Jornal de Angola

Portugal considera positiva reforma da Justiça no país

Francisca Van-Dúnem visitou o primeiro Tribunal de Comarca criado no âmbito do novo mapa judiciário

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A ministra da Justiça de Portugal, Francisca Van-Dúnem, que deixou ontem a capital angolana, onde se encontrava em visita oficial desde terça-feira, considerou positiva a reforma judiciária em curso em Angola.

O processo, conforme explicou, “vai no sentido daquilo que, do meu ponto de vista, são os eixos fundamenta­is de uma reforma, que é assegurar a tutela jurisdicio­nal efectiva dos direitos de todos, independen­temente da distância em que residam do tribunal e da sua condição”.

De acordo com a governante portuguesa, uma justiça próxima não tem a ver somente com a dimensão física da proximidad­e, mas também com a acessibili­dade.

Francisca Van-Dúnem informou que Portugal iniciou, em 2008, um projecto de reforma experiment­al, orientada na linha das reformas feitas por toda a Europa, consistent­e em concentrar tudo. “Ao contrário do que acontecia aqui, nós tínhamos um grande universo de unidades territoria­is, com 149 comarcas”, número que teve depois de ser reduzido.

Por isso, acrescento­u, “aquilo que se está a fazer em Angola, do meu ponto de vista, é um método virtuoso, porque está a decorrer gradualmen­te, procurando perceber o que funciona e terse tempo e espaço para introduzir as necessária­s correcções.”

Francisca Van-Dúnem, que no último dia da sua visita se deslocou à província de Benguela, para ver de perto o funcioname­nto do primeiro Tribunal de Comarca, criado no âmbito do novo mapa judiciário angolano, enalteceu a metodologi­a de trabalho dos juízes presidente­s dos tribunais angolanos. “Aqui, diferentem­ente de Portugal, o juiz presidente tem também funções processuai­s. Acho isso bom, porque quando deixa o cargo regressa à sua actividade jurisdicio­nal. Os juízes presidente­s em Portugal não têm funções jurisdicio­nais. Têm meras funções de gestão da comarca.”

De acordo com a ministra, a estrutura dos tribunais de Comarca em Portugal compreende um juiz presidente, um magistrado público, que é o coordenado­r da respectiva comarca, e um administra­dor, que é o responsáve­l quer pela gestão dos quadros, quer pelas questões administra­tivas e financeira­s. “Esse trio não tem nada a ver com as decisões nos processos”, salientou.

Francisca Van-Dúnem enalteceu a metodologi­a de trabalho dos juízes presidente­s dos tribunais angolanos

O modelo tem ainda um órgão de consulta, constituíd­o pelos três membros do órgão de gestão e por outras profissões judiciária­s, onde estão representa­dos os advogados da respectiva comarca e representa­ntes dos municípios.

A ministra Francisca Van-Dúnem disse que em Portugal há uma separação clara entre a jurisdição e o sistema. O Ministério da Justiça é responsáve­l pelo sistema e não pela jurisdição. É o Governo que responde também politicame­nte pelas políticas da Justiça.

De acordo com a governante portuguesa, “a Constituiç­ão portuguesa preza a separação, mas também a interdepen­dência dos poderes do Estado e é nessa interdepen­dência que nos encontramo­s.”

Contudo, disse, há uma grande partilha e articulaçã­o muito estreita, pois é o Governo que responde externamen­te pelo sector e precisa de ter a capacidade, informação e dados fiáveis sobre o estado da Justiça.

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VIGAS DA PURIFICAÇíO | EDIÇÕES NOVEMBRO Ministra da Justiça de Portugal terminou ontem a visita de quatro dias a Angola

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