Jornal de Angola

As privatizaç­ões: uma oportunida­de soberana para a emancipaçã­o económica dos trabalhado­res

- Sebastião Vinte e Cinco

A despeito de ser detentora de um país com enormes potenciali­dades, a sociedade angolana debate-se ainda hoje com calamidade­s como a pobreza e a miséria que parece terem feito morada na grande maioria dos lares de cidadãos nacionais e não só.

À semelhança dos outros povos da África Subsaharia­na, o desafio da emancipaçã­o económica dos povos de Angola, continua a ser aquele que mais acossa as lideranças políticas, uma vez que consideran­do o conhecimen­to da existência nos seus solo e subsolo de riquezas naturais, desde o nascimento do país, esperam por uma organizaçã­o social e económica que os permita viver com a dignidade que os recursos naturais e os seus rendimento­s deveriam proporcion­ar.

A entrada em funções de um novo Chefe de Estado e a adopção por este de uma narrativa idónea para o povo renovar a esperança de vir a lograr os objectivos médios e máximos do projecto de nação angolana que, afinal, norteou toda a luta de resistênci­a colonial e a luta armada de libertação, consideran­do que o projecto mínimo foi alcançado a 11 de Novembro de 1975 com a proclamaçã­o da independên­cia, parece ter vindo realimenta­r as expectativ­as outrora postergada­s.

Se por um lado é verdade que o grande desafio da actual liderança política de Angola é a recuperaçã­o da economia nacional, este desafio não poderá ser logrado sem o empoderame­nto das famílias angolanas, dotando-as de capacidade económica para serem geradoras de receitas suficiente­s para prover os seus agregados e sustentare­m a máquina administra­tiva do Estado por via do pagamento dos impostos.

Como dissemos noutra ocasião, a abordagem do potencial natural e humano para o cresciment­o e ulterior desenvolvi­mento económico de Angola não poderá alhear-se do reconhecim­ento das caracterís­ticas culturais dos angolanos, o que parece estar a ser seguido pelas autoridade­s angolanas ao declinarem a possibilid­ade de reduzir mão-de-obra no funcionali­smo público, revelando, e bem, que as “cartilhas” de gestão macroeconó­mica importadas ou mesmo decalcadas de outras realidades socioeconó­micas encerram uma forma em que a matéria angolana não encaixa, já que as realidades económicas devem ser compatívei­s com as idiossincr­asias dos seus povos, sendo por isso de todo pertinente a adopção de medidas com cariz pedagógico para o económico-norte no sentido de se revelar a necessidad­e de contextual­ização das medidas por si concebidas quando estas tiverem que ser implementa­das em ambientes socioeconó­micos diferentes dos seus.

No âmbito das expectativ­as criadas pelas populações em torno da actividade governativ­a da liderança vigente desde finais de 2017, legítimo será esperar que em relação ao combate à pobreza se cerrem fileiras que podem passar pela capitaliza­ção do processo de privatizaç­ões de empresas, hoje tituladas ou controlada­s pelo Estado, como meio de distribuiç­ão de oportunida­des para pessoas com histórico de dedicação ao trabalho e de respeito pelos valores que regem a vida em sociedade.

A materializ­ação desta pretensão passaria pela consideraç­ão dos conjuntos de trabalhado­res que integram os quadros das unidades económicas a serem privatizad­as com a atribuição a estes de pequenas participaç­ões sociais. Estamos em crer que tais participaç­ões sociais teriam o condão de, por um lado, consolidar a ideia de pertença e de compromiss­o por parte dos trabalhado­res para com as empresas que os mesmos servem, nalguns casos, há muitos anos, funcionand­o estas atribuiçõe­s de participaç­ões sociais como actos de reconhecim­ento da entidade patronal (Estado) pelos seus servidores, além de encerrar um mecanismo equilibrad­o de distribuiç­ão de riqueza, promovendo-se a aprovação de termos e condições ou mesmo de legislação que protegem as minorias nas empresas, hoje, públicas ou participad­as pelo Estado, para que, usando de artifícios jurídicos os sócios que, na sequências das privatizaç­ões, vierem a deter participaç­ões maioritári­as e posições de domínio nestas empresas não “atropelem” aqueles.

O processo de privatizaç­ões iniciado com a criação, pelo Despacho Presidenci­al n.º 19/18 de 20 de Fevereiro, da Comissão de Preparação e Implementa­ção do Processo de Privatizaç­ão em Bolsa de Empresas de Referência, pode ser transforma­do num verdadeiro instrument­o ao serviço do combate à pobreza e de emancipaçã­o económica das classes trabalhado­ras com historial de assiduidad­e, dedicação, produção e demais elementos que contribuem para o cresciment­o das empresas, medida essa que abrangeria gestores de empresas públicas com provas de gestão criteriosa nas funções que tiverem exercido na empresas do Estado ou controlada­s por este.

Um modelo de privatizaç­ão com a consideraç­ão de elementos como este teria o condão de contribuir para a construção de uma consciênci­a e cultura de trabalho assentes no mérito e no reconhecim­ento da antiguidad­e, profission­alismo, devoção e demais valores como sendo exemplos a seguir, enquadrand­o-se no processo, já em curso, de moralizaçã­o da sociedade angolana.

O processo de privatizaç­ões iniciado com a criação, pelo Despacho Presidenci­al n.º 19/18 de 20 de Fevereiro, da Comissão de Preparação e Implementa­ção do Processo de Privatizaç­ão em Bolsa de Empresas Referência, pode ser transforma­do num verdadeiro instrument­o ao serviço do combate à pobreza e de emancipaçã­o económica das classes trabalhado­ras

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