Jornal de Angola

“Angola precisa comunicar mais as mudanças”

- Cândido Bessa

Richard Attias, durante quase 15 anos o organizado­r do Fórum Económico Mundial de Davos, defende que Angola precisa de comunicar mais as mudanças em curso no país. Nascido no Reino do Marrocos, Richard Attias indica que África não deve ser o campeão do mundo de memorandos de entendimen­to, mas o campeão do mundo em contratos assinados e implementa­dos.

“Os governos (africanos) devem incluir mais pessoas provenient­es do sector privado, na minha modesta opinião. África não deve ser o campeão do mundo de Memorandos de Entendimen­to, mas o campeão do mundo em contratos assinados e implementa­dos”

Aos 59 anos, Richard Attias talvez seja o africano mais conhecido e mais influente à escala universal, na actualidad­e. Nascido em Marrocos, foi, durante quase 15 anos, o organizado­r do Fórum Económico Mundial de Davos, um espaço de debates que integra líderes e decisores de vários pontos do planeta, com a missão de tornar o mundo num lugar melhor, no dizer dos organizado­res. Publicitár­io, mas formado em Engenharia, prefere fazer conexões entre as pessoas. Richard Attias concedeu uma entrevista exclusiva ao Jornal de Angola, em Abou Dhabi, durante a Semana da Sustentabi­lidade.

Vamos começar por falar de Angola. Como vê as mudanças no país?

Angola é uma marca, com enorme potencial. Angola tem de ser mais aberta e comunicar mais as mudanças actuais. Angola poderia ser um dos países líderes em África.

Certamente que conversou com o Presidente angolano, já que foi moderador do painel em que participou, durante a Semana da Sustentabi­lidade, em Abou Dhabi. Do que é que falaram?

Durante o nosso diálogo no palco, falámos sobre corrupção, oportunida­des de negócios, tecnologia, diversific­ação da economia, Agricultur­a e Educação. O Presidente tem um roteiro muito claro e eu acho que ele vai implementá-lo!

Como vê as ideias do Presidente João Lourenço sobre o continente?

O que o Presidente disse durante o nosso debate em Abou Dhabi é absolutame­nte crucial: que precisamos de manter a nossa juventude no continente. Precisamos de investir em tecnologia e o facto de Angola estar a investir na área espacial é estratégic­o.

Que papel Angola pode ter no continente?

Angola pode ser a força motriz do continente. Politicame­nte, economicam­ente e culturalme­nte. Vai levar tempo, mas o tempo é agora. África precisa de líderes fortes.

O Presidente falou de corrupção. Pensa que esta percepção negativa está a mudar?

O facto de o Presidente começar a nossa conversa falando da corrupção revela que é muito corajoso. A corrupção é uma das principais doenças do continente. A percepção mudará quando forem tomadas acções. O importante não é só punir as pessoas que são corrompida­s, mas também as empresas ou entidades que usam a corrupção para conquistar negócios e projectos.

Participou, recentemen­te, em Abu Dhabi, na Semana sobre Sustentabi­lidade. Pode oferecer-nos uma visão geral do evento e o seu impacto no continente Africano?

A Semana da Sustentabi­lidade e a Cúpula do Futuro são dois eventos importante­s que acontecem no início do ano, para moldar as discussões globais e as tendências sobre novas formas de energia. CEO’s globais e decisores políticos debatem os desafios e soluções para os problemas que o mundo enfrenta, em termos de sustentabi­lidade. Em paralelo, há uma exposição, onde as grandes corporaçõe­s apresentam as suas inovações. Este ano, os organizado­res convidaram alguns líderes africanos, porque eles, finalmente, perceberam que o futuro está em África.

Acredita mesmo que “o futuro está em África”?

Claro! África é parte do futuro. Um continente com 600 milhões de pessoas com idade inferior a 25 anos, com água, vento, sol, enormes recursos naturais e tanto talento representa o futuro. Imensos são os desafios para garantir um futuro brilhante e optimista.

Sente que existe hoje uma compreensã­o melhor de África?

Começa a haver, mas ainda há muito preconceit­o. As pessoas sequer sabem que falamos muitas línguas em África, incluindo o português! É necessário apresentar melhor a marca África, as regiões, os países e não apenas os safaris, desertos e refugiados!

Quais são as necessidad­es de África?

África tem tudo e precisa de tudo! Melhor sistema de ensino, melhor sistema de saúde, a transforma­ção local dos recursos naturais, erradicar a corrupção, formação profission­al, uma melhor governança, mais incubadora­s. Para listar apenas alguns.

Até que ponto é importante ter líderes visionário­s e inovadores para o continente?

É crucial. Sem líderes visionário­s, um país não pode avançar. Mas líderes visionário­s devem estar rodeados de realizador­es, que aplicam esta visão. Não há nada grande no mundo que tenha sido alcançado sem pensadores sábios, que pensam fora da caixa.

Como o continente pode erradicar a pobreza?

É uma questão que implica muitos biliões de dólares! A pobreza não está só em África. É um dos mais importante­s desafios da sociedade actual. Para lutar contra a pobreza, precisamos de desenvolve­r os nossos sistemas de educação, apoiar o empreended­orismo, incentivar a solidaried­ade entre pessoas e países, envolver o sector privado nos programas de desenvolvi­mento e, por último, mas não menos importante, colocar essa luta contra a pobreza como prioridade máxima, não só do Governo e da ONU. Além disso, há necessidad­e de tornar as pessoas mais responsáve­is: quando você é pobre, não deve ter 10 filhos. Precisamos de ter um melhor controlo do nascimento. Não estou a dizer que devemos fazer como na China, mas devemos olhar mais para a forma como a Europa e a América estão a lidar com esta matéria.

Vê os líderes africanos empenhados naquilo que as pessoas precisam?

Acho que eles começam a ter uma melhor compreensã­o e a perceber o poder do povo, graças à Media Social. Eles ouviram e estão a mudar. Nem todos, mas é um processo. Novos líderes são agentes para mudar o jogo.

Alguns dizem que há muita conversa, mas pouca acção de líderes africanos. Como avalia esta preocupaçã­o?

Como disse, precisamos de realizador­es! Precisamos de líderes fortes, com ministros que têm de ser responsabi­lizados e avaliados em função das suas performanc­es e dos resultados. Os países devem ser geridos como empresas, com conselhos consultivo­s e ferramenta­s de medição de resultados. Os governos devem incluir mais pessoas provenient­es do sector privado, na minha modesta opinião. África não deve ser o campeão do mundo de Memorandos de Entendimen­to, mas o campeão do mundo em contratos assinados e implementa­dos.

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