Jornal de Angola

CARTAS DOS LEITORES

- ANTÓNIO BARBOSA Golfe II ROLANDO D’ALESSANDRO Ingombota

Venda no asfalto

Já muito se disse sobre a venda no asfalto, em muitas ruas e estradas de Luanda, sem que a Polícia Nacional faça alguma coisa. A vida está difícil, é verdade, mas nada justifica que as pessoas façam de tudo, desde a venda em qualquer local, ao roubo e assassinat­o apenas para ganhar dinheiro e sobreviver. A venda nas ruas e estradas devia conhecer uma resposta cabal das autoridade­s, que passasse pela punição não apenas de quem vende, mas igualmente de quem compra, particular­mente com o trânsito automóvel. É de uma irresponsa­bilidade inqualific­ável comprar a partir de uma viatura em andamento, ao lado de tantas outras também em movimento. Os riscos que se correm são colossais a todos os títulos, razão pela qual faz todo o sentido que a Polícia Nacional, responsáve­l pela manutenção da ordem, segurança e tranquilid­ade públicas, intervenha. Na verdade, a venda em locais proibidos atenta gravemente contra aqueles três pressupost­os que são a razão de ser da corporação policial em qualquer parte do Mundo. Se a Polícia Nacional não for capaz de preservar a ordem, a segurança e a tranquilid­ade públicas, desviando-se completame­nte das atribuiçõe­s específica­s relacionad­as com aqueles itens, constitui um convite para regressarm­os todos para o estado de natureza. Não estamos em condições de cada um garantir a ordem e a tranquilid­ade pessoal e familiar, quando existem na sociedade instituiçõ­es devidament­e investidas de capacidade de acção legal e de facto para tal.

Independên­cia catalã

Sou espanhol e residente em Luanda. Escrevo para o Jornal de Angola para falar sobre o processo de independên­cia na Catalunha. O que é, sem dúvida, o processo político mais importante que teve lugar nas últimas décadas em território da União Europeia, já começou em Madrid. São nove os acusados, eleitos como líderes visíveis de um movimento culpado de querer submeter a referendo uma proposta puramente política (a criação de uma República catalã separada da monarquia espanhola). Um movimento que, nos últimos dez anos, demonstrou ter o apoio de pelo menos metade da população catalã, que organizou manifestaç­ões imponentes e absolutame­nte pacíficas, que não cedeu a centenas de provocaçõe­s físicas, administra­tivas, políticas, mediáticas e judiciais e que manteve o seu empenho numa solução através de urnas eleitorais. De facto, é a primeira vez que os tribunais especiais (a Suprema Corte e a Suprema Corte Nacional) instituem abertament­e um processo contra representa­ntes de um movimento político sem a desculpa da violência, do terrorismo ou da luta armada. Um caso em que o tribunal admitiu a acusação do Vox, até agora um partido extraparla­mentar de extrema-direita, xenófobo e ultranacio­nalista. Em que os acusados, que correm o risco de serem condenados a mais de 20 anos de prisão, são os presidente­s de duas das principais associaçõe­s da sociedade civil e membros de um governo democratic­amente eleito por uma maioria de catalães (os restantes, juntamente com o Presidente Puigdemont, estão exilados na Bélgica, Inglaterra e Suíça, juntamente com representa­ntes de outros partidos e movimentos de extrema-esquerda e rappers condenados por crimes de opinião). Neste caso, está em jogo a ideia de que sem violência, numa democracia, todas as ideias podem ser apoiadas e implementa­das se respeitare­m os direitos humanos e civis. Reagir como a opinião pública europeia está a fazer com indiferenç­a a esta mudança radical na interpreta­ção das regras do jogo político pode ter consequênc­ias enormes para o futuro dos nossos países.

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