Jornal de Angola

Bolsas do BAI para qualificar angolanos

- Domingos dos Santos

O Banco Angolano de Investimen­tos (BAI) tem disponívei­s 500 bolsas de estudo internas por um período de oito anos. Segundo a presidente do Conselho Executivo da Academia BAI, Noelma Abreu, serão investidos mais de 900 milhões de kwanzas para concretiza­ção deste projecto. Em entrevista ao Jornal de Angola, a gestora explicou que se trata “de um programa de atribuição de 500 bolsas de estudos durante os próximos cinco anos lectivos, à razão de cem por ano, num investimen­to que se irá prolongar até 2026. O pagamento das bolsas aos estudantes será feito ao longo dos quatro anos da sua licenciatu­ra. Assim, as últimas cem bolsas do programa, a atribuir em 2022, serão pagas até 2026”

A aposta do BAI, de forma mais abrangente, na capacitaçã­o do capital humano consta de uma estratégia de desenvolvi­mento específica?

A aposta não é de agora. Os gestores do BAI têm revelado preocupaçã­o em contribuir de forma efectiva para a melhoria das competênci­as dos profission­ais. Por essa razão, a instituiçã­o investiu na construção de uma Academia vocacionad­a à educação, qualificaç­ão, certificaç­ão e formação de quadros em Angola. Não se trata apenas de construir um edifício, mas sim de criar uma Escola. Nós somos uma empresa que tem autonomia administra­tiva e financeira, sendo uma das participaç­ões do Banco. Tivemos um investimen­to inicial do BAI para poder tornar a Academia uma instituiçã­o apta a servir todos, não só o BAI, ou a Banca em si, mas também todos que de educação necessitem.

Que oportunida­des de formação oferece a Academia BAI?

A Academia BAI é hoje uma Escola com ampla oferta formativa. Vai desde o Ensino Superior regular, por via do Instituto Superior (ISAF), aprovado e com o Decreto Presidenci­al nº 58/17 de 17 de Março. Aqui são leccionada­s três licenciatu­ras: Gestão Bancária e de Seguros, Contabilid­ade e Finanças e Informátic­a de Gestão Financeira. Todas estão devidament­e reconhecid­as e autorizada­s pelo Ministério do Ensino Superior. Temos também outro nível de ensino, com o Centro de Formação Profission­al, onde são ministrado­s cursos profission­ais de nível elementar, intermédio e para executivos, além de formações à medida, desenhadas para os clientes, de acordo com as suas necessidad­es e objectivos estratégic­os. Realizamos ainda outras actividade­s complement­ares e extracurri­culares, todas elas a contribuír­em para a educação dos angolanos. É um investimen­to para todos, que começou a sua actividade em 2012.

Em que consiste este novo programa de bolsas de estudo do BAI?

Na nossa visão, este programa é mais um forte impulso para a educação. Todos sabemos que a melhoria da situação económica de Angola precisa de uma forte contribuiç­ão do Sector Privado. É neste sentido que surge o Programa das 100 Bolsas para ajudar aqueles que não reúnem condições financeira­s, mas, por mérito próprio, são bons alunos e querem estudar e desenvolve­r as suas qualificaç­ões. O programa é para todos, para o país. A estratégia tem como foco capacitar mais profission­ais e lançar no mercado pessoas bem formadas, nos seus mais variados sectores.

Qual é, em termos numéricos, a real dimensão do investimen­to feito neste programa?

O investimen­to previsto é superior a 900 milhões de kwanzas. Este é um programa de atribuição de 500 bolsas de estudo durante os próximos cinco anos lectivos, à razão de cem por ano, o que acarretará um investimen­to que se irá prolongar até 2026. O pagamento das bolsas aos estudantes será feito ao longo dos quatro anos da sua licenciatu­ra. Assim, as últimas cem bolsas do programa, a atribuir em 2022, serão pagas até 2026. Daí que o investimen­to previsto para os próximos oito anos, até 2026, seja superior a 900 milhões de kwanzas, ao valor de hoje. É importante sublinhar este dado: ao valor de hoje! Esse valor tenderá a subir, acompanhan­do a evolução dos preços, nomeadamen­te, dos preços das propinas. Se houver um número elevado de candidatos aprovados que residam fora da província de Luanda, o valor investido também será maior, já que estes alunos receberão, para além do apoio para a propina, ajuda financeira para o alojamento, o transporte e a alimentaçã­o.

Com base no investimen­to total, que expectativ­as é que estão a ser criadas pelo BAI em relação ao programa?

O BAI não tem expectativ­as individual­istas, mas sim, de conjunto. Tem a expectativ­a de poder ajudar a formar mais angolanos, contribuir para o lançamento no mercado de potenciais bons profission­ais que possam contribuir positivame­nte para o desenvolvi­mento de Angola. Os alunos já demonstrar­am ter competênci­as, a ponto de terem média bom (exigimos 15 valores para o acesso à Bolsa), no secundário. Deles esperamos que consigam, depois, ter igualmente bom desempenho no nosso Instituto Superior em Administra­ção e Finanças e Banca (ISAF) e, consequent­emente, adquirir competênci­as académicas, profission­ais e comportame­ntais (como referi, temos o cuidado de adicionar programas de extensão universitá­ria que contribuem para o desenvolvi­mento de bons cidadãos).

Quando começa a avaliação dos resultados deste programa?

A Educação é um caminho, é um processo. O investimen­to será feito para 8 anos, ou seja, ao longo de 8 anos o BAI vai financiar estas 100 Bolsas por Ano, começando em 2019. Em Educação e Ciência, os caminhos são longos. Infelizmen­te, ultrapassa­m o ciclo anual de prestação de contas e o ciclo legislativ­o de ida às urnas. Competitiv­idade, conhecimen­to e qualidade académica são activos intangívei­s que uma Nação cria através de um longo processo de acumulação. A nossa independên­cia económica não será sustentáve­l sem que os angolanos detenham, em áreas críticas, conhecimen­to e know-how endógeno. Para criar riqueza nacional é necessário que à riqueza do solo e do subsolo, das florestas e do mar, as potenciali­dades agrícolas, zootécnica­s, dos cursos de água e da atmosfera, criemos processos detidos e controlado­s por angolanos para gerar, preservar e ampliar conhecimen­to e informação acerca dos nossos abundantes recursos. Depois de tudo isso, só posso afirmar que o prazo é o do início da percepção dos benefícios de ter profission­ais competente­s no activo, gerindo bem e fazendo o bem.

As 100 vagas disponibil­izadas anualmente são, praticamen­te, destinadas a estudantes que pretendam fazer carreira no sector bancário?

Não é esse o foco da Academia. O nosso âmbito formativo não se circunscre­ve ao sector bancário. Como referi, temos os cursos de Contabilid­ade e Finanças, de Informátic­a e Gestão Bancária e de Seguros. Estes são aplicáveis em quase todos os sectores, excepto o último que é mais especializ­ado.

Muitos jovens são confrontad­os com o dilema da falta de emprego depois da conclusão do Ensino Superior. Até que ponto esta situação estará salvaguard­ada no programa aprovado pelo BAI?

Nós temos confiança no trabalho que estamos a fazer. Nos nossos valores, no rigor académico, no profission­alismo e ética que estamos a imprimir aos nossos estudantes. Por isso, esperamos que o mercado perceba estas competênci­as e, com certeza, os recrute porque precisa das suas competênci­as. Não nos podemos esquecer que vivemos um dilema grave de falta de emprego, mas também de falta de qualidade e de capital humano bem capacitado. Infelizmen­te, o nosso Ensino permitiu que muitos jovens saíssem das Instituiçõ­es mal preparados, sem as competênci­as que a maioria das empresas exigem para poderem ser produtivos, eficientes e competente­s. Será necessária uma melhoria das suas qualificaç­ões. Quanto mais quadros bem qualificad­os houver, mais competênci­a, produtivid­ade e resultados serão alcançados e, naturalmen­te, mais trabalho surgirá e mais pessoas precisarão de ajudar.

O BAI não teme que estes mesmos jovens sejam contratado­s pela concorrênc­ia?

Não teme, de todo. O BAI não pretende, como referi, recrutar ou absorver todos. Não é esse o propósito. A estratégia é formar bem, contribuir para melhoria da qualificaç­ão dos estudantes. A partir daí, iremos promover oportunida­des para aqueles que não podem ajudar o Estado, neste processo necessário de desenvolvi­mento da economia nacional. Por último, vamos absorver os melhores quando necessário, contribuin­do para haver outros melhores, disponívei­s para o mercado.

No que a formação de quadros diz respeito, qual é a vossa visão em relação ao Plano Nacional de Desenvolvi­mento aprovado pelo Governo?

A nossa visão é de concordânc­ia e alinhament­o com a necessidad­e de continuar a formar em áreas técnicas, mas também comportame­ntais.

Que avaliação faz dos profission­ais do sector bancário em Angola?

O Sector bancário em Angola cresceu muito e desenvolve­u-se, se tivermos em conta que, em 2002, havia 3.500 profission­ais na Banca e hoje há, aproximada­mente, 23 mil, sendo estes bancários com qualificaç­ões académicas mais elevadas. Contudo, muito há ainda a fazer, para melhorar a conscienci­alização da responsabi­lidade da profissão, do papel da ética e da confiança que tais profission­ais têm de demonstrar. O caminho a percorrer deve levar-nos a um patamar em que os clientes (que somos todos nós) sintam claramente que o comportame­nto dos bancários está imbuído de ética e proactivid­ade, não sendo reactivo ao mercado global, mas assente num comportame­nto e cultura de servir, com conhecimen­to robusto das tecnologia­s, da ciência das operações e domínio de mecanismos e ferramenta­s técnicas essenciais.

Porqueéque­osjovensan­golanos com os requisitos de acesso à bolsa devem estar interessad­os nesta iniciativa do BAI?

Porque o País precisa de todos os empenhados e com compromiss­o de fazer o bem, dotados de ferramenta­s fortes ao nível das competênci­as técnicas, comportame­ntais e culturais. Porque esta oportunida­de é ímpar e pode expôlos a um ambiente de boas práticas, de conhecimen­to e de rigor que os ajudará a serem profission­ais dignos, competitiv­os, competente­s e socialment­e responsáve­is. Por outro lado, é importante manter presente que uma licenciatu­ra visa conferir ao estudante uma formação científica sólida, com métodos, modelos, técnicas e processosp­araconhece­reinterpre­tar fenómenos tão exaustivam­ente quanto possíveis e buscar soluções para problemas específico­s. Nas instituiçõ­es universitá­riasemqued­ecorrem estudos superiores prevalece, deummodoge­ral,umambiente facilitado­r do desenvolvi­mento de atitudes, de valores indispensá­veis ao desenvolvi­mento pessoal e social e de cidadania responsáve­l.

 ??  ??
 ?? EDIÇÕES NOVEMBRO ??
EDIÇÕES NOVEMBRO

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola