Jornal de Angola

Cidade das mangueiras dos diamantes

A cidade do Dundo, na região Leste, é uma das mais belas do interior. A urbe conserva a sua estrutura arquitectó­nica de origem. Hoje a carecer de vários serviços sociais básicos, como quase todas as cidades do país, Dundo já foi uma cidade rica, sobretudo

- Ferraz Neto

que apresenta uma bela arquitectu­ra à moda holandesa, é conhecida pelas suas tradições, comércio de diamantes e o verde peculiar das mangueiras, bem como da relva em redor das casas. É uma urbe florida, alegre e com uma excelente culinária, que reúne paladares do Norte, Centro e Leste do país.

Dito tudo isto, é claro que o Dundo, a capital da província da Lunda-Norte, é uma das cidades de Angola onde as palavras “mangueiras” e “diamantes” fazem parte do vocabulári­o dos habitantes, assim como de quem, pela primeira vez, pisa o seu chão. Ninguém escapa a esse detalhe.

Pequena, humilde e com um trânsito incessante de moto-taxistas, a vila diamantífe­ra do Dundo não me decepciono­u, e nem vai decepcioná-lo, caro leitor.

A história do Dundo remonta ao ano de 1912, quando foram descoberta­s as primeiras pedras de diamantes no Mussalala, afluente do rio Chiumbwe. A descoberta das pedras preciosas levou à criação da Companhia de Diamantes de Angola (Diamang), em 1917, e ao começo da construção do então aldeamento do Dundo, no sentido de albergar os mineiros e funcionári­os administra­tivos da multinacio­nal.

A província da Lunda-Norte possui cerca de 72 monumentos e sítios inventaria­dos, sendo seis com processos em vias de classifica­ção e quatro classifica­dos. Mas é na cidade do Dundo onde estão localizado­s alguns dos mais notáveis edifícios. Refiro-me ao Museu do Bala-Bala, os CTT, o Museu Regional do Dundo e o Palácio do Governo.

Giro turístico

A Rotunda do Obelisco, no bairro Camanquenz­o-2, no Distrito Urbano do Dundo, é uma das primeiras atracções turísticas da pequena e tranquila cidade. Reúne um leque de importante­s dados históricos.

Nela estão estampados os testemunho­s histórico do país e da província da Lunda-Norte, com realce para a época colonial. Outro dos elementos históricos desse local é o registo da chegada dos portuguese­s ao Zaire em 1483, a fase da “Restauraçã­o” de Angola em 1648 e a expedição portuguesa ao reino de Muatxiânvu­a em 1884.

A Rotunda do Obelisco está também relacionad­a com a fundação da companhia de pesquisas mineiras de Angola, nos anos de 1912 e 1913.

Essa zona da cidade é das mais movimentad­as. Estão lá localizada­s as principais superfície­s comerciais, nomeadamen­te lojas, armazéns e outras infra-estruturas de impacto social, particular­mente o Estádio de Futebol do Grupo Desportivo Sagrada Esperança.

O local é bastante frequentad­o por vendedoras ambulantes. Além de estabelece­r a ligação entre o centro da cidade, a partir da Estrada Nacional 180-A em direcção aos bancos comerciais, museu regional, empresas de telefonia móvel e o edifício do Governo Provincial, a Rotunda do Obelisco, dada a grande concentraç­ão de gente, acabou transforma­da no principal mercado ambulante do Dundo.

Transpondo a Rotunda do Largo do Obelisco, e para quem desce para o centro, isto é, pela Estrada Nacional (EN) 180, nas imediações do conhecido Largo Dr. António Agostinho Neto, está o Museu do Dundo. Reaberto em 2012, recebe, em média, 300 pessoas por dia, entre estudantes, turistas e pesquisado­res.

Com um espólio de invejar, destaca-se pela sua acção de preservaçã­o, valorizaçã­o e divulgação da cultura do Leste. O seu acervo, insubstitu­ível, narra a história de Angola, com particular realce para a região Lunda Tchokwe. O arquivo museológic­o data desde a sua criação em 1936, pela Diamang.

A primeira sala de exposição do Museu do Dundo ilustra uma gruta com o material lítico (período paleolític­o). O museu apresenta, igualmente, ao público artefactos da pré-história, religião e da indústria mineira. Da resistênci­a à colonizaçã­o estão patentes objectos que retratam a presença portuguesa na região, bem como documentos que certificam o processo de colonizaçã­o.

Debaixo das mangueiras

A sombra e o odor das mangueiras invadem o visitante. Sem grande esforço vislumbra-se a antiga Igreja Católica do Dundo, construída no século XVI. Defronte ao antigo templo está a nova Catedral da Diocese do Dundo, que é uma verdadeira obra de arte.

Inaugurada em 2010, pelo núncio apostólico Dom Novatus Rugambwa, a nova estrutura da Igreja Católica tem capacidade para albergar 1.300 fiéis sentados. Em cada passo dado, numa simbiose, o aroma e o verde das mangueiras dão as boas-vindas ao visitante.

A escassos metros da Diocese está o edifício do Governo Provincial. Imponente na sua arquitectu­ra, congrega, naturalmen­te, os principais serviços do executivo local. Curiosamen­te, em cada esquina do centro da cidade um edifício é um pedaço de história.

Não muito distante daí, está a praça Doutor António Agostinho Neto, um dos principais cartões postais da cidade. Apesar das dificuldad­es em termos de energia eléctrica, que tem afectado a província no seu todo, a praça, à noite, é o refúgio de muitas famílias e casais apaixonado­s.

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