Os Kiezos regressam à ribalta
Os Kiezos, na sua maior força, com todas as suas gerações de integrantes, proporcionaram duas grandes noites, repletas de emoções. O conjunto, que na sua fase inicial animava farras de quintal, no passado final-de-semana preencheu o cartaz de mais uma edi
Após a abertura das cortinas, o conjunto Os Kiezos surgiu, e, como no antigamente, a abertura foi feita com um instrumental de Hildebrando Cunha, o menino-prodígio da guitarra angolana do início dos anos '70, o primeiro a dar vida ao tema “Obrigado, meu amigo”. Desta feita, o solo esteve a cargo de Botto Trindade.
Nas cantadas foi interessante a abertura, com “Monami”, uma versão que Kituxi fez de um tema de Roberto Carlos. A segunda voz a subir ao palco foi Zé Manico, interpretando, de Fausto Lemos, “Mbaku Kavalé”; e a terceira voz, das escolhidas para cantar os temas notáveis dos Kiezos foi Tony do Fumo Filho, que, do seu pai, cantou “Kamba Kamba”.
Brando voltou a tirar as harmonias da sua viola para solar “Memórias de Lamartine”, mais um hit da genialidade do guitarrista Marito, inspirado num assobio de Carlos Lamartine. Por outro lado, o trio de vocalistas fez vibrar a sala chique ao som de temas como “Lamento de Mingo”, “Wavalela ô mona” e “Ngana Nzambi”, numa altura em que os bons hábitos festivos daqueles que absorveram a música angolana feita nos musseques começavam a manifestar-se.
Uma rapsódia iniciada com o tema “Nossa Senhora (Sá da Bandeira)”, que no passado Os Kiezos executaram acompanhando Belita Palma, foi cantado pela ainda desconhecida jovem Neide, que ajudou a levantar a fasquia, com uma performance que agradou aos presentes. No seguimento, “Belita”, “Nzoyami” e “Mua Pangu” agitaram as vassouras e levantou a pouca poeira do local.
Botto Trindade, um dos mais fiéis executantes do que foi criado originalmente por Marito, mostrou toda a sua mestria em “Semba Henda”, assim como em “Semba Popular”, sem deixar de lado a execução do tema de sua autoria e seu principal cartão-de-visita, “Benguela libertada”.
Ainda houve tempo para sucessos como “Candonga” e “Maximbombo”, do falecido showman Zecax, que celebrizou os bordões “Os Kiezos em ponto rebuçado” e “Parece comida”.
“Monami messena” e “Kiezos yabu kya”, de Toni do Fumo, foram cantadas pelo filho deste, que aproveitou para revelar que o segundo tema foi criado numa altura em que o seu pai encontrava-se a cumprir uma pena de prisão na Damba e o Juiz impôs-lhe a condição de, uma vez liberto, ingressar nos Kiezos. Os dotes de dançarino de Tony do Fumo Filho influenciaram as coristas, que deram uns toques de caxexe.
A execução da interventiva e obrigatória “Milhorró”, marca do engajamento político do conjunto Os Kiezos, foi arrepiante.
A parte final do show esteve reservada para aqueles sucessos que agitaram os salões de farra do quintal, os centros recreativos e outros recintos de espectáculos populares: “Muxingue ngamba (Lavadeira)”, “Xe xemaie” e “Rosa Rosé”. Esses temas remeteram a plateia entusiasta a outras vozes do conjunto, como Vate Costa, Juventude e Fausto Lemos. Para acabar mesmo, Zé Fininho, ao interpretar “Princesa Rita”, fechou com chave de ouro mais uma actuação do lendário Os Kiezos.
Aguentaram as duas noites Botto Trindade, Hildebrando Cunha, Zeca Tirilene, Gegé Faria, Dulce Trindade, Juca Vicente e Habana Mayor, que receberam o reforço de Zé Fininho na dicanza e João Diloba, que foi alternando, na execução da bateria e dos bongos, com Zuca.