Faraós chamam adeptos na corrida ao título africano
A grande nação egípcia volta a transformar-se num estádio com mais de 90 milhões de adeptos, quando os Faraós defrontarem, às 20h00, os Bafana Bafana sul-africanos, para a decisão da presença nos quartos-de-final da 32ª edição da Taça de África das Nações em futebol, que conhece o campeão no dia 19, no Cairo.
Orientada pelo mexicano Javier Aguirre, a selecção do Egipto, apoiada por milhares nas bancadas, sempre mais de 70 mil, e milhões nas ruas, assume o favoritismo diante da similar da África do Sul, cuja presença na segunda fase da competição agradece aos Palancas Negras, por não terem sido capazes de empatar diante das Águias do Mali, na derradeira jornada do Grupo E, na cidade de Ismailia.
Vencedores do Grupo A, com 9 pontos, os donos da casa apostam na mesma receita para continuar a triunfar. Mohamed Elshenawy, Ahmed Hegazi, Mahmoud Trezeguet, Mohamed Elneny e Mohamed Salah destacam-se na esquipa.
Nos sul-africanos, terceiros do Grupo D, 3 pontos, as aspirações são modestas. Apenas o espírito democrático do futebol permite aos Bafana Bafana almejar a reedição de um clássico do futebol continental, em 1996 e 98, períodos de glória da nação arco-íris, inspirada por Nelson Mandela.
O técnico Stuart Baxter confia o comando da equipa aos influentes Ronwen Williams, Buhte Mkwanazi, Lebo Mothiba e Percy Tau.
Queda de candidato
A cidade de Alexandria vai testemunhar, às 17h00, a queda de um candidato à conquista do título, quando jogarem Nigéria e Camarões.
Discretas na primeira fase, em que se deixaram dominar pelo surpreendente Madagáscar, primeiro do Grupo B, 7 pontos, as Super Águias, segundas classificadas, 6, sabem que a empreitada exige uma entrega redobrada. Quando confrontado com a greve dos jogadores convocados por Srdjan Vasiljevic, que paralisaram os trabalhos, durante o estágio em Portugal, Mário Soares, treinador e pedagogo, responsável pelo sucesso do Desportivo da Huíla no Girabola e na Taça de Angola da época finda, recorreu a uma máxima dos pensadores do desporto, para classificar o que se poderia esperar dos Palancas Negras no Egipto: “as vitórias preparam-se, as derrotas anunciam-se”.
O tempo, no seu infalível poder de dar respostas às inquietações humanas, com recurso à prática, como forma de aferir a verdade, mostrou da pior forma o que a Selecção Nacional preparou para a representação
O empate (1-1),
golo de Djalma Campos, com uma exibição acima da média, lançou perspectivas de uma boa campanha, a contrariar a ideia de que a turbulência vivida em Portugal e continuada após a chegada ao Cairo fosse o anunciar do fracasso. Estava tudo a convergir para a união das vontades, em prol do êxito de Angola, até à tarde em que a nossa equipa de reportagem, a única presente no complexo turístico Marine Wadi Degla, a fim de cobrir o treino da Selecção Nacional, ficou a saber da possibilidade de paralisação dos trabalhos a seguir à disputa da segunda jornada.
A notícia obrigou à convocação do “gabinete de crise” da FAF, que às pressas decidiu que seria lido um comunicado, no final do treino, como desmentido, sem direito a perguntas, posição recusada pelos jornalistas presentes no local. Mais tarde, ao cabo de várias chamadas telefónicas do Cairo para Luanda, surge a mensagem de Mateus Galiano, a reiterar a união do grupo.
Só que já era do domínio dos jornalistas que Artur Almeida e Srdjan Vasiljevic tinham travado uma discussão com ânimos exaltados, cujo mal-estar daí decorrente Armando Machado, presidente honorário da FAF, fez questão de tentar apaziguar. O dirigente federativo chegou mesmo a apontar o sentido da rua ao treinador, quanto ao comando da equipa, se quisesse sair com a prova a decorrer.
A partir daí, tudo mudou. Instalouse a descrença e a falta de confiança no balneário. Jogadores e técnicos ficaram ainda mais afastados da direcção, representada pelo vice-presidente para as Selecções Nacionais, Adão Costa, enquanto Artur Almeida servia a máquina organizadora da CAF, como comissário, função de utilidade questionável quanto aos benefícios do país, sobretudo num período de tensão, que exigia uma liderança forte.
A igualdade (0-0) frente à Mauritânia, ainda em Suez, deixou no ar o risco de nova eliminação precoce, a sexta, terceira consecutiva. Ainda assim, a combinação dos resultados dos vários grupos acabou por aliviar a carga de exigência dos Palancas Negras, que precisavam apenas de empatar, para chegar aos oitavosde-final. E, como a verdade manda dizer que quem dá o que tem, a mais não se obriga, a Selecção aceitou, com naturalidade, a derrota (0-1) frente à similar do Mali. Passou a África do Sul, de alguma forma retribuída do desconforto causado pelo cancelamento do amistoso.
No rescaldo das peripécias, desmentidos e sonhos frustrados, o que fica é que os jogadores, ainda à espera do prémio de qualificação, pedem maior organização aos dirigentes, como fizeram Mateus e Djalma, enquanto outros prometem repensar à continuidade, caso do estreante Bruno Gaspar. Os Palancas Negras voltam a competir já no final do mês e princípio de Agosto, para o CHAN, e em Setembro, na corrida ao Mundial de 2022, no Qatar.