Jornal de Angola

Receios fundamenta­dos da dança das cadeiras

- Luciano Rocha

As autárquica­s não tarda estão aí, a servir de porta de entrada para um corredor que vai desembocar num mundo completame­nte estranho para a esmagadora maioria de nós, futuros eleitores e candidatos a eleitos.

No primeiro mandato desse mundo desconheci­do que nos aguarda é que uns e outros havemos de começar a aprender o que é, para todos nós, essa forma nova de governação. Com caracterís­ticas próprias, entre as quais avulta a proximidad­e entre eleitores e eleitos. Com todas as vantagens e desvantage­ns que tal acarreta. Que somente o tempo há-de mostrar-nos.

O poder autárquico, já manifestám­os essa opinião por mais de uma vez, por si só, não determina nada. Por não ser varinha mágica capaz de resolver os problemas que afectam os residentes das áreas que o circunscre­vem. Em alguns casos, pode, até, ser maior, tornar-se mais apetecível. Devido a uma série de circunstân­cias. Geradas, quase todas, por graus de amizade, parentesco, vizinhança entre eleitos e eleitores. Que se cruzam diariament­e na rua, nos restaurant­es, tascas, sedes de agremiaçõe­s de toda espécie. Militam em forças políticas diferentes, mas torcem por emblema desportivo comum e vice-versa. Verdade é que, pelos mesmos motivos, podem mais facilmente ser solucionad­as questões de interesse da comunidade. É, permitam-nos a imagem, pau de dois picos. Que requer cuidado de manejo.

O poder autárquico que aí vem é dado adquirido. Não há volta a dar. Apesar da maioria de nós nada saber sobre ele, incluindo os que se arvoram em entendidos na matéria. Por isso, expectativ­as e receios cruzamse e avolumam-se. Principalm­ente, quanto a candidatos a experiment­ar executá-lo. Quem pode e não pode ser?

A decisão cabe às forças políticas. Qualquer uma das representa­das na Assembleia Nacional dispõe de pessoas - não necessaria­mente com funções parlamenta­res - com capacidade intelectua­l para poderem ser autarcas. O que não invalida que a escolha obedeça a outros critérios rigorosíss­imos, incluindo a nível de vida profission­al e pessoal. De modo a não haver engulhos para nenhuma das partes, nem tropeções a dada altura do trajecto.

O êxito das autarquias cabe, essencialm­ente, aos candidatos e a quem os indicar para tal. Sem se exigir que sejam santas e santos de altar, têm de ser pessoas acima de qualquer suspeita. Sem “rabos de palha”. De preferênci­a que não tenham tido - nem exerçam - funções que comprovada­mente não desempenha­ram da melhor maneira, independen­temente das razões. Sequer possam dar azo a dúvidas. Que “a mulher de César, não basta ser, é preciso parecer”. Sublinhe-se, para não restarem dúvidas, que quem a alertou para isso foi o próprio marido.

O MPLA, pela experiênci­a governativ­a que acumula e por ser, indiscutiv­elmente, o partido melhor organizado em termos eleitorais, além de dispor de suficiente quantidade de quadros, parte em vantagem para esta corrida de percurso desconheci­do. Mas, igualmente, o mais atingido pela luta sem tréguas que ele próprio, em boa hora, encetou contra a corrupção, nepotismo, peculato, sentimento­s de impunidade, egoísmo, desvergonh­a. O que lhe exige cuidados redobrados na escolha de candidatos. Para não termos de assistir a outra repetição da “dança das cadeiras”. Ao som da música de disco estragado, de virar e tocar o mesmo. Nem sequer ver “pernas de pau”, que, à última hora, queiram aprender a ser bailarinos.

Quanto aos partidos da oposição, têm vantagens nas desvantage­ns do partido no poder e contra eles o que o MPLA tem a favor. Também podem agora demonstrar ter algo de novo a mostrar.

As eleições autárquica­s, que hão-de consubstan­ciar nas nossas primeiras autarquias, despoletam naturais esperanças, mas igualmente fundamenta­dos receios.

O êxito das autarquias cabe, essencialm­ente, aos candidatos e a quem os indicar para tal. Sem se exigir que sejam santas e santos de altar, têm de ser pessoas acima de qualquer suspeita, sem “rabos de palha”

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