O país, as nossas profissões e o exame de consciência
O país está mergulhado numa profunda revisão de pensamentos, de práticas e acções com vista a alinhá-los com o que é moralmente aceitável. É um processo praticamente transversal a todos os sectores da vida social. Toca os sectores da Economia, da Saúde, da Justiça, da Educação, da Comunicação Social, enfim, um vasto conjunto de áreas que têm como missão prestar ao público serviços com celeridade e acima de tudo com qualidade.
A bem dizer, a celeridade é um dos atributos que conforma a prestação de um serviço com qualidade. É que se o serviço for bom, mas ainda assim for prestado com atraso, fora do tempo, isso afecta a sua qualidade. A qualidade tem também a ver com a forma assertiva como este serviço é prestado.
Em alguns sectores da vida económica e social, Angola registou algum crescimento, mas a qualidade deixou, francamente, muito a desejar. Por isso é que hoje se fala da necessidade da reforma do Estado, um processo que já começou e que visa permitir dotá-lo de competências e capacidades para oferecer ao público serviços de qualidade.
Todos sabemos que ao longo destes anos andamos a coleccionar muitos absurdos e que chegou a hora de pôr termo a essas situações. Todos sabemos o quão severas são as críticas em relação ao nosso sistema de Educação e todos sabemos, também, das queixas relativamente ao sector da Saúde e da qualidade dos serviços por si prestados.
Em bom rigor, o que o país está a fazer, o que todos estamos obrigados a e devemos fazer é um exame de consciência, necessário para identificar fraquezas com o objectivo de procurar superá-las, no âmbito do lema "corrigir o que está mal e melhorar o que está bem". Ao nível do jornalismo, sentimos essa exigência no dia-adia. Temos a consciência e a humildade suficiente para reconhecer que é preciso fazer um grande esforço para suplantar as lacunas que, ao longo de anos, se instalaram e procuraram afirmar-se como algo inerente à profissão. Mais importante ainda é que temos a atitude de mudança necessária que nos está a levar e nos vai situar, com certeza, num outro nível em termos de produção de conteúdos informativos.
Pensamos que essa é a melhor forma de responder aos desafios que as reformas políticas, económicas e sociais estão a colocar ao país. Continuar a caminhar no sentido de prevalecerem os absurdos é uma opção que nos faz espécie que esteja a acontecer. É inadmissível que a maioria dos médicos (733) tenha reprovado nos exames do concurso público a que foram submetidos, tal como é inaceitável que queiram agora ser admitidos sem se submeterem a uma superação e a uma nova prova. É anormal que isso esteja a acontecer e essa anormalidade só pode ser vista na relação directa com o que de anormal foi acontecendo, durante todos estes anos.
O mais sensato é acatar a solução avançada pelo Ministério da Saúde, no sentido de esses técnicos serem submetidos a um estágio teórico-prático de reforço de conhecimentos gerais de medicina, cirurgia, obstetrícia, ginecologia, pediatria, saúde pública, para que estejam melhor preparados para o próximo exame e consequente melhor inserção no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
É importante que esse estágio decorra dentro das melhores condições técnico-profissionais, por forma a assegurar que os médicos vão efectivamente preencher as vagas disponíveis. O exercício da medicina não se compagina com abordagens superficiais das técnicas e dos conhecimentos da profissão. Trata-se de cuidar de vidas humanas e, quanto mais e melhor o médico estiver preparado para responder às situações com que se deparar, será maior a gratidão do público, da sociedade.
Não há qualquer mérito em sair à rua para reclamar por reclamar, quando é por demais evidente que todos precisamos de melhorar, a todos os níveis. Quando os resultados indicam que 622 médicos ficaram apurados nos exames e que os não apurados foram encaminhados para um estágio, mais confortados ficamos com a preocupação do Ministério da Saúde em conferir transparência ao concurso público realizado e dar acompanhamento adequado ao restante corpo médico.
O que se pode extrair, de todo este conjunto de situações, é que há um claro recado para as instituições que estão envolvidas na formação dos médicos, para que, de futuro, tratem de assegurar que o profissional tenha o nível e qualidade que se exige.
Em bom rigor, o que o país está a fazer, o que todos estamos obrigados a e devemos fazer é um exame de consciência, necessário para identificar fraquezas com o objectivo de procurar superá-las