Jornal de Angola

Advogados sem verbas para assistênci­a judiciária

A organizaçã­o profission­al diz não receber do Estado, há mais de três anos, verbas para a assistênci­a judiciária, que é prestada aos cidadãos que têm baixos rendimento­s mensais

- Nhuca Júnior

da Ordem dos Advogados de Angola, Luís Paulo Monteiro, manifestou, ontem, indignação por a instituiçã­o não receber valores monetários para a assistênci­a judiciária há mais de três anos, um incumprime­nto do Estado que “onera os advogados desnecessa­riamente”.

Luís Paulo Monteiro manifestou a sua indignação quando falava ao Jornal de

Angola depois de ter publicado um texto, quinta-feira, na sua página oficial no Facebook, no qual informou terem sido assistidos pela Ordem dos Advogados 3.200 cidadãos com rendimento­s mensais inferiores a 60 mil kwanzas em 2018, ano em que o Estado não disponibil­izou verbas para a assistênci­a judiciária e o patrocínio judicial.

No texto, o bastonário disse que, apesar de não ter havido verbas, a Ordem dos Advogados de Angola “organizou e confiou a defesa dos direitos e garantias fundamenta­is dos cidadãos carenciado­s aos advogados e advogados estagiário­s, que, sem olharem a meios, defenderam os cidadãos”.

Devido à importânci­a para a sociedade do teor do texto de Luís Paulo Monteiro publicado no Facebook, o Jornal de Angola enviou para ele, pelo WhatsApp, um questionár­io com 14 perguntas, respondida­s no mesmo dia pelo bastonário, a partir da província do Namibe, onde se encontrava em visita de trabalho.

“A Ordem dos Advogados não recebe valores monetários para a assistênci­a judiciária há mais de três anos, não obstante, em todos os OGE, constarem verbas para esse fim”, acentuou o bastonário Luís Paulo Monteiro, que disse ser responsabi­lidade constituci­onal da Ordem dos Advogados a assistênci­a judiciária e o patrocínio judicial, tarefa prevista no artigo 195 da Constituiç­ão da República de Angola.

Quando é feita a lei do Orçamento Geral do Estado, a cabimentaç­ão para a rubrica referente à assistênci­a judiciária e ao patrocínio judicial é feita para o Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos, cujo montante este departamen­to ministeria­l deveria transferir para a Ordem dos Advogados de Angola, o que “não tem sido feito há mais de três anos”, esclareceu o bastonário Luís Paulo Monteiro.

De acordo com o bastonário, o Ministério das Finanças declara, quando abordado pela Ordem dos Advogados, que tem transferid­o os valores para o Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos, mas a organizaçã­o profission­al “não recebe nada do Ministério da Justiça, há mais de três anos”. “É uma omissão do Estado”, declarou o bastonário Luís Paulo Monteiro, para quem “os advogados têm estado a subvencion­ar o Estado por não estar a dar essas verbas”, para a assistênci­a judicial e o patrocínio judiciário.

O bastonário disse ser possível os cidadãos intentarem uma acção contra o Estado, por serem os principais lesados pela omissão pelo Estado de um dos seus deveres. O bastonário deu ênfase ao facto de, pela primeira vez, o Orçamento Geral do Estado prever (para este ano) uma quantia substancia­l para a assistênci­a judiciária e o patrocínio judicial no valor de 3,5 mil milhões de kwanzas.

Luís Paulo Monteiro lembrou que, nos termos da Lei da Assistênci­a Judiciária, só devem beneficiar de assistênci­a judiciária os cidadãos com rendimento­s mensais iguais ou inferiores a três salários mínimos.

Quando lhe foi pedido para explicar a diferença entre assistênci­a judiciária e patrocínio judiciário, o bastonário esclareceu que a assistênci­a judiciária tem a ver com a dispensa total dos honorários dos advogados e a isenção total ou parcial do pagamento das custas judiciais, enquanto o patrocínio judicial ou forense tem a ver com os tribunais, ou seja, processos em tribunais.

Em todo o país estão inscritos na Ordem dos Advogados de Angola cinco mil advogados, dos quais 1.800 em Luanda. As províncias com menos advogados são as do Moxico, Cunene e Bengo. Cada uma destas três localidade­s tem menos de oito advogados.

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CONTREIRAS PIPA | EDIÇÕES NOVEMBRO Um ângulo do Tribunal Provincial de Luanda, onde decorrem vários julgamento­s

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