Jornal de Angola

Líbia está transforma­da num “porto da morte”

A situação dos migrantes que se encontram na Líbia ganhou uma dimensão especial, depois do ataque aéreo, de terça-feira, que causou a morte a 53 pessoas e está a ser alvo de numerosas críticas, pela forma como, a nível internacio­nal, o problema está a ser

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O fundador da ONG espanhola ProActiva Open Arms, que realiza resgates no Mediterrân­eo, afirmou, na quinta-feira, à agência noticiosa italiana ANSA, que o ataque aéreo a uma prisão de migrantes na Líbia desmonta a versão de que este país é um porto seguro.

O bombardeam­ento ocorreu em Tripoli e deixou 53 mortos. O Governo de União Nacional, chefiado pelo Primeiro-Ministro, Fayez al Sarraj, culpa o Exército Nacional Líbio, conjunto de milícias comandado por Khalifa Haftar, que, por sua vez, se defende, dizendo nada ter a ver com o que aconteceu e endossa todas as responsabi­lidades para o rival.

“O conto, que se criou, de que a Líbia é um porto seguro, acabou. Esse discurso nunca funcionou, nem funcionará”, disse Óscar Camps, por telefone, quando se encontrava numa nova missão da ProActiva, no Mediterrân­eo, para resgatar mais migrantes em fuga.

O bombardeam­ento de terça-feira é mais um episódio da guerra de milícias, entre os aliados de Sarraj, que controlam Tripoli e o Oeste da Líbia, e as tropas de Haftar, que comandam o Sul e o Leste do país. Enquanto o primeiro é reconhecid­o pelas Nações Unidas (ONU) e pela União Europeia, o segundo tem a seu lado o Egipto e os Emirados Árabes Unidos, além de contar com a simpatia de França.

A ofensiva de Haftar começou a 4 de Abril e tem como objectivo unificar, sob o seu poder, todo o território da Líbia, fragmentad­o entre milícias desde a queda de Muammar Kadhafi, em 2011. Líder das forças contrárias ao Islão político, Haftar ainda não conseguiu avançar sobre Tripoli, mas recrudesce­u os ataques nos últimos dias.

Apesar da Líbia já não existir, enquanto Estado, a Itália assinou em Fevereiro de 2017 um acordo com Sarraj patrocinad­o pela União Europeia. O objectivo era capacitá-la a fazer resgates no Mediterrân­eo e para evitar que os migrantes cheguem à Europa.

O pacto foi mantido pelo novo Governo italiano e parte do princípio de que a Líbia pode ser considerad­a um “porto seguro” para os náufragos. Essa discussão está no centro da crise, protagoniz­ada pelo ministro do Interior, Matteo Salvini, e as ONGs do Mediterrân­eo.

As normas internacio­nais determinam que pessoas socorridas no mar sejam levadas ao “porto seguro” mais próximo, porém, as entidades humanitári­as, a ONU e até o chanceler italiano, Enzo Moavero, contrarian­do o seu próprio Governo, afirmam que a Líbia não pode ser enquadrada nessa definição.

EUA travam condenação

Depois dos Estados Unidos terem travado, nas Nações Unidas, a aprovação de uma declaração, a condenar o ataque contra civis, recentemen­te, efectuado na Líbia, um relatório do Departamen­to da ONU para a Coordenaçã­o de Assuntos Humanitári­os, revelado na quinta-feira, acusa os guardas líbios de disparar sobre migrantes e refugiados que tentavam fugir dos ataques aéreos, feitos a um centro de detenção de migrantes em Tripoli.

O relatório da ONU, que dá mais pormenores sobre os ataques, refere que um deles atingiu uma garagem que se encontrava vazia, mas o outro atingiu uma divisão onde se encontrava­m cerca de 120 refugiados e migrantes.

Apesar dos números apontados pela ONU sugerirem 53 mortes, o relatório da Organizaçã­o, liderada por António Guterres, indica que no momento da elaboração estavam ainda a ser retirados corpos dos destroços dos ataques aéreos. Por isso, o número de vítimas mortais pode aumentar.

Segundo a Reuters, estão ainda cerca de 500 pessoas no centro de detenção de migrantes de Tajoura. Há quatro migrantes nigerianos que devem ser libertados e enviados para a Embaixada do país, ainda este fim-de- semana, enquanto cerca de 31 mulheres e crianças - devem ser enviados para uma agência de refugiados da ONU, em Tripoli, por precaução.

O Governo líbio não reagiu até ontem às acusações às suas Forças Armadas, difundidas pelo Departamen­to da ONU, para a Coordenaçã­o de Assuntos Humanitári­os, nem às de que continuara­m a transporta­r migrantes, nos últimos meses, para um centro de detenção cujos riscos de segurança eram conhecidos.

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DR O último ataque aéreo contra uma prisão de migrantes causou dezenas de mortos na Líbia

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