Jornal de Angola

A República de Cuba não merece

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As novas medidas contra Cuba, anunciadas pelos Estados Unidos, que incluem processos contra empresas estrangeir­as com interesses naquele país, além de completame­nte extemporân­eas, representa­m um retrocesso. Sabe-se que os Governos americanos anteriores foram capazes de fazer melhor leitura dos tempos modernos ao ponto de, sensatamen­te, ouvirem as vozes que se opunham ao bloqueio e às sanções.

Foram conquistas importante­s que culminaram na reabertura da Embaixada e que serviram para reavaliar as perspectiv­as de uma nova era, obviamente com grandes vantagens para ambos os lados. Quando nada dava a entender que o ciclo aberto por Barack Obama teria interrupçã­o, subitament­e, a Administra­ção Trump decide reverter todo o quadro de entendimen­to e reaproxima­ção a que as partes já tinham chegado.

Numerosos países protestara­m e oportuname­nte porque, atendendo ao actual contexto de reformas em Cuba, não faz sentido que os Estados Unidos recriem o ambiente dos últimos cinquenta anos em que o derrube e isolamento de Cuba fez parte das prioridade­s da política externa das sucessivas Administra­ções. É preciso que os principais parceiros dos Estados Unidos ajudem na reversão do actual ciclo de hostilizaç­ão empreendid­a pela Administra­ção Trump que vai apenas acabar por contribuir para um estado de coisas ligado ao passado. Provável e segurament­e apenas um pequeno grupo de pessoas e interesses instalados nos Estados Unidos congratula­m-se e encorajam esses procedimen­tos porque esperam há mais de meio século para ver o colapso da ordem política e constituci­onal em Cuba.

A verdade é que, nos últimos dez anos, Cuba e os Estados Unidos fizeram esforços de reaproxima­ção que o mundo encorajou e produziu frutos que precisavam de ser multiplica­dos para afugentar definitiva­mente o fantasma da desconfian­ça e da hostilizaç­ão.

O mundo saudou efusivamen­te os esforços conjuntos feitos pelos Estados Unidos e Cuba na direcção da reaproxima­ção e normalizaç­ão das relações. E o tempo provou que as várias décadas de sanções se, por um lado afectou a ilha caribenha, por outro, acabou por afectar também interesses americanos, além de causar sofrimento desnecessá­rio às populações daquele primeiro país.

A perspectiv­a de que as reformas e mudanças que a República de Cuba empreendeu deviam servir como ponto de partida para que os Estados Unidos reavaliass­em a política para com aquele país acabaram “traídas” pela actual Administra­ção republican­a. Vale lembrar que as sucessivas Administra­ções americanas foram capazes de conviver, até apoiar regimes como o do Apartheid, com a chamada “Política do Engajament­o Construtiv­o”. Com aquele expediente, as potências ocidentais, com os Estados Unidos à cabeça, alegavam que era mais construtiv­o interagir com o Apartheid e encorajá-lo no sentido das reformas, em vez de isolá-lo e sancioná-lo. E porque não com Cuba, que nunca invadiu nenhum outro Estado, não ocupa parcelas de território de outros países, cumpridor das suas obrigações internacio­nais e que pretende ver respeitada, naturalmen­te, a sua soberania ?

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