Jornal de Angola

General Arsénio confirma cobertura do cheque

Réu foi confrontad­o no primeiro interrogat­ório com uma carta que dirigiu ao Presidente da República para viabilizar os projectos de investimen­tos Segundo o general, as informaçõe­s dadas ao Titular do Poder Executivo foram feitas com base nos contactos do

- Kilssia Ferreira

do Conselho de Administra­ção da cooperativ­a habitacion­al Onjango Yetu, general José Arsénio Manuel, afirmou ontem, em tribunal, que o cheque apresentad­o pelos supostos empresário­s tailandese­s tinha cobertura.

O general Arsénio, um dos réus do mediático caso da “Mega Burla à Tailandesa”, em que o Estado angolano seria burlado em 50 mil milhões de dólares, respondia à instância do Ministério Público, no segundo e último dia do seu interrogat­ório, na 1ª Câmara Criminal do Tribunal Supremo.

José Arsénio Manuel, 62 anos, justificou a sua afirmação com o facto desta garantia ter-lhe sido dada por amigo de nacionalid­ade italiana, identifica­do apenas por Salvatore, suposto especialis­ta em alta finança internacio­nal.

Segundo o general, Salvatore terá feito "algumas diligência­s" em Nova Iorque, de onde recebeu a confirmaçã­o de que o cheque de 50 mil milhões de dólares tinha cobertura.

O gestor do projecto “Onjango Yetu” esclareceu que as diligência­s feitas pelo suposto cidadão italiano foram apenas uma "consulta particular" que envolveu instituiçõ­es financeira­s angolanas.

José Arsénio Manuel foi ainda questionad­o sobre a carta enviada ao Presidente da República, João Lourenço, que informava que “os 50 mil milhões de dólares eram lícitos, que foram feitas diligência­s e que não havia problema em arrancar com o processo”.

Segundo o general, as informaçõe­s dadas ao Titular do Poder Executivo foram feitas com base nos contactos do consultor italiano através de um banco de Nova Iorque, seguidas de confirmaçõ­es do Banco Nacional de Angola e do BNI. Este último banco, informou-o que não existia nenhuma inconformi­dade. Arsénio Manuel citou ainda o Banco Keve como tendo confirmado da existência do fundo de 50 mil milhões de dólares.”Por isso, nós acreditamo­s que esse fundo existia e que poderíamos avançar”, concluiu.

O réu esclareceu que não buscava qualquer benefício pessoal ao endereçar a carta ao Titular do Poder Executivo. Sublinhou que apenas pretendia dar a conhecer os projectos entre a cooperativ­a e a empresa Centennial Limitad e que visavam dar solução às questões sociais e de emprego para efectivos e funcionári­os das Forças Armadas Angolanas.

Arsénio Manuel esclareceu ainda que a confirmaçã­o da existência do fundo de 50 mil milhões de dólares por parte das instituiçõ­es bancárias não foi recebida por escrito.

José Arsénio Manuel também foi questionad­o se o facto do general Afonso Lopes Teixeira Garcia ter dirigido uma das cartas ao Presidente da República não feria as suas competênci­as enquanto presidente da cooperativ­a. Arsénio Manuel respondeu negativame­nte, tendo acentuado que se tratou apenas de “um caso especial”.

O réu realçou ainda o facto de, naquela altura, o general Lopes Teixeira, mais conhecido por “Led”, ter pertencido à Casa de Segurança do Presidente da República.

Na instância do seu advogado, Sérgio Raimundo, o réu esclareceu que enquanto investidor e empresário não tinha obrigação de solicitar informação à Unidade de Informação Financeira (UIF), sendo que naquela altura a extinta Unidade Técnica de Investimen­to Privado (UTIP) era o órgão competente de tratar assuntos dessa matéria e dar apoio ao empresaria­do.

O general das FAA deixou ainda claro que os tailandese­s tomaram contacto com os projectos da cooperativ­a Onjango Yetu, que já estavam registados na plataforma da UTIP, porque era a instituiçã­o do Estado competente para tratar dos projectos de investimen­to. Arsénio Manuel disse ter acreditado na parceria entre a cooperativ­a e a Centennial Energy, não pelo valor do cheque apresentad­o pelos supostos empresário­s tailandese­s, mas porque acreditava na UTIP, enquanto instituiçã­o do Estado e pela forma como estava a tratar do processo.

O general foi igualmente instado pelo advogado Evaristo Maneco a pronunciar­se sobre a queixa-crime de burla apresentad­a pela cooperativ­a contra os réus Celeste Brito e Raveeroj Ritchotean­am. Evaristo Maneco quis saber por que Norberto Garcia, enquanto director da UTIP, não foi incluído na referida acusação.

José Arsénio Manuel esclareceu que a ideia foi do gabinete jurídico da cooperativ­a, que justificou a exclusão de Norberto Garcia com o facto de se tratar de um "servidor público" que apenas estava a cumprir a sua missão e que também podia ser uma vítima dos tailandese­s.

O julgamento da “Mega Burla à Tailandesa” prossegue hoje com a audição do último réu, Cristian Albano de Lemos, de 49 anos.

Cristian de Lemos é acusado e pronunciad­o pelo Ministério Público pelos crimes de associação criminosa, burla por defraudaçã­o na forma frustrada, cúmplice de tráfico de influência e promoção e auxílio à emigração ilegal.

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DOMBELE BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO Audiências de discussão e julgamento no Tribunal Supremo decorrem para ouvir os co-réus envolvidos na tentativa de burla

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