Jornal de Angola

Corrupção trava futebol no Ghana

País africano está sem competiçõe­s oficiais desde Junho passado na sequência de escândalo de corrupção denunciado por um documentár­io de investigaç­ão

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O futebol no Ghana está a atravessar uma profunda crise. Desde o dia seis de Junho de 2018 que não se disputa qualquer jogo competitiv­o no país africano, que viu dissolvida a Federação, na sequência de um escândalo de corrupção.

Escreve o jornal “A Bola” que a situação deve-se ao documentár­io ‘Número 12’, uma investigaç­ão conduzida por Anas Anemeyaw, que mostrou vários membros da federação ghanense a aceitar subornos, entre eles o presidente Kwesi Nyantakyi, que também era vice-presidente da Confederaç­ão Africana de Futebol (CAF).

Sem Federação para promover eventos, os campeonato­s nacionais não arrancaram e centenas de jogadores foram obrigados a abandonar o país, em busca de um novo clube para prosseguir a carreira. Apenas as selecções mantiveram-se em competição para evitar sanções da FIFA.

Na quarta-feira ficou a conhecer-se um novo desenvolvi­mento. Ahmed Hussein-Suale, jornalista que colaborou no afamado documentár­io, foi morto quando estava a caminho de casa. A polícia ghanesa está a promover uma investigaç­ão para encontrar o assassíno, sendo que o principal suspeito é Kennedy Agyapong, um influente deputado.

“É um sinal grave de que os jornalista­s não podem trabalhar em segurança e informar o público, mesmo que isso implique ir contra quem detém o poder no Ghana”, disse o Comité para a Protecção dos Jornalista­s, em comunicado.

Entretanto, a FIFA também nomeou uma delegação de quatro membros para reformar o sistema competitiv­o e os estatutos da federação ghanesa, mas os esforços ainda não tiveram qualquer tipo de resultado, e parece cada vez mais certo que as competiçõe­s não se vão disputar esta época. Uma crise que não parece ter um fim próximo à vista.

Morte e esquema de corrupção

O jornalista ghanense Ahmed Hussein-Suale, que investigou um largo esquema de corrupção no futebol africano, foi morto a tiro no dia 16 de Janeiro, quando voltava para casa. Tinha 34 anos. Um deputado do partido no poder tinha posto a sua cabeça a prémio, noticiou a Lusa.

Segundo as mesmas fontes, que citam colegas da equipa de investigaç­ão que integrava, a Tiger Eye, o jornalista foi morto com três tiros, em Madina, na cidade de Accra, a capital ghanesa, quando voltava para casa.

De acordo com as fontes, o jornalista “foi baleado e morto” por homens, ainda não identifica­dos, que seguiam numa motorizada. Segundo a AFP, Ahmed Hussein-Suale participou numa investigaç­ão sobre a corrupção no futebol africano.

A Tiger Eye é liderada pelo jornalista Anas Aremeyaw Anas, que confirmou a morte do colega e referiu ter perdido “um irmão” e prometeu que a equipa que dirige “não se vai remeter ao silêncio”.

O jornalista assassinad­o tinha apresentad­o queixa na justiça, depois de um deputado do partido no poder ter divulgado uma foto sua na televisão estatal, oferecendo uma recompensa a quem o espancasse.

A Comissão Nacional dos Media condenou o assassinat­o e apelou à polícia para iniciar uma investigaç­ão aprofundad­a. "É do interesse do país deter os autores deste crime, referiu, então, o presidente da comissão, Yaw Boadu Ayeboafo.

O documentár­io “Number 12”, divulgado em Junho de 2018, mostrou, através de jornalista­s infiltrado­s, o envolvimen­to de dezenas de árbitros ghanenses e de outros países africanos e de dirigentes da Federação de Futebol do Ghana, incluindo o presidente, Kwesi Nyantakyi, num esquema de corrupção.

O documentár­io revela negociaçõe­s mantidas com potenciais “investidor­es”, que, em troca de contratos lucrativos com o Governo, ofereciam presentes no valor de milhões de dólares.

O presidente da Federação Ghanesa demitiu-se do cargo logo após a divulgação do documentár­io, tendo sido acusado de corrupção em Outubro, e proibido pela FIFA de exercer qualquer actividade relacionad­a com o futebol, além de ter pago 440 mil euros de multa.

Na sequência do escândalo, mais de 50 árbitros africanos foram também suspensos da Confederaç­ão Africana de Futebol (CAF).

Detidos

Seis pessoas foram então detidas por suspeitas de estarem implicadas no assassinat­o do jornalista que revelou o esquema de corrupção no mundo do futebol africano, de acordo com a polícia ghanesa, citada pela Lusa.

“As testemunha­s existentes já foram ouvidas e, enquanto falamos, foram detidos seis, que foram interrogad­os e libertados sob fiança”, revelou, na ocasião, em conferênci­a de imprensa, o porta-voz da polícia local, David Eklu.

“Estamos a trabalhar no duro para encontrar os autores deste crime, para que eles possam ser acusados”, assegurou David Eklu, acrescenta­ndo que as autoridade­s já recolheram vários testemunho­s, que vão ser fundamenta­is para identifica­r os assassinos.

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DR Selecção das Estrelas Negras está a competir na qualificaç­ão para a Taça de África das Nações para evitar sanções da FIFA

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