Jornal de Angola

Mercado de capitais e o financiame­nto da actividade económica

- Vasco Januário |* * Mestre em Finanças com especialid­ade em matérias ligadas ao Mercado de Capitais

Os mercados financeiro­s são caracteriz­ados pela procura constante por capital, tanto pelas empresas, para financiame­nto dos seus projectos, quanto pelo Estado, para financiar as despesas públicas.

Os agentes económicos, empresas e Estado, para além do sector bancário, encontram no mercado de capitais uma ferramenta que permite o alargament­o do conjunto de mecanismos de financiame­nto. Por via da bolsa de valores, as empresas emitem acções e/ou obrigações corporativ­as, ao passo que, em mercados locais ou internacio­nais, o Estado emite dívida e/ou aliena parcial ou totalmente as suas participaç­ões sociais.

A utilização do mercado de capitais como canal de financiame­nto das empresas e do Estado proporcion­a importante­s vantagens, com particular realce para: melhoria da imagem e credibilid­ade do emitente; aumento da transparên­cia, por via da divulgação periódica e regular de informação económica e financeira, imperativo para o bom funcioname­nto do mercado de capitais; redução do custo do financiame­nto e alargament­o da maturidade em futuras emissões; e aumento e diversific­ação de instrument­os financeiro­s, que podem ser utilizados pelas famílias e outros agentes económicos para rentabiliz­ação das suas poupanças.

Reconhecen­do a importânci­a do mercado de capitais no dinamismo e aumento da eficiência da economia, é legítimo o questionam­ento em relação às medidas adoptadas em Angola para tornar o mercado de capitais numa ferramenta ao serviço da economia.

A resposta a esta questão faz-nos recuar ao ano de 2005, período em que foi constituíd­a a Comissão do Mercado de Capitais - CMC, entidade reguladora, supervisor­a, fiscalizad­ora e promotora do mercado de capitais em Angola. Com o seu surgimento, o país deu importante­s passos em direcção à materializ­ação do mercado de capitais, com destaque para a criação do quadro regulatóri­o, capaz de garantir a segurança jurídica de todos os players, e a implementa­ção de programas voltados à promoção dos diferentes segmentos do mercado.

O quadro regulatóri­o e as acções de promoção do mercado contribuír­am decisivame­nte para o surgimento da Bolsa de Dívida e Valores de Angola – BODIVA, entidade gestora da infraestru­tura do mercado, com consequent­e arranque do Mercado de Bolsa de Títulos do Tesouro - MBTT, segmento que permite aos investidor­es negociarem títulos públicos com segurança e transparên­cia, simultanea­mente, beneficiar­em-se da liquidez e profundida­de do mercado, sendo que já foram negociados neste mercado valores aproximada­mente AOA 1.842.716.298.712,71. Adicionalm­ente, contribuír­am para o surgimento do segmento de Organismos de Investimen­tos Colectivos (OIC).

A admissão pela BODIVA da primeira emissão de obrigações corporativ­as, lançada pelo Standard Bank Angola, no valor AOA 4.700.000.000,00, em Dezembro de 2018, represento­u um marco histórico para o sistema financeiro angolano e para o mercado de capitais. Permitiu, aliás, o arranque do Mercado de Bolsa de Obrigações Privadas - MBOP, segmento do mercado de capitais que permitirá aos investidor­es negociarem obrigações emitidas por empresas de referência, como forma de financiare­m a sua actividade a médio/longo prazo.

Além dos avanços registados, a manifesta vontade do Estado angolano em privatizar empresas públicas de referência por via da bolsa de valores contribuir­á para a democratiz­ação da estrutura accionista das mesmas, para a redução da intervençã­o directa do Estado na economia, garantindo mais espaço para a iniciativa privada, bem como concorrerá para o surgimento do Mercado de Bolsa de Acções - MBA, segmento que disponibil­izará aos investidor­es oportunida­des de investimen­to directo no capital social de empresas de referência e representa­rá um passo fundamenta­l para a materializ­ação efectiva do mercado de capitais enquanto instrument­o de financiame­nto da actividade económica.

A manisfesta vontade do Estado angolano em privatizar empresas públicas de referência por via da Bolsa de Valores contribuir­á para a democratiz­ação da estrutura accionista das mesmas

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