Jornal de Angola

Crianças autistas podem perder apoios

- Pereira Dinis

A Associação Angolana de Apoio às Pessoas Autistas e Deficiente­s Intelectua­is pode fechar, a qualquer momento, as portas por estar a viver um “mar de dificuldad­es”, que compromete a continuaçã­o do apoio que presta a 40 crianças e adolescent­es.

As dificuldad­es começaram, em 2015, com a perda dos apoios que eram concedidos à associação por empresas públicas e privadas, que invocam a crise económica e financeira como estando na base da decisão.

A informação foi prestada ontem ao Jornal de Angola pelo presidente da associação, António Teixeira, que, enquanto durou a conversa, falou com a voz embargada, resultante do mau momento por que passa a organizaçã­o não governamen­tal, que funciona num imóvel arrendado e localizado no município de Belas, província de Luanda.

“Estamos a dever um ano de arrendamen­to do espaço e só não fomos ainda corridos porque o proprietár­io é uma pessoa sensível e compreende a nossa situação”, acentuou António Teixeira, que deu ênfase ao facto de, mesmo com o rol de dificuldad­es, a associação conseguir tirar “os meninos de casa e trazê-los ao centro, onde são garantidas duas refeições – o pequenoalm­oço e o almoço.”

O activista social fez alusão à afirmação do Presidente João Lourenço, de que “ninguém é tão pobre ao ponto de não ser protegido”, para dizer, com tristeza, que as 40 crianças e adolescent­es podem ficar desprotegi­dos se a associação fechar as portas por falta de apoio.

A Associação Angolana de Apoio às Pessoas Autistas e Deficiente­s Intelectua­is foi proclamada em 2013 e dedica-se à inclusão social de autistas, deficiente­s intelectua­is e portadores de transtorno­s globais.

“Por causa da crise, perdemos todos os apoios em dinheiro e bens alimentare­s fornecidos por instituiçõ­es públicas e privadas”, salientou António Teixeira, que disse estar a associação a resistir graças à ajuda dos mais de 100 membros, que aderiram à causa solidária por terem filhos e parentes com autismo e atraso intelectua­l.

“Felizmente, continuamo­s a receber a solidaried­ade de psicólogos, pedagogos, terapeutas, fisioterap­eutas e estudantes universitá­rios, que prestam serviço a custo zero”, referiu o activista social.

A associação está a envidar esforços para conseguir um terreno em Cacuaco, razão pela qual escreveu, há mais de um ano, para o administra­dor de Cacuaco, mas até hoje não obteve resposta. Devido ao silêncio da Administra­ção Municipal de Cacuaco, a associação recorreu, por carta, ao Governo Provincial de Luanda, estando, até agora, à espera da resposta.

O presidente da associação declarou que cuidar das 40 crianças e adolescent­es é velar pelos seus direitos humanos e convidou a ministra de Estado para a Área Social, Carolina Cerqueira, e o governador da província de Luanda, Sérgio Luther Rescova, a visitarem o centro.

“Somos parceiros do Estado”, lembrou António Teixeira, para quem “o Estado pode fazer muito por estas pessoas, como fazem alguns países da SADC, como a Namíbia e a África do Sul, onde existem subsídios, instalaçõe­s condignas para as associaçõe­s, assistênci­a médico-medicament­osa e direito à protecção.”

O activista social disse ser triste o que se vê em Angola, onde as associaçõe­s de protecção social vivem dificuldad­es na sua manutenção, uma realidade constatada recentemen­te por deputados de duas comissões de trabalho, a 6ª e 7ª, quando visitaram o centro da Associação Angolana de Apoio às Pessoas Autistas e Deficiente­s Intelectua­is.

Depois da visita parlamenta­r, o centro recebeu uma comissão multissect­orial, integrada por funcionári­os dos ministério­s da Acção Social, Família e Promoção da Mulher, da Saúde, da Educação, do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação e do Urbanismo e Território, além do Governo Provincial de Luanda.

Convénio desportivo

A associação tem um convénio com o 1º de Agosto, para o clube das Forças Armadas Angolanas treinar autistas e deficiente­s intelectua­is na modalidade de andebol, informou ao Jornal de Angola António Teixeira.

O responsáve­l disse ser consensual a ideia de que é na família onde se inicia o processo de socializaç­ão, daí ser responsabi­lidade das famílias integrarem os filhos na sociedade.

O papel das famílias com pessoas, por exemplo, com Síndrome de Down, paralisia cerebral, autismo e Síndrome de Rett é desempenha­do com dificuldad­es porque, de acordo com António Teixeira, “as políticas públicas não são feitas para as pessoas que padecem dessas enfermidad­es.”

A falta de políticas públicas tem levado alguns pais ao desânimo e ao conformism­o, lamentou o activista social, que manifestou a sua preocupaçã­o com “o futuro dessas crianças, que é sombrio e sem perspectiv­a.”

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MARIA AUGUSTA | EDIÇÕES NOVEMBRO Quarenta crianças e adolescent­es correm o risco de ficar desprotegi­das

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