A versatilidade de uma voz “caliente” em palco e na rádio
Prestigiada cantora e uma das vozes representativas do “Novo Semba” coloca no mercado discográfico no próximo mês de Agosto o seu terceiro álbum de originais
Detentora de uma portentosa voz e singular postura em palco, Patrícia Faria representa, no sentido teatral do termo, as canções que interpreta, uma característica facilmente identificável na expressividade corporal e estética dos seus passos coreográficos. Cantora, locutora de rádio e advogada, Patrícia Faria recorda que do lado materno, vieram os primeiros impulsos e motivações para a sua entrada no universo da música, “A minha mãe foi sempre a minha principal incentivadora e foi através dela que, sem preconceitos, entrei para o mundo da música. A minha outra paixão, a rádio, teve como principal mentor o radialista Joaquim Freitas, porque, de facto, foi com ele que entrei para o programa infantil “Kaluanda piô”, minha primeira experiência no mundo da rádio. Recordo que foram muito bons e saudosos tempos”. Patrícia Faria começou a sua carreira musical aos seis anos de idade no grupo infantil “Patinhos” e “Coral gigante”, e, mais tarde como integrante do grupo, Gingas do Maculusso, formação musical orientada pela professora Rosa Roque, acompanhando as vozes de Gersy Pegado, Maria João, Josina Stella, Ise e Celma Miguel. Patrícia Faria, além do exercício da advocacia é também uma das vozes mais ouvidas e prestigiadas da Rádio angolana, onde ingressou aos catorze anos de idade e sempre foi líder de audiências. Locutora de referência na Rádio Luanda, onde apresenta o programa Jovial Cidade, Patrícia Faria apresentou no segundo canal da Televisão Pública de Angola o programa “Ouvi dizer”, série de entrevistas a figuras da música, e o semanal Sábado Azul. Em 2011 e no ano seguinte, foi integrante do júri do programa da TPA 2, Angola Encanta de procura de novos valores. Actualmente é funcionária da rádio privada, MFM, dando voz ao programa “Calientíssimo”.
Patrícia Faria participou em vários festivais nacionais e internacionais com destaque para o Super Bock Super Rock, Portugal, em Junho de 2004, e representou Angola na cerimónia inaugural do Festival Baía das Gatas, em Agosto, 2003, São Vicente, Cabo Verde, onde dividiu o palco, entre outros, com cantor senegalês, Ismael Lo.
Filha de Gaspar Rodrigues de Faria e de Luzia Pontes de Faria, Patrícia Natacha Rodrigues de Faria, Patrícia Faria, nasceu em Luanda, no dia 3 de Dezembro de 1981.
Sucesso
Patrícia Faria deu voz a vários sucessos musicais ao longo da sua carreira, um dos quais, “Caroço quente” do CD “Eme Kiá” com letra do Bonga, Barceló de Carvalho, um clássico autoral em língua portuguesa com forte dimensão metafórica.
Distinções
Em 2003, Patrícia Faria venceu o “Top dos Mais Queridos” da Rádio Nacional de Angola e foi convidada especial do conceituado concurso de música internacional Kora Awards, África do Sul, cuja performance foi particularmente elogiada por artistas como Bozzi Bozziana, República do Congo, e Angie Stone, Estados Unidos da Améria. Ainda no Kora Awards, a cantora foi indicada a concorrer a categoria de “Melhor Artista Tradicional Africano”, com a canção “Tambula ó Saia”.
Em 2015, Patrícia Faria participou na homenagem à artista Dulce Neves considerada a rainha da música da Guiné Bissau. Na ocasião foi recebida pelo Presidente da República Guineense, José Mário Vaz. A cantora possui um repertório cantado em língua portuguesa, kikongo, kimbundu e umbundu, numa perspectiva de valorização das línguas nacionais.
Discografia
Integrada nas “Gingas do Maculusso”, Patrícia Faria gravou “Mbanza Luanda”, 1996, “Malanje, natureza e ritmos”, 1997, e “Xyami”, 1999. Em 2002, a cantora rompe com as “Gingas do Maculusso”, enveredou por uma carreira a solo e lançou o seu primeiro CD “Eme Kiá”, 2003, com os temas, “Tambula ó Saia”, “Minha Farra”, “Cansaço” , “Falta de ti” ( Eu sinto), “Triste amargura”, “Cama e mesa”, “Pra Que Chorar (Angola)”, Zanga Kalunga” , “Caroço Quente”, “Kibela” , “Mumpiozouame”, de Teta Lando, “Papa wá Jimbidila” e “Eme kiá”. O seu segundo CD, “Baza baza”, 2012, e inclui as canções, “Kinsiona”, “Mano Afonso”, “Fofoca”, com participação de Paulo Flores, “Hosana”, “É demais”, “Baza já”, com Sandokan, “Oimbwa”, “Kimbemba”, com Luís Represas, “Mingo” ( amo sanguele), “Queria te dizer”, “Nzagi”, “Mais um dia que passa” e “Eugénio”, com participação especial de Yuri da Cunha.
Depoimento
A prestigiada professora Rosa Roque, uma das mais importantes compositoras angolanas e fundadora do grupo, Gingas do Maculusso, fez o seguinte depoimento sobre a cantora, “Patrícia Faria foi matriculada no grupo, Gingas do Maculusso, pela sua mãe, a Professora, Luzia Pontes, que cedo constatou o grande talento da sua filha. À época, a Patrícia Faria tinha aproximadamente seis anos de idade. Desde logo, chamoume a atenção a potência e brilho da sua voz, que, ao longo do tempo, fomos simplesmente treinando e aprimorando. Na fase infantil, participou em variadíssimos eventos com o grupo destacando-se um festival realizado pela UNICEF, no Zimbabwe. Eu sentia claramente que era algo especial e que atingiria níveis de interpretação fora do comum e que talvez evoluísse até ao lírico, se tivéssemos condições para o efeito.
Quando gravámos o CD “Mbanza Luanda”, a nossa primeira obra discográfica, a Patrícia Faria tinha apenas catorze anos de idade, razão pela qual não explorei muito o seu potencial. Entretanto, ela foi amadurecendo e se adequando aos géneros que mais cultivámos, com destaque para o semba. Portanto, ela deu cartas como uma das grandes vozes das Gingas do Maculusso e o seu trabalho a solo, sobretudo o CD “Eme Kia”, é uma obra recheada de sucessos. Patrícia Faria é, sem dúvida alguma, uma das mais lindas vozes da Música Popular Angolana da nova geração, um talento que, espero, continue a brilhar”.