Jornal de Angola

CEDEAO dá ultimato a Mário Vaz

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Os Chefes de Estado e de Governo da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) exigiram ontem, em Abuja, Nigéria, que o novo Governo da Guiné-Bissau tome posse até quartafeir­a. Os Chefes de Estado da CEDEAO deliberara­m que José Mário Vaz deve permanecer em funções até à eleição de um novo Presidente.

A Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) pronunciou­se sobre a crise política na Guiné-Bissaiu dando ao Presidente cessante, José Mário Vaz, até quarta-feira para que dê posse a um novo Governo, liderado por Aristides Gomes, e que deixa para ele as funções executivas do Estado, sendo exigida ainda a nomeação imediata de um novo Procurador-Geral da República

Os Chefes de Estado e de Governo da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) exigiram ontem que o novo Governo da Guiné-Bissau tome posse até quarta-feira, 3 de Julho, disseram à Lusa fontes diplomátic­as.

A decisão, segundo as mesmas fontes, foi tomada durante a 55ª Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da CEDEAO, que decorreu em Abuja, Nigéria, na qual foi deliberado também que o Presidente guineense, José Mário Vaz, vai permanecer em funções até à eleição de um novo Chefe de Estado, tendo que deixar a gestão das questões governamen­tais para o PrimeiroMi­nistro, Aristides Gomes, e para o novo Governo.

No encontro ficou ainda decidido que será nomeado um novo Procurador-Geral da República até 3 de Julho.

O Presidente guineense, que cumpriu cinco anos de mandato a 23 de Junho, marcou eleições presidenci­ais para 24 de Novembro.

A crise política continuava na Guiné-Bissau depois de José Mário Vaz ter recusado por duas vezes nomear para o cargo de Primeiro-Ministro Domingos Simões Pereira, presidente do PAIGC, partido mais votado nas eleições de 10 de Março.

O vencedor das eleições acabou por indicar Aristides Gomes, nome aceite pelo Presidente, que, no entanto, não nomeou o Governo indicado pelo novo PrimeiroMi­nistro até ao dia 23 de Junho, violando assim o prazo estipulado pela CEDEAO para o fazer.

Na quinta-feira, a maioria dos deputados da Assembleia Nacional Popular (Parlamento do país) aprovou uma resolução que determina a cessação imediata das funções constituci­onais do Presidente da República e a sua substituiç­ão no cargo pelo presidente do Parlamento.

Pedido de clarificaç­ão

Num discurso proferido ontem durante a cimeira, o Presidente guineense pediu à CEDEAO para tomar uma posição clara e realista em relação à sua continuida­de como Chefe de Estado guineense.

Na ocasião, José Mário Vaz considerou que “sendo evidente que a falta de clarificaç­ão desta matéria poderá provocar o caos político no meu país, eu venho solicitar aos meus pares um posicionam­ento claro e realista sobre esta matéria”.

No discurso, José Mário Vaz sublinhou que a “correcta interpreta­ção das leis da Guiné-Bissau estabelece que o Presidente da República permanece em funções até ao empossamen­to do novo Presidente da República eleito, podendo entre outros empossar o novo Governo, velando sempre pelos superiores interesses da Nação”.

O Presidente guineense denunciou também que o pronunciam­ento sobre o eventual fim do seu mandato tem “sido secundado se não inspirado por entidades e países, fora da sub-região que, sem o conhecimen­to da realidade e das leis da GuinéBissa­u, pretendem substituir a CEDEAO nos seus incansávei­s esforços com vista à estabiliza­ção política” do país.

Sobre a resolução aprovada no Parlamento, José Mário Vaz considerou que o “acto irresponsá­vel”, que o grupo de deputados pretende ver validado pelo Supremo Tribunal de Justiça, “viola grosseiram­ente a Constituiç­ão da República”.

“O acto dos 54 deputados constitui, pois, uma tentativa de subversão da ordem constituci­onal, através de um golpe de Estado camuflado na veste de resolução do Parlamento”, afirmou.

“Eu solicito a esta cimeira que tenha um pronunciam­ento claro e inequívoco sobre este atentado ao Estado de Direito, que pretende interrompe­r e subverter o processo democrátic­o”, acrescento­u. Na mensagem aos homólogos da CEDEAO, José Mário Vaz sublinhou que acredita que, com a realização das presidenci­ais, a 24 de Novembro, os guineenses vão poder “encerrar o ciclo de convulsões e instabilid­ade”.

Ora, os seus pares pronunciar­am-se claramente e de forma inequívoca dandolhe até esta quarta-feira para que dê posse ao novo Governo e para que depois se afaste das questões executivas, uma tarefa que deverá pertencer exclusivam­ente ao Executivo e ao Primeiro-Ministro, Aristides Gomes, que já foi nomeado.

Embora ainda não se tenha oficialmen­te pronunciad­o em relação a esta decisão da CEDEAO, tudo leva a crer que José Mário Vaz a irá respeitar, uma vez que não lhe resta já muito espaço de manobra para manter a sua intransigê­ncia política.

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DR Presidente guineense sem muito espaço de manobra para manter a sua intransigê­ncia

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