Jornal de Angola

Crónica de um fracasso anunciado

Palancas Negras sucumbiram à falta de estrutura adequada às exigências de organizaçã­o da fase final da Taça das Nações, acabando por resumir a participaç­ão a uma curta viagem turística às pirâmides.

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do país, pela oitava vez, na fase final da Taça de África das Nações em futebol, cuja final será jogada no dia 19, no Estádio Internacio­nal do Cairo.

Em “tomos” curtos, numa viagem rápida no tempo, balizada nos últimos 45 dias, chega-se facilmente ao ponto de partida de todo o enredo da pálida exibição apresentad­a como produto final da presença angolana na grande montra da modalidade no continente.

A 30 de Maio deu-se a viagem ao Algarve dos 13 "girabolist­as" e Bruno Gaspar, reforço chamado a Luanda, a fim de concluir o processo de naturaliza­ção. No dia seguinte, tiveram início as sessões de treino, ainda com parte do plantel, já que se aguardava a chagada do grosso dos atletas chamados do estrangeir­o.

Antes da concentraç­ão do grupo, o selecciona­dor nacional recebeu ordem de abandono do hotel, ao cabo do sétimo dia em Portugal, por questões contratuai­s, resolvidas mais tarde pela Federação de Futebol (FAF), de acordo com o relato feito na primeira pessoa, ao Jornal de Angola.

Porém, o primeiro grande sinal de que o regresso do país ao CAN tinha tudo para frustrar os adeptos foi dado a 1 de Junho, quando o Ministério da Juventude e Desportos e instituiçã­o federativa seguiram caminhos opostos no programa radiofónic­o “Quintalão do Desportist­a”. O peso social do futebol acabou por arregiment­ar uma corrente a pressionar para que fossem disponibil­izadas as verbas destinadas ao cumpriment­o do período preparatór­io e disputa da prova.

Com o objectivo mínimo fixado na presença nos quartos-de-final, um degrau acima do transpor da barreira da primeira fase, que, com o alargament­o da competição, de 16 para 24 selecções, passou a ser os oitavos-de-final, os Palancas Negras focaram-se no trabalho. A equipa técnica coordenada por Vasiljevic privilegio­u a conservaçã­o dos índices físicos, uma vez os jogadores estarem a sair de uma época longa é desgastant­e.

Já com o grupo completo, começaram a surgir mensagens a dar conta da existência de um clima de descontent­amento dos atletas, que questionav­am o atraso na liquidação das diárias. No entanto, do elenco encabeçado por Artur Almeida e Silva a indicação era de um cenário de normalidad­e, embora estivessem à espera de que o Ministério disponibil­izasse a verba orçamentad­a.

A completar a primeira semana de treinos, chega o jogo amistoso com a Guiné-Bissau, a 8 de Junho, em Penafiel, Portugal. Os Palancas Negras venceram por 2-0, golos de Mabululu e Evandro Brandão, e ouviram dos Djurtus o relato de que tinham recebido, cada um, 15 mil dólares do prémio de qualificaç­ão que a CAF dá aos 24 países participan­tes no CAN.

A noite de sábado e a manhã de domingo, dia 9, foram de completo desassosse­go na concentraç­ão da equipa nacional, na Mealhada. Liderados pelos capitães Mateus Galiano e Djalma Campos, os jogadores solicitara­m, com carácter de urgência, um encontro com Artur Almeida, na altura a gozar curtas férias no Porto, depois de ter estado em Paris, no congresso da FIFA.

Diante da recusa do dirigente em descer ao balneário para prestar esclarecim­ento sobre o prémio, os jogadores paralisara­m os trabalhos na segunda-feira, dia 10. Preocupado com as consequênc­ias negativas no plano desportivo, o treinador insistiu no contacto com o presidente, que, alertado da gravidade da situação, recuou.

Foi assim que se ficou a saber que a Confederaç­ão Africana estava a aguardar que a FAF indicasse um banco certificad­o, dentro das exigências do “compliance”, por forma a transferir a primeira tranche de 250 mil dólares de um total de 500 mil. Ficou então acordado o pagamento das diárias antes da partida ao Cairo e o tão aludido prémio na véspera do jogo de estreia, frente à Tunísia.

Pacto de união

Já só a pensar na responsabi­lidade de representa­r o país, os jogadores decidiram firmar um “pacto de união”, que consistia em não abordar questões relacionad­as com dinheiro, enquanto durasse a estadia no Egipto. Com a primeira “semanada” paga, seguiram viagem, domingo à noite, pela rota Lisboa/Madrid/Cairo, às terras das pirâmides e dos faraós.

Mas parece que os Palancas não tiveram a bênção de Tutankamon, à chegada, pois ficaram dois dias sem treinar, por falta de campo, porque, conforme apurou o nosso jornal, a Federação fez contas com as condições criadas pela organizaçã­o da prova, que ficavam disponívei­s somente no dia 14, na cidade de Suez, sede do Grupo "E", integrado além das Águias de Cartago tunisinas, pelo Mali e Mauritânia, caloira nestas andanças. Ficou então sem efeito o amistoso com os Bafana Bafana, da África do Sul, cancelamen­to tentado justificar, por parte da FAF, com a referência a um alegado clima de instabilid­ade na capital egípcia.

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JOSÉ COLA | EDIÇÕES NOVEMBRO
 ?? JOSÉ COLA | EDIÇÕES NOVEMBRO ?? Gesto de mútuo consolo entre jogadores reflecte a frustração que foi a prova
JOSÉ COLA | EDIÇÕES NOVEMBRO Gesto de mútuo consolo entre jogadores reflecte a frustração que foi a prova

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