Cidade dos Reis do Kongo abre hoje as festas
A primeira edição do Festival Internacional de Cultura e Artes do Kongo (FestiKongo) abre hoje as portas ao público, nacional e internacional, com um vasto leque de actividades artísticas programadas para divulgar a elevação de Mbanza Kongo a Património Mundial da Humanidade.
As actividades, que vão ser divididas entre Mbanza Kongo e o Soyo, devido à escassez de unidades hoteleiras na cidade capital do Zaire, levaram, durante meses os municípes a preparar condições para dar as “boas-vindas” aos visitantes.
O governador do Zaire, Pedro Makita, disponibilizou 249 milhões de kwanzas para ajudar a cobrir as despesas com as obras de reabilitação de determinados espaços da capital, alguns dos quais adjacentes aos monumentos e sítios históricos de referência. Outra parte da verba, 70 milhões de kwanzas, disse, vai ser usada para o pagamento de despesas com os músicos convidados para o FestiKongo.
A escolha do Soyo, como outra cidade para acolher o FestiKongo, disse, foi feita tendo em conta que o município possui pontos turísticos de realce, como a Ponta do Padrão, onde desembarcou a primeira comitiva de navegadores portugueses, liderada pelo capitão Diogo Cão, a 23 de Abril de 1482. Além destes factos históricos, o Soyo foi escolhido por ter unidades hoteleiras suficientes para suprir a carência de Mbanza Kongo. “A cidade capital não possui unidades hoteleiras suficientes para acolher todos os convidados. A solução passa por realizar algumas actividades no Soyo, como os seminários e exposições”, disse.
A cerimónia de abertura do FestiKongo é antecedida do Lembo, um ritual tradicional realizado à noite, em homenagem a duas heroínas kongo, Ndona Mpolo (mãe do rei Nvemba-a-Nzinga) e a profetiza Kimpa Vita, queimada pelos missionários portugueses por resistência à ocupação colonial. O FestiKongo é visto por muitos habitantes locais como uma oportunidade de mostrar ao mundo as potencialidades naturais e turísticas da província, assim como uma forma de ajudar na arrecadação de receitas.
Entre as várias acções já realizadas pelo Governo do Zaire, destacam-se as campanhas de limpeza da cidade e a requalificação dos principais monumentos e sítios históricos, como o Kulumbimbi (a primeira Igreja Católica construída na África Subsaariana), o Cemitério dos Reis e o Museu dos Reis do Kongo, assim como o Cine Clube “Comandante Bula” e a Praça António Agostinho Neto, local que alberga um dos espectáculos do festival.
O programa de actividades culturais inclui feiras de arte, gastronomia e desfiles de moda, com a participação de artistas dos dois Congos e do Gabão. O convite a participar no festival estende-se também aos Camarões e o Benin. O objectivo do Executivo angolano é reunir, na antiga capital dos reis kongos, todos os países que antes integravam estes reinos, para juntos celebrarem a elevação a Património da Humanidade.
O Ministério da Cultura, mentor da iniciativa, pretende realizar o FestiKongo durante três anos consecutivos até 2021, como consta das recomendações da Unesco. O propósito é promover a cultura kongo e unir os povos africanos que faziam parte do referido reino.
Vasto programa de actividades
As cidades de Mbanza Kongo e Soyo, na província do Zaire, são, a partir de hoje e durante quatro dias, os palcos da primeira edição do FestiKongo, uma iniciativa promovida pelo Ministério da Cultura, que irá reunir músicos, escritores, grupos de dança e investigadores dos Estados que faziam parte do antigo Reino do Kongo, nomeadamente Congo Brazzaville, República Democrática do Congo, Gabão e Angola.
Este festival visa celebrar o segundo aniversário da elevação da cidade de Mbanza Kongo como Património Mundial da Humanidade pela Unesco. Um vasto programa de actividades artísticas foi elaborado para o efeito, da qual se destaca o concerto do músico internacional Roga-Roga, líder do grupo congolês Extra Música, hoje, às 19h30, no largo Dr. António Agostinho Neto, em Mbanza Kongo. Ibambi Okombi Rogatien, mais conhecido por RogaRoga é autor, compositor e intérprete da República do Congo. Começou a carreira musical com a orquestra “Kogex Star” de Mava Tytan. Depois desta experiência, criou, com os seus amigos de infância, a famosa orquestra “Extra Música” da qual é o líder.
Entre ndomboló, rumba e soukous, o FestiKongo será uma oportunidade para descobrir o universo musical daquele que é considerado “O Grande Zangul” do Congo.
O programa reserva ainda para hoje, às 16h00, no mesmo local, o lançamento do livro “Um Oceano, Dois Mares e Três Continentes” do escritor franco-congolês Wilfried Nsondé, e tradução para português por Mena Abrantes, com o título “Filho Bem Amado do Kongo: Nsaku ne Vunda”.
O romance “Filho Bem Amado do Kongo: Nsaku ne Vunda”, que será também apresentado na segundafeira, às 17h30, na sede da União dos Escritores Angolanos (EUA), em Luanda, narra a odisseia da viagem do primeiro embaixador negro para o Vaticano (Itália), Dom António Manuel (Nsaku ne Vunda), que nasceu por volta de 1583 nas margens do rio Kongo. Órfão criado no respeito dos antepassados e das tradições. Educado pelos missionários, baptizado Dom António Manuel no dia da sua ordenação, ei-lo, mesmo no começo do século XVII, encarregado pelo rei dos bakongo de tornar-se seu embaixador junto do Papa. Dizendo adeus ao seu Kongo natal, o jovem padre ignora que a longa viagem que devia levá-lo a Roma vai passar pelo Novo Mundo e que o barco no qual está prestes a embarcar está carregado de escravos.