A génese da cidade do Uíge
Soba Álvaro Nkui, que nasceu há cem anos e cresceu na aldeia de Kimuana, uma das que se fundiu nos anos 60, para formar o bairro Kasexi, a escassos dez quilómetros da actual cidade, conta que acompanhou a génese da formação da cidade
Em 1917, o português Américo Tomás, vindo da região do Mbembe, fixou morada nas terras que mais tarde conformaram a actual cidade do Uíge, por indicação de Me Mbungu, quando procurava por um lugar para se estabelecer. Estas terras seriam mais tarde transformadas na actual cidade do Uíge, que comemorou a 1 de Julho o 102º aniversário da fundação.
Em 1917, o colono português Américo Tomás, vindo da região do Mbembe, fixou morada nas terras que mais tarde conformaram a actual cidade do Uíge, por indicação de Me Mbungu, quando procurava por um lugar para se estabelecer. Estas terras seriam mais tarde transformadas na actual cidade do Uíge, que comemorou a 1 de Julho o 102º aniversário.
Segundo o centenário Álvaro Nkui, “Primeiro, ele estava na Serra do Uíge, próximo da actual aldeia de Kasexi. Daí, procurou saber ao soba Kimuana se haveria outro espaço onde se pudesse estabelecer. Este indicou uma região baldia, de onde o visitante viu com o seu binóculo um lugar menos acidentado do que aquele onde se encontrava”.
Contactado Me Mbungu, por indicação de Me Kimuana e após ter recebido as necessárias indicações, por intermédio dos tradutores que o acompanhavam, Américo Tomás voltou a atravessar o rio Kandombe e dirigiu-se até às terras que Me Mbungu lhe indicara, onde fixou a sua residência, acomodando os seus acompanhantes, dando ao lugar o nome de Uíge, que transportara da Serra onde se encontrava antes.
Álvaro Nkui, que nasceu há cem anos e cresceu na aldeia de Kimuana, uma das que se fundiu nos anos 60 para formar o bairro Kasexi, há escassos dez quilómetros da actual cidade, conta que acompanhou a génese da formação da cidade, assim como de todo o seu crescimento.
As sanzalas de Nkondo Benze, Kimuana, Kinkala, Kivita, Kimankanda, Kimakulu, Kindenuku, Kitomesa, Kilenvu, Kilumoso e outras da actual circunvizinhança tiveram muita influência na formação da actual cidade do Uíge. Entretanto, outros bairros desapareceram, indo os seus habitantes viver mais tarde nos arredores do Uíge.
Acompanhado dos sobas da aldeia Domingos Panzu, Ernesto Kwalala e Domingos Tonga, também eles acima dos 75 anos, Álvaro Nkui lembra, com muita dificuldade, que naquela altura o espaço baldio era circundado pelas sanzalas nativas do Tangi, Kiôngua, Kibiangu, Kiluanga, Mbanza Mpolo, Kindenuku, Henda, Kitomesa, Kilenvu, Kilumoso e Nkunga Kiximba.
Mais tarde, o reverendo norte-americano Peterson seguiu Américo Tomás e estabeleceu aqui a primeira confissão religiosa cristã, a Missão Evangélica do Norte de Angola. Depois, chegaram os católicos (o mais velho já não se lembra do nome do chefe desta expedição missionária cristã).
As sanzalas de Nkondo Benze, Kimuana, Kinkala, Kivita, Kimankanda, Kimakulu, Kindenuku, Kitomesa, Kilenvu, Kilumoso e outras da actual circunvizinhança tiveram muita influência na formação da actual cidade do Uíge.
Edificações
Pouco a pouco e sempre na direcção do Mbembe, foram chegando outros colonos brancos, como os comerciantes cujos nomes o ancião ainda retém na memória: Rico, Ferreira Tangani, Laurindo Ribeiro, Ferreira Lima, Ricardo Gaspar, Caldas (que os nativos chamavam Ngangu), Miguel Almeida (conhecido por Catingo), Zé Heitor, Angelino Cardoso da Silva e outros, que edificaram as primeiras casas na rua principal do Uíge, hoje denominada António Agostinho Neto.
Nesta rua foram construídos os primeiros hotéis do Uíge, como o Vieira e outros, que resistiram até serem destruídos muito recentemente. Resiste apenas uma casa que recebia e servia brancos e alguns “pretos finos”, segundo o nosso interlocutor, já com algumas dificuldades na fala e na audição, por força das décadas que completa ainda neste ano. Ciente da falência de algumas das suas capacidades, Nkui só acedeu manter a conversa com o Jornal de Angola na presença dos seus assessores, que viveram parte da história da criação e emancipação do Uíge.
Ricardo Gaspar foi, mais tarde, construir o edifício actualmente conhecido por Rimaga, debaixo do qual ficavam as lojas. Por causa da ascensão galopante do Uíge, vários outros comerciantes e fazendeiros, como João Ferreira, que deixou o Ngaji, abandonaram os lugares onde se tinham estabelecido antes e preferiram juntar-se aqui.
Todos eles, de acordo com o soba reformado, eram provenientes do Ambriz. Paravam inicialmente na região do Mbembe e daí partiam para o Uige, tal como o fez Américo Tomás.
Muita gente vendia café, que levava à cabeça ao Ambriz. “Andavam dias e dias até chegar ao local. Vendiam os seus produtos e compravam o que lhes interessava, principalmente, o sal e o sabão. Eu nunca cheguei a ir lá. Os outros iam”, disse o centenário.