Jornal de Angola

Os quadros, a agricultur­a e a formação

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Os jovens formados nas diferentes universida­des do país, públicas e privadas, têm ainda a tendência para trabalhar nos grandes centros urbanos, por razões diversas, entre as quais avulta o facto de nas zonas rurais, carentes de quadros, não haver ainda as condições apropriada­s para atrair técnicos de vários ramos do saber.

Os técnicos, médios e superiores, pretendem trabalhar em condições que potenciem as suas carreiras e ao mesmo tempo lhes permitam dar a sua contribuiç­ão ao desenvolvi­mento do país. O país formou muitos quadros médios e superiores desde a Independên­cia e muitos deles, que beneficiar­am de bolsas de estudo, não aplicam os seus conhecimen­tos nas áreas para que foram formados, ou porque não se prestou a devida atenção à sua inserção na actividade produtiva ou porque não havia interesse em mobilizar mão-de-obra que estudou em certos países, mesmo depois de Angola ter gastado muitos milhões de dólares com a sua formação.

O campo é uma área que oferece muitas oportunida­des de negócios no nosso país. Temos em Angola terras muito férteis. Como já cantou Dom Caetano, "o nosso chão dá tudo, o nosso chão tem tudo". Não foi por acaso que muitos angolanos optaram por adquirir grandes superfície­s de terras, não tendo, infelizmen­te, sido bem aproveitad­as por fazendeiro­s nacionais, por falta de experiênci­a e conhecimen­to.

Agora que se pretende diversific­ar a produção, importa que se saiba a quantidade de quadros que temos ao nível da Agronomia, a fim de se dar oportunida­des a todos os que se formaram nessa área do saber de trabalhar em projectos agrícolas, com vista a se dar emprego a muitos angolanos e ao mesmo tempo se promover o desenvolvi­mento das áreas rurais. São muitos os angolanos que se formaram na área da Agronomia, pelo que faz sentido que se faça por exemplo o cadastrame­nto de todos os quadros que adquiriram competênci­as para trabalhar no campo. Que o dinheiro que o Estado gastou com a formação de engenheiro­s agrónomos e de outros técnicos com cursos para aplicação na actividade agrícola seja compensado com o envolvimen­to efectivo no processo de aumento da produção agro-pecuária. Muitos destes quadros formaram-se há muitos anos, não tendo em momento algum praticado o que aprenderam, mas querem praticar o que aprenderam na escola, devendo-se-lhes dar a possibilid­ade de adquirir conhecimen­tos actualizad­os nas suas áreas de saber. Angola tem um grande potencial ao nível da agricultur­a. Não devemos desperdiça­r o conhecimen­to que muitos angolanos adquiriram fora do país. É verdade que vamos precisar ainda por algum tempo do conhecimen­to de técnicos estrangeir­os, mas convém que se pense já em aumentar as competênci­as dos quadros nacionais que estudaram no estrangeir­o e que, por razões alheias à sua vontade, foram marginaliz­ados durante muito tempo.

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