Lunda-Norte aguarda pelas autarquias
Cidadãos entrevistados pela reportagem do Jornal de Angola apontaram alguns sectores que precisam de mais apoio por parte do governo da província, entre eles o da saúde, educação, água e energia eléctrica
Se há dez anos visitou a sede da província da Lunda-Norte (Dundo), saiba que se nesta altura regressar a esta cidade não vai encontrar grandes mudanças nos mais variados sectores. O saneamento básico continua deficitário, habitações com pinturas desbotadas, débil fornecimento de energia eléctrica, precário funcionamento dos principais serviços sociais (Educação e Saúde), ao mesmo tempo que se observa uma disputa frenética de viaturas, motociclos e pessoas nas principais artérias da cidade, devido à inexistência ou ao péssimo estado dos passeios.
A equipa de reportagem do Jornal de Angola aproveitou a estada na também conhecida "Cidade das Mangueiras" (pela enorme quantidade de árvores plantadas ao longo de todas as ruas da cidade) e ouviu alguns habitantes, que falaram sobre o quotidiano da região.
Apercebendo-se da realização das jornadas parlamentares do MPLA, realizadas de 26 a 30 de Junho, a maioria dos cidadãos ouvidos pela nossa reportagem defendeu que o evento deve influenciar na solução imediata dos seus problemas sociais básicos, como assistência médica e medicamentosa, educação, emprego, habitação, abastecimento de água potável e fornecimento ininterrupto de energia eléctrica.
Alguns cidadãos, sobretudo jovens residentes no Dundo, informaram que na Lunda-Norte há carência de quase tudo.
"Não percebo como é que uma província que dá tantas receitas de diamantes ao país, que contribuem para o crescimento de infra-estruturas em muitas regiões do território vive carências de vária índole?", desabafou a jovem Margarida dos Santos, 20 anos, estudante de Direito na única universidade da província "Lueje Ankonde", que na cidade do Dundo leccionaoscursosdeDireito,Pedagogia e Economia.
Para a estudante, a maior expectativa para a solução definitiva dos inúmeros problemas sociais básicos com que se deparam os cidadãos na província da Lunda-Norte passa pela realização de eleições autárquicas. Sublinhou que do pouco que lê e ouve sobre autarquias locais, pensa ser o melhor modelo e garantia para a solução dos vários problemas sociais básicos das populações residentes nos diferentes municípios da província.
A assistência médica e medicamentosa na cidade do Dundo é bastante deficitária, disse, acrescentando que, apesar de existirem algumas, as unidades hospitalares deparam-se com muitas carências em termos de quadros técnicos, medicamentos e serviços especializados.
Na sede capital da província, referiu, "as coisas vão de mal para pior". Falou do hospital provincial, que aguarda por reabilitação total há alguns anos, das clínicas que cobram serviços cujos preços não estão ao alcance do cidadão comum e ainda dos muitos postos médicos espalhados pelos diferentes bairros que apresentam serviços duvidosos.
Margarida dos Santos acusou as autoridades locais de pouco fazerem para mudar a situação. Enquanto isso, explicou, as pessoas são obrigadas a procurar tratamento médico na vizinha República Democrática do Congo (RDC). O recurso a este país é justificado pelos cidadãos devido à proximidade geográfica. Da cidade do Dundo até à fronteira de Tchissanda, os cidadãos percorrem pouco mais de dez quilómetros.
Quem também clama pela realização de eleições autárquicas para ver solucionado os problemas sociais básicos das populações locais é o cidadão António Vasco, de 57 anos, funcionário público, residente na cidade do Dundo desde criança.
"Tenho a plena certeza que com a realização das eleições autárquicas no próximo ano muitos dos problemas sociais básicos dos cidadãos das diferentes localidades da província serão ultrapassados”. Acrescentou que, com receitas próprias, os autarcas vão poder resolver problemas relacionados com a construção e reabilitação das vias rodoviárias, obter assistência médica e medicamentosa, resolver o problema do saneamento básico, emprego e outros, sem esperar pelas directrizes de Luanda. Colacama Honoré, de 26 anos, também estudante na Lueji Ankonde, no curso de Pedagogia considerou "débil" o saneamento da sede capital como o dos restantes municípios da província, salientando que faltam equipamentos adequados para o efeito.
No Dundo, a distribuição de energia eléctrica às diferentes zonas é bastante deficiente. O fornecimento depende de grupos geradores, porque as obras da Barragem de Luachimo ainda não estão concluídas. O abastecimento irregular de combustível para os grupos geradores tem causado constrangimentos na distribuição de energia à cidade e arredores. As diferentes ruas apresentam-se às escuras, dificultando não só aos cidadãos, como propiciando a acção dos marginais.
O jovem estudante lembra que há dois meses, aquando da crise geral de combustíveis no país, a província ficou pelo menos um mês às escuras. A distribuição de água potável à cidade e arredores é apenas garantida quando há energia eléctrica. A água distribuída à centralidade do Dundo é captada a partir do rio Luachimo, cinco quilómetros da sede capital, enquanto a que abastece a parte velha da cidade e arredores é retirada da nascente do rio Mussungue. Desemprego O desemprego na província também é um problema que preocupa. Alguns jovens ouvidos pela nossa reportagem sugerem que o Governo local coloque como condição às empresas ou grupos que pretendam investir na exploração mineira na região a contratação de mão de obra local e a melhoria das condições sociais das populações residentes nas áreas de exploração.
Em relação à habitação, os mesmos jovens estudantes reconheceram melhorias, com a construção da nova centralidade, mas queixam-se dos altos preços que são cobrados, além dos apartamentos serem insuficientes para a quantidade dos que pretendem realizar o sonho da casa própria.
A assistência médica e medicamentosa na cidade do Dundo é bastante deficitária, disse, acrescentando que, apesar de existirem algumas, as unidades hospitalares deparam-se com muitas carências em termos de quadros técnicos, medicamentos e serviços especializados