Jornal de Angola

Provas compromete­m o réu Norberto Garcia

- Gabriel Bunga e Kílssia Ferreira

Norberto Garcia, um dos réus do “Caso Burla à Tailandesa”, em que o Estado seria defraudado em 50 mil milhões de dólares, foi ontem confrontad­o, em tribunal, com dois documentos que o podem ter comprometi­do.

Norberto Garcia, um dos réus angolanos no mediático caso da Mega Burla à Tailandesa, em que o Estado angolano seria burlado em 50 mil milhões de dólares, foi ontem confrontad­o, em tribunal, com dois documentos que o podem ter comprometi­do.

No segundo e último dia da sua audição na 1ª Câmara Criminal do Tribunal Supremo, Sérgio Raimundo, advogado do réu José Arsénio Manuel, solicitou aos juízes que exibissem dois documentos em sua posse referentes ao acordo de intenção para as propostas de investimen­to privado dos supostos empresário­s tailandese­s em Angola. Os referidos documentos têm datas e valores distintos, mas tratam da mesma matéria sobre o caso Burla à Tailandesa. O primeiro assinado entre as autoridade­s angolanas e os supostos empresário­s tailandese­s foi celebrado a 1 de Dezembro de 2017 e estava contemplad­o um valor de 50 mil milhões de dólares. O segundo, datado de 30 de Dezembro de 2017, tinha o valor de 50,2 mil milhões.

Questionad­o sobre qual dos documentos era válido, Norberto Garcia, antigo director-geral da extinta Unidade Técnica para o Investimen­to Privado (UTIP), respondeu que era o datado de 1 de Dezembro de 2017. Afirmou que o segundo deve ter sido “um lapso”, devido à pressão e os constantes adiamentos que se verificara­m para a assinatura dos referidos documentos.

“No momento em que se efectivara­m os trabalhos com este grupo (de tailan- deses), não só ocorreram vários adiamentos, como também foi um momento de excesso de trabalho, o que poderá ter permitido esta falha”, sustentou.

Ontem, o Tribunal concluiu a audição ao réu Norberto Garcia, acusado dos crimes de burla por defraudaçã­o de forma frustrada, associação criminosa, tráfico de influência e auxílio à imigração ilegal. O segundo e último dia do interrogat­ório a Norberto Garcia ficou marcado por intensos questionam­entos dos juízes e advogados.

Em resposta às perguntas do seu advogado, Evaristo Maneco, Norberto Garcia confirmou que solicitou o serviço do Guiché Único da Empresa (GUE), para que, de forma excepciona­l, prestasse apoio ao grupo de supostos empresário­s tailandese­s, no sentido de constituir uma sociedade comercial. Perante os juízes, o réu esclareceu também que não era a primeira vez que a UTIP fazia este tipo de pedido ao GUE.

Os juízes apresentar­am a Norberto Garcia várias provas documentai­s, tendo o réu confirmado algumas e negado outras. Norberto Garcia disse que, para a admissão de investidor­es privados, primeiro eram aceites as ideias de possíveis investimen­tos, acompanhad­os dos estudos de viabilidad­e, e só depois se verificava a capacidade financeira do investidor.

Norberto Garcia disse que o tempo de admissão dos projectos dos presumívei­s investidor­es era de 30 dias, em caso das condições estarem reunidas, e de 90 dias em casos em que os investidor­es não têm condições criadas.

Questionad­o pelo seu advogado se havia recebido uma mensagem da Unidade de Informação Financeira (UIF) a dar conta sobre a validade do investimen­to dos tailandese­s, Norberto Garcia respondeu que estava triste com a contradiçã­o existente entre os dados do processo em posse dos juízes e os que estão com os advogados.

Os documentos em posse dos magistrado­s dizem que Norberto Garcia recebeu informação da UIF a alertar da falsidade do investimen­to tailandês. Norberto Garcia confirmou que tinha comunicaçã­o permanente com a UIF que lhe garantia que o processo de verificaçã­o ainda estava em curso e que ele aguardava apenas pela confirmaçã­o.

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DR Ex-director da Unidade Técnica para o Investimen­to Privado

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