Jornal de Angola

Talento do benguelens­e Florentino vem à Luz

- Isaura Almeida*

A nova coqueluche do Benfica nasceu em Benguela; começou no futsal, no Grupo Recreativo Tercena. Foi este mês promovido à equipa principal por Bruno Lage, estreou-se frente ao Nacional e foi titular com o Galatasara­y. João Tralhão, que o conhece da formação do Benfica, fala ao Diário de Notícias das virtudes do médio de 19 anos, que nasceu em Benguela.

Florentino Ibraim Morris Luís, Florentino para o futebol, é da geração de 99. Antes de começar no futebol, no Real SC, o jovem médio do Benfica jogou futsal, no Grupo Recreativo Tercena.

Chegou ao Benfica em 2010/2011, como infantil, para jogar futebol de 7 e fez o percurso todo da formação no Caixa Futebol Campus. É aliás o 32.º atleta “made” in Seixal a chegar à equipa principal. Hoje, aos 19 anos, está no plantel do clube da Luz e já leva 67 internacio­nalizações pelas camadas jovens. Pela selecção de Portugal, já foi coroado campeão europeu de Sub-17 e Sub-19. Disputou ainda o Campeonato do Mundo sub-20, em 2017, quando ainda era sub-18. No Benfica, foi campeão de Iniciados (2013/14) e Juniores (2017/18), bem como finalista vencido na UEFA Youth League, em 2016/17.

Florentino Luís nasceu em Benguela, Angola, mas foi para Lisboa com um ano de idade. É um médio defensivo, que, pela forma discreta como se apresenta em campo, passou relativame­nte despercebi­do nos seus primeiros anos no Seixal.

“É um jogador muito reservado. Começou muito cedo no Benfica e deu um salto maturacion­al muito tarde; não era um jogador com um rendimento muito alto nas camadas mais jovens, mas depois deu o salto e sobressaír­am as capacidade­s e potencial que ele tinha”, contou ao DN João Tralhão, ex-director da formação do Benfica.

Depois, começou a crescer em todos os sentidos. Mais expansivo e mais desinibido em campo. E acima de tudo, com uma excelente leitura de jogo.

“Nunca foi um jogador vistoso do ponto de vista técnico, não era isso que o diferencia­va dos outros. O que o diferencia­va era a sua capacidade de leitura de jogo, a tomada de decisão, o nível posicional, a capacidade de desarme com e sem bola, a utilização racional do espaço que ele tinha era incrível para um menino tão novo. E sabíamos que ele iria crescer e chegar a um nível muito elevado”, confessou o ex-treinador do camisola 61 dos encarnados.

Com o tempo, o jovem Florentino foi revelando ainda uma enorme capacidade para usar o corpo nos duelos individuai­s com ou sem falta. O contacto físico como forma de proteger a bola também foi sendo apurado. E rapidament­e começou a dar nas vistas.

Apesar de ter sido chamado aos treinos por Rui Vitória, o jovem médio só se estreou com a camisola principal com Bruno Lage. Conhecedor das capacidade­s do jovem que treinava na equipa B, o técnico promoveu-o ao plantel principal e lançou-o às feras. Primeiro, no jogo com o Nacional: entrou aos 62 minutos, para o lugar de Samaris, e participou na maior goleada encarnada dos últimos 55 anos. Em meia hora de jogo, deixou a sua marca com seis

“Muito feliz pela minha estreia numa noite memorável como esta. Agradeço a todos aqueles que estiveram presentes na caminhada até aqui!”, escreveu Florentino no Twitter.

Florentino Luís assinou o primeiro contrato profission­al com o Benfica em Outubro de 2015. “Estou muito contente! É uma sensação inexplicáv­el. Sei que este contrato não seria possível sem toda a ajuda do “staff” técnico, da minha família e amigos

desarmes (o melhor da equipa); fez 27 passes completos e ganhou cinco duelos.

“Muito feliz pela minha estreia numa noite memorável como esta. Agradeço a todos aqueles que estiveram presentes na caminhada até aqui!”, escreveu Florentino no Twitter.

Dias depois, o técnico chamou-o para ir a Istambul e deu-lhe a titularida­de no jogo com o Galatasara­y (vitória por 2-1). E mais um jogo para lembrar. 37 passes (86% de eficácia), mais cinco desarmes e seis intercepçõ­es. Foi um dos homens do jogo a par de Seferovic. Depois desse jogo, os jornalista­s quiseram saber o que ia na alma do “miúdo” e ele respondeu como gente grande:

“Senti-me muito confortáve­l, os colegas receberam-me bem. Senti-me como se estivesse na equipa B. Estamos contentes pela vitória mas não exaltados.”

Depois de ver os dois jogos em que Florentino participou na equipa principal, Tralhão não tem dúvidas sobre o futuro do médio:

“O Florentino tem uma grande vantagem: pode jogar em qualquer sistema; pode jogar num sistema de três médios, com ele mais recuado e nas costas dos outros dois médios, ou no sistema de dois médios, como o Benfica jogou na Turquia. Essa é a grande vantagem que ele tem, aliada à leitura e análise de jogo e a capacidade de preencher espaços que é excepciona­l. Na minha opinião, é dos melhores jovens da Europa na sua posição a preencher espaços.”

Se Florentino é forte a ler o jogo e a afastar o adversário da bola, psicologic­amente não fica atrás.

“Nas capacidade­s emocionais e mentais é um jogador muito, mas muito forte mesmo. Tem uma frieza muito grande. Para ele estar a jogar num estádio com 100 mil pessoas a ver ou estar a jogar num estádio completame­nte vazio ou num treino, os níveis de concentraç­ão são exactament­e os mesmos. É um jovem com uma estrutura mental muito bem arrumada, que lhe permite estar sempre equilibrad­o emocionalm­ente e isso é muito importante”, explicou o exdirector da formação do Benfica, sem querer colocar-lhe rótulos ou pressão com comparaçõe­s.

*Título da responsabi­lidade do Jornal de Angola

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola