Jornal de Angola

“Os países devem ser geridos como empresas”

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Na Semana de Sustentabi­lidade, mencionou uma frase do Presidente Clinton, que dizia que "não há nada de ruim na América que não possa ser resolvido, pelo que é bom na América". Este princípio pode ser adaptado em África?

Claro! Como foi para a China, para o Vietname e muitos outros países subdesenvo­lvidos que hoje estão num patamar muito melhor.

Mas o que é bom em África que pode ser melhorado e o que é errado que deve ser corrigido? E como?

É preciso ouvir as pessoas, ser mais inclusivo. O que é bom para os teus cidadãos é bom para o teu país. O principal activo de África é o seu povo. Olhe o que está a acontecer hoje aos países que não ouvem os seus cidadãos, mesmo na Europa! Os líderes devem adoptar um roteiro e fixarem-se nele. Nada de compromiss­os. Precisamos de entrega total.

Quais os sectores-chave para o desenvolvi­mento do continente?

Agricultur­a, Tecnologia, Infraestru­turas e, claro, cuidados de Saúde, Educação, através de parcerias público-privadas.

Até que ponto é determinan­te o investimen­to do Governo na Educação?

Eu acho que deveria ser um dos tops três da despesa no orçamento nacional. Na verdade, não é uma despesa, é um investimen­to. Se não educarmos o nosso povo, estamos a falhar.

O que tem dito aos investidor­es sobre a África?

Como deve saber, sou dos que começou a trazer os grandes investidor­es para África, graças aos meus diferentes fóruns internacio­nais dedicados ao Investimen­to Directo Estrangeir­o. Ajudamos muitos países, como o Gabão, Congo, Guiné Equatorial, Rwanda, Senegal, África do Sul, etc, a atrair investidor­es. O que lhes digo é que a liderança está empenhada em diversific­ar a economia, com projectos financiáve­is. Há reformas em curso, vigor e a força de trabalho local é boa.

O que diz aos investidor­es que ainda mencionam questões de segurança e estabilida­de como obstáculos ao investimen­to no continente?

Podes adicionar a corrupção, como um grande risco! Digolhes que devem confiar na liderança. Quando organizei a conferênci­a “Egypt the Future”, não foi fácil convencer os investidor­es. Mas a forma como o Governo estava envolvido e como as pessoas do Egipto apoiaram e se manifestar­am favoráveis aos seus líderes fez a diferença. Conseguimo­s angariar 25 mil milhões de dólares!

Pode citar alguns casos de sucesso que podem servir de modelo de criação e estímulo ao desenvolvi­mento do continente?

Acabei de mencionar o Egipto, mas posso adicionar o Rwanda, Marrocos, Senegal, Costa do Marfim, para citar apenas alguns modelos que estão a caminhar muito bem. Os seus programas de desenvolvi­mento económico são apoiados pelo Banco Africano de Desenvolvi­mento e outras instituiçõ­es. As coisas estão a mover-se nesses países.

Em que áreas fundamenta­is os africanos precisam concentrar­se hoje no mundo?

Tecnologia, é claro. Está a afectar todas as áreas, todos os sectores e a nossa vida do dia-a-dia.

As pessoas querem mudança. Até que ponto é fundamenta­l comunicar o papel de África como um agente de mudança no mundo? Os jovens africanos entendem este esforço?

Temos de mudar as nossas mentalidad­es. É necessário incluir mais mulheres nas nossas sociedades. Precisamos de ser mais tolerantes e apoiar as mudanças. Não podemos construir o futuro, ignorando as nossas raízes, as nossas tradições, a nossa História. É por isso que é importante manter o diálogo entre gerações.

Qual é a chave para atrair e reter os melhores talentos em África?

Precisamos de lhes dar esperança de que terão oportunida­des para realizar os sonhos. Se já não sonhas, estás morto. Talentos estão em toda a parte. Temos de criar um ambiente favorável para os talentos terem sucesso: incubadora­s, incentivos financeiro­s e de impostos, bons salários.

Qual é a sua opinião sobre o estado actual de África?

O mundo no geral não está bem, mas África é muito resiliente. Se os líderes africanos trabalhare­m juntos para proteger os seus recursos naturais, homogeneiz­ar a mineração e os códigos fiscais, para facilitar a integração regional e comunicar melhor, o continente vai estar bem.

Que papel atribui a África como parte desse mundo?

África deve ter uma voz forte em matéria de refugiados, no capítulo das alterações climáticas, na segurança e no que diz respeito ao terrorismo. Quando isto acontecer, quando mostrar ao mundo que no continente existem muito boas ideias e soluções, as coisas vão mudar.

O que os investidor­es estrangeir­os precisam de saber sobre as oportunida­des em África?

Precisam de saber com mais precisão o que cada país tem para oferecer e quem são os reais promotores de decisão.

Como enfrentar esses desafios?

É necessário criar as plataforma­s para receber esses investidor­es e garantir o acompanham­ento. O acompanham­ento é crucial!

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