabalhar duro para se sustentarem. Eduardo Samacau recorda que iam às unidades militares adquirir conservas e outros alimentos para venderem à porta de casa e nas praças. A venda de lenha passou a ser uma actividade diária de toda a família.
À escola, Eduardo Samacau ia com as vestes rotas e quase descalço, contou.
Então, sobreveio a deficiência física que o atirou para uma cadeira de rodas e marca Eduardo Samacau até hoje. Ele recorda esse momento trágico: “Puseram algo na minha mão direita e no dia seguinte estava com o corpo todo paralisado até ao pescoço. Desde aí, nunca mais voltei a andar, se bem que experimentasse algumas melhoras a nível do braço e mão direita, mas o meu corpo ficou quase todo paralisado.”
Eduardo Samacau estudava com muita dificuldade, arrastando-se como podia ou era levado nas costas pelos irmãos ou amigos. O ensino primário foi cumprida na escola de Fátima, depois na de S. Pedro e finalmente na escola Comandante Bula.
Com 15 anos, no meio de dificuldades quase intransponíveis para se locomover e para se alimentar, Eduardo Samacau viaja para Luanda depois de semanas à espera de lugar num avião militar, pois não possuía valores para a compra de passagem.
Em Luanda, o jovem Eduardo Samacau “aterra” no Sambizanga e dá de caras com nova guerra, viu muitos vizinhos fugirem e desaparecerem. Em casa da irmã mais velha, a vida não era fácil, nova batalha para Eduardo Samacau, que se vê na neces- sidade de ir vender no mercado Roque Santeiro. “Vendia fardos, bolachas, rebuçados, fazia caramelos de leite e açúcar.”
Mas os fiscais começaram a apertar os vendedores e Eduardo Samacau é forçado a abandonar a venda e a família retrocede para uma miséria ainda mais atroz.
Já corria a sua adolescência, quando Eduardo Samacau decide prosseguir os estudos e matricula-se, no bairro Boa Esperança, em Cacuaco, no curso médio de Teologia no Instituto Bíblico de Angola, do qual foi expulso por falta de pagamento da propina.
Mas o que tem de vir ter connosco acaba mesmo por vir e um pastor norte-americano interessa-se por Eduardo Samacau e consegue uma bolsa para o jovem portador de deficiência, que regressa ao Instituto Bíblico para acabar o curso.
Ao mesmo tempo, formase em Jornalismo no Bom Pastor, uma extensão do Cefojor.
Em 2009, é admitido no curso de Comunicação Social da Universidade Agostinho Neto, no período pós-laboral, mas as dificuldades financeiras e de locomoção eram extremas, não existia qualquer apoio social para portadores de deficiência que a maior parte das vezes eram e continuam a ser discriminados nos candongueiros e nas instituições. Da Boa Esperança para o local do curso, no Futungo, em cadeira de rodas, todos os dias, não é tarefa fácil, assim como não foi fácil conseguir os 15 mil kwanzas mensais para a propina obrigatória. Mas Eduardo Samacau não desistiu e procurou colégios para leccionar e pagar pelo menos o transporte e as propinas.
Eduardo Samacau pediu a transferência para a sede na rua Ho Chi Minh, mas o seu pedido foi ignorado e só um ano depois, muitas solicitações após, um Eduardo Samacau exaurido nas suas forças é finalmente transferido para o Instituto dos Maristas, um pólo da Universidade Agostinho Neto.
Eduardo Samacau consegue uma bolsa de estudos como filho de antigo combatente, mas cai doente e é hospitalizado, perdendo a bolsa, volta a estudar mesmo sem bolsa e volta a insistir uma vez, duas vezes para a retribuição da bolsa, consegue metade mas depois é-lhe de novo cortada devido a idade, já a frequentar o quarto ano do curso superior.
Não é fácil, diz Eduardo Samacau. Em litígio com a UAN, devido ao pagamento de créditos que Eduardo Samacau garante ter efectuado na totalidade, ele não conseguiu ainda terminar o quarto ano e por isso, admitido como professor de Filosofia do segundo ciclo no Liceu n.º 4070, no Paraíso, só aufere o salário de professor primário, embora leccione dez turmas com 70 alunos cada, no ensino médio.
Da Boa Esperança para o local do curso, no Futungo, em cadeira de rodas, todos os dias, não é tarefa fácil, assim como não é fácil conseguir 15 mil kwanzas para a propina mensal obrigatória