Símbolo dos musseques de Luanda
Antigo bairro de terra vermelha, o Sambizanga, como tão bem cantou o falecido músico Bell do Samba, é o local de nascimento ou de crescimento de muitas figuras que hoje compõem o mosaico político, desportivo e cultural da capital, e não só. Bairro fervilh
A circunscrição, segundo relatos de moradores antigos, começou a ser habitada por volta de 1928, quando começou a receber gentes provenientes da Samba e da Zanga (arredores da Ilha de Luanda).
“O que a gente ouviu dos mais velhos é que os populares que viviam naquelas localidades, a maioria da etnia bakongo, é que atribuíram a designação ao bairro”, diz José João Diamantino da Costa.
A nossa fonte revela ainda que o nome da circunscrição, de acordo com os mais velhos, resultou da junção dos nomes das localidades de origem dos primeiros habitantes: Samba e Zanga.
Dizem as crónicas orais que no tempo colonial o bairro era calmo. Geograficamente era caracterizado por três sectores: Santo Rosa, Musseque Mota e Lixeira.
O Santo Rosa partia do São Paulo, ou seja, da Rua do Kikombo até às imediações do estabelecimento do comerciante Travassos, passando pela Casa Branca.
Do Travassos até à antiga Rua da Académica, hoje 12 de Julho, o território era designado Musseque Mota; e da Rua 12 de Julho para mais adiante, passando pela Sede do Progresso, era o Bairro da Lixeira.
A circunscrição tinha grandes indústrias. Por exemplo, onde está hoje o Betão Zaire existia a fábrica de gasosa Canada Dray; e a Panga Panga antigamente era a Jomar, uma indústria de madeira e contraplacados.
Os garotos, nas suas brincadeiras inocentes, galgavam sem rodeios os três sectores do Sambizanga, sob os olhares atentos da PIDE, então lideradas, localmente, por Macaco Cão e Cassipiti, que insistentemente rondavam o bairro à procura de eventuais “terroristas”.
Independentemente dessas situações, o bairro no tempo colonial era um bom lugar para viver. Apesar de alguns “kotas” comercializarem a sua liamba para amealhar alguns trocados e da existência dos “carniceiros” (uns “kotas” da Kibala que gostavam de lutar com faca), não havia tanta delinquência como existe hoje.
Diamantino da Costa, assim é commumente chamado, recorda-se de ter presenciado uma luta no Beco da Formiga, “em que um ‘carniceiro’ tirou as tripas ao seu adversário”. A vítima, segundo Diamantino da Costa, foi o “kota” Cambaio, que “só não morreu graças à pronta intervenção dos que presenciaram a luta”.
A nossa fonte narra quase graficamente a ocorrência, pelo que desde já pedimos as nossas desculpas aos leitores dotados de grande susceptibilidade: “Pegaram nas tripas e voltaram a colocálas na barriga. Amarraram com um pano e levaram o ‘kota’ Cambaio para o hospital mais próximo. Ele viveu mais uns tantos anos”.
Beco da Formiga
Era então o Sambizanga uma localidade de muitos becos e “contra-becos”. Os becos eram os lugares predilectos dos “kotas” que fumavam liamba e, ao mesmo tempo, passagens de emergência para os assaltantes e os que fugiam às rusgas. O Beco da Formiga, no Santo Rosa, era o mais famoso, pois servia de zona de trânsito dos que iam realizar assaltos ao mercado de São Paulo.
“Esse beco era um autêntico refúgio para nós, porque facilitava as nossas manobras. A partir de uma das alas estratégicas do beco tinhas a facilidade de ir desembocar na área do Travassos e daí partir para outro local sem grandes constrangimentos”, confidencia Diamantino da Costa.
O estratégico “labirinto” também dá acesso à Rua do Mainyel, onde existe uma entrada que desembocava na área do imóvel do comerciante português Ferreira. Diamantino da Costa conta que era aí que os garotos íam tomar banho de chuveiro.
“Tinham de pagar a módica quantia de um escudo ou de cinco tostões ao comerciante luso, o local não era público. Depois do pagamento, cada um recebia uma senha. O banho era cronometrado, para que ninguém demorasse muito tempo no chuveiro ”.