CARTAS DOS LEITORES
Gastos militares
O Estado deve continuar a gastar o suficiente para manter Angola como um país que pode repelir toda e qualquer tentativa de subversão armada. Aliás, socorrendo-me do determinismo geográfico de Ratzel, olhando para a configuração de Angola, o nosso país não pode ficar sem forças armadas, nos seus três ramos, capazes e à altura dos desafios que o país enfrenta. Muitos defendem que o país deve reduzir as suas despesas militares e é compreensível que assim o façam, mas a realidade tem provado que os países que melhor usufruem da paz são aqueles que se preparam para a guerra. O provérbio latino “Si vis pacem, para bellum” é disso um corolário, razão pela qual não vale a pena torcer para que as despesas militares baixem.
Na verdade, precisamos de as ver aumentadas porque as nossas forças armadas precisam de estar bem preparadas para melhor responderem aos desafios actuais e futuros. Temos uma região calma, com países vizinhos comprometidos com a paz e a estabilidade, mas não sabemos o que o futuro nos reserva. E entre os desafios estão as questões de natureza não militares, como as calamidades naturais e os processos de manutenção da paz.
Redes sociais
Diz-se que as instituições do Estado devem ser proactivas ao reagir às notícias contra as mesmas na redes sociais. Sobretudo quando se difundem mentiras envolvendo as entidades governamentais, governos provinciais, as administrações e demais entes públicos. Sou de opinião de que não se deve fazer isso como uma prática, sob pena de as instituições não passarem a fazer mais nada senão responderem por tudo quanto seja informação maliciosa nas redes sociais. Devem ter uma outra estratégia, consubstanciada na educação e sensibilização das pessoas e parceiros dessas mesmas instituições de que devem sempre fazer prova do que ouvem junto dos entes públicos. Há dias, um malfeitor ou um grupo de “malandros informáticos” disseminou pelas redes sociais a mudança colossal do mapa de emolumentos do Estado para o tratamento de documentos como bilhete de identidade, cédulas, assentos, boletins de óbito e outros. Muitos acreditaram, mas alguns mais prudentes deram conta de que se tratava de uma provocação porque nunca o Estado ia cobrar 14 mil kwanzas por um assento de nascimento ou 9.000 kwanzas para tratar do bilhete de identidade. Por isso, em vez de as instituições irem atrás do prejuízo, como se diz na gíria, vale insistir junto dos cidadãos que devem fazer prova da veracidade das informações que recebem ouvindo as entidades oficiais, em vez do “ouvir dizer”.
Processo de urbanização
Muito já se disse e se escreveu sobre o êxodo rural, um fenómeno universal de que Angola não está isenta. Actualmente a maioria da população vive nas zonas urbanas e esse movimento tende a continuar a crescer. Fico preocupado quando todo o mundo parece estar a deixar o campo em direcção às cidades. Onde vivo e em função de relatos de famílias de outras paragens, dou conta de que há um movimento preocupante de pessoas em direcção às zonas urbanas. Acho que a ausência de mecanismos de equilíbrios pode resultar em situações menos boas e mesmo problemáticas para o presente momento em que pretendemos uma interacção saudável e equilibrada entre o campo e as cidades. Em minha opinião, o processo de urbanização das cidades em Angola constitui uma vantagem, mas igualmente uma desvantagem. Se o movimento de pessoas saídas das zonas rurais para as cidades continuar, vamos enfrentar uma fraca presença de mão-de-obra para os campos e outras ocupações existentes nas zonas rurais. Não podemos perder de vista a relação de complementaridade entre aqueles dois segmentos. Embora seja verdade que melhores oportunidades, sobretudo para os jovens, são encontradas em maior número nas zonas urbanas, não é sustentável a continuação deste estado de coisas.
As zonas urbanas não podem suportar este movimento contínuo de populações que se deslocam, não raras vezes, para se dedicarem a actividades precárias ou caírem na mendicidade.