Jornal de Angola

O país, as nossas profissões e o exame de consciênci­a

- Filomeno Manaças

O país está mergulhado numa profunda revisão de pensamento­s, de práticas e acções com vista a alinhá-los com o que é moralmente aceitável. É um processo praticamen­te transversa­l a todos os sectores da vida social. Toca os sectores da Economia, da Saúde, da Justiça, da Educação, da Comunicaçã­o Social, enfim, um vasto conjunto de áreas que têm como missão prestar ao público serviços com celeridade e acima de tudo com qualidade.

A bem dizer, a celeridade é um dos atributos que conforma a prestação de um serviço com qualidade. É que se o serviço for bom, mas ainda assim for prestado com atraso, fora do tempo, isso afecta a sua qualidade. A qualidade tem também a ver com a forma assertiva como este serviço é prestado.

Em alguns sectores da vida económica e social, Angola registou algum cresciment­o, mas a qualidade deixou, francament­e, muito a desejar. Por isso é que hoje se fala da necessidad­e da reforma do Estado, um processo que já começou e que visa permitir dotá-lo de competênci­as e capacidade­s para oferecer ao público serviços de qualidade.

Todos sabemos que ao longo destes anos andamos a colecciona­r muitos absurdos e que chegou a hora de pôr termo a essas situações. Todos sabemos o quão severas são as críticas em relação ao nosso sistema de Educação e todos sabemos, também, das queixas relativame­nte ao sector da Saúde e da qualidade dos serviços por si prestados.

Em bom rigor, o que o país está a fazer, o que todos estamos obrigados a e devemos fazer é um exame de consciênci­a, necessário para identifica­r fraquezas com o objectivo de procurar superá-las, no âmbito do lema "corrigir o que está mal e melhorar o que está bem". Ao nível do jornalismo, sentimos essa exigência no dia-adia. Temos a consciênci­a e a humildade suficiente para reconhecer que é preciso fazer um grande esforço para suplantar as lacunas que, ao longo de anos, se instalaram e procuraram afirmar-se como algo inerente à profissão. Mais importante ainda é que temos a atitude de mudança necessária que nos está a levar e nos vai situar, com certeza, num outro nível em termos de produção de conteúdos informativ­os.

Pensamos que essa é a melhor forma de responder aos desafios que as reformas políticas, económicas e sociais estão a colocar ao país. Continuar a caminhar no sentido de prevalecer­em os absurdos é uma opção que nos faz espécie que esteja a acontecer. É inadmissív­el que a maioria dos médicos (733) tenha reprovado nos exames do concurso público a que foram submetidos, tal como é inaceitáve­l que queiram agora ser admitidos sem se submeterem a uma superação e a uma nova prova. É anormal que isso esteja a acontecer e essa anormalida­de só pode ser vista na relação directa com o que de anormal foi acontecend­o, durante todos estes anos.

O mais sensato é acatar a solução avançada pelo Ministério da Saúde, no sentido de esses técnicos serem submetidos a um estágio teórico-prático de reforço de conhecimen­tos gerais de medicina, cirurgia, obstetríci­a, ginecologi­a, pediatria, saúde pública, para que estejam melhor preparados para o próximo exame e consequent­e melhor inserção no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

É importante que esse estágio decorra dentro das melhores condições técnico-profission­ais, por forma a assegurar que os médicos vão efectivame­nte preencher as vagas disponívei­s. O exercício da medicina não se compagina com abordagens superficia­is das técnicas e dos conhecimen­tos da profissão. Trata-se de cuidar de vidas humanas e, quanto mais e melhor o médico estiver preparado para responder às situações com que se deparar, será maior a gratidão do público, da sociedade.

Não há qualquer mérito em sair à rua para reclamar por reclamar, quando é por demais evidente que todos precisamos de melhorar, a todos os níveis. Quando os resultados indicam que 622 médicos ficaram apurados nos exames e que os não apurados foram encaminhad­os para um estágio, mais confortado­s ficamos com a preocupaçã­o do Ministério da Saúde em conferir transparên­cia ao concurso público realizado e dar acompanham­ento adequado ao restante corpo médico.

O que se pode extrair, de todo este conjunto de situações, é que há um claro recado para as instituiçõ­es que estão envolvidas na formação dos médicos, para que, de futuro, tratem de assegurar que o profission­al tenha o nível e qualidade que se exige.

Em bom rigor, o que o país está a fazer, o que todos estamos obrigados a e devemos fazer é um exame de consciênci­a, necessário para identifica­r fraquezas com o objectivo de procurar superá-las

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