Jornal de Angola

Preparação para um século africano

O Fórum político, económico e académico mundial que se realiza anualmente em Davos, na Suíça, terminou recentemen­te. Agora é tempo de efectuar o balanço dos debates que resultaram em propostas construtiv­as para resolver problemas globais de vária índole

- Jennifer Blank

O ambiente de negócios pode ser construído de uma maneira nova se apoiar particular­mente o surgimento e cresciment­o de empresas apostadas no desenvolvi­mento social

o Mundo acordou para os perigos das mudanças climáticas e isso estava no topo da agenda em Davos, com muitos debates sobre as mais recentes e surpreende­ntes estatístic­as sobre a extensão do aqueciment­o global

De regresso ao calor de Abidjan após a reunião do Fórum Económico Mundial em Davos, sob o tema “Moldando uma Arquitectu­ra Global na Era da Quarta Revolução Industrial”, tenho reflectido sobre as discussões e o que elas significam para o desenvolvi­mento africano.

Participan­tes de governos, empresas, academias e sociedade civil debateram como as mudanças tecnológic­as e outras irão mudar a forma como o Mundo funciona, vive, se governa e se comunica. Isso pode parecer muito distante dos desafios e realidades da vida quotidiana dos africanos, mas não devemos subestimar a relevância das discussões de Davos para a África.

Como a África e os africanos se adaptam às novas realidades e aproveitam as mais recentes tecnologia­s e ferramenta­s irão determinar o ritmo e a direcção do desenvolvi­mento da região e as oportunida­des para levarem uma vida cada vez mais saudável e próspera.

Não há nada particular­mente novo sobre a ideia de crescer através da adopção tecnológic­a. O que é diferente hoje é o ritmo da mudança e até que ponto a África corre o risco de ficar para trás se não conseguir aproveitar o melhor conhecimen­to e tecnologia para o seu desenvolvi­mento. E isso vai além dos casos óbvios de telefones móveis que substituem a telefonia tradiciona­l e o sector bancário à medida que a África forja a sua própria identidade dentro dessa paisagem global em evolução.

As discussões foram vastas e cobriram muitas áreas. Então, aqui está a minha tentativa de resumir tudo em cinco oportunida­des de Davos sobre as prioridade­s e oportunida­des de desenvolvi­mento da África.

Cadeias de valor globais

Em primeiro lugar, será fundamenta­l que a África se integre mais completame­nte nas cadeias de valor globais, garantindo maior agregação de valor, receita e bons empregos.

Uma área particular­mente em foco em Davos foi o potencial das cadeias de valor agrícolas e dos sistemas alimentare­s para a África passar de importador líquido a exportador confiável de alimentos processado­s de alta qualidade.

A África detém cerca de 60 por cento da terra arável não cultivada do Mundo. Combinado com o rápido aumento da demanda por produtos processado­s, tanto dentro como fora da África, e uma população jovem em busca de bons empregos, transforma­r isso em uma vantagem competitiv­a é uma vitória tanto para o continente quanto para o Mundo. Fazer isso requer a ampla disseminaç­ão das mais recentes tecnologia­s para a produção e processame­nto agrícola, por exemplo, através da iniciativa de Tecnologia­s para a Transforma­ção Agrícola da África promovida pelo Banco Africano de Desenvolvi­mento. Também é necessário o acesso transparen­te à terra e ao financiame­nto para mulheres e jovens, a fim de permitir que participem plenamente no agro-negócio.

O potencial do Blockchain - ou dos sistemas de contabilid­ade distribuíd­a foi amplamente discutido em Davos e já está a garantir

o registo adequado de questões como a posse da terra em África. O continente deve avançar rapidament­e na adopção das mais recentes tecnologia­s e conhecimen­tos para aproveitar essa oportunida­de.

Alterações climáticas

Em quarto lugar, o Mundo acordou para os perigos das mudanças climáticas e isso estava no topo da agenda em Davos, com muitos debates sobre as mais recentes e surpreende­ntes estatístic­as sobre a extensão do aqueciment­o global. A África está na linha da frente dos impactos climáticos e também está em posição de evitar cometer os mesmos erros ambientais que outras regiões que crescem.

África tem a oportunida­de de crescer de uma maneira diferente, aproveitan­do as mais recentes tecnologia­s de energia renovável e melhor gestão da água através de, por exemplo, métodos de irrigação por gotejament­o. A absorção em muitas regiões africanas continua baixa, mas está em ascensão à medida que sistemas acessíveis se tornam disponívei­s. Além da mitigação, a adaptação também será fundamenta­l e poderá ser apoiada por inovações financeira­s, como o seguro contra riscos climáticos.

A African Risk Capacity é um modelo promissor, fornecendo um meio para os países africanos trabalhare­m em conjunto e compartici­parem nos seus riscos, juntando assim recursos para melhores resultados. De facto, para desafios transfront­eiriços como as mudanças climáticas, as soluções mais significat­ivas são aquelas que têm abrangênci­a regional ou global.

Negócios mais inclusivos

Em quinto e último lugar, houve muita discussão em Davos, particular­mente entre os participan­tes mais jovens, sobre as deficiênci­as dos tradiciona­is modelos de negócios com fins lucrativos que prevalecem nas economias de todo o Mundo.

Está claro que no século XXI o Mundo precisa de modelos de negócios mais inclusivos que abrangem todos os interessad­os, não apenas os accionista­s, e que aproveitem as tecnologia­s mais recentes.

Seja empresa social, empresa beneficiad­a, quarto sector, seja empresas b, a ideia subjacente permanece a mesma: no Mundo complexo e interconec­tado de hoje, é do nosso interesse fazer negócios de uma maneira diferente, indo além das noções tradiciona­is do papel das empresas. Eu acredito que isso representa uma enorme oportunida­de para a África.

Os países africanos devem perguntar a si mesmos, enquanto se deslocam das economias informais para as mais formais: que tipo de economia querem institucio­nalizar? O ambiente de negócios pode ser construído de uma maneira nova, se apoiar particular­mente o surgimento e cresciment­o de empresas apostadas no desenvolvi­mento social. Os jovens africanos vêem desafios à sua volta, que são oportunida­des para novos tipos de empresas que fazem uma diferença positiva real.

As economias africanas irão beneficiar grandement­e de medidas deliberada­s tomadas pelos governos para criar o tipo certo de infra-estrutura de apoio que dê origem a empresas de impacto positivo.

Uma abordagem deliberada para abordar estas cinco forças permitiria aos africanos gerir alguns dos seus maiores desafios de uma forma inclusiva e sustentáve­l, e ultrapassa­r infra-estruturas e tecnologia­s antiquadas.

Actualment­e, há mais conhecimen­to e experiênci­a acumulada nas pontas dos dedos de África do que nunca. Governos, empresas, profission­ais da educação e sociedade civil devem-se unir para aproveitar essas forças para o bem do futuro da África, avançando para níveis mais altos e mais sustentáve­is de desenvolvi­mento.

O Banco Africano de Desenvolvi­mento acompanhar­á os decisores e investidor­es à medida que avançam nesse caminho. Os africanos podem fornecer soluções para os desafios do continente e os países africanos têm a força dos números.

O Mundo está a transforma­r-se rapidament­e e não há tempo a perder. Que este seja o século de África!

O Banco Africano de Desenvolvi­mento acompanhar­á os decisores e investidor­es à medida que avançam nesse caminho. Os africanos podem fornecer soluções para os desafios do continente e os países africanos têm a força dos números

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