Literacia sobre média
Uma importante e necessária iniciativa é a Campanha Educação para os Média, uma iniciativa da ACAN - Associação de Comunicólogos de Angola, em parceria com o Programa das Escolas Associadas da UNESCO, que tem por principal objectivo formar para análise crítica e a compreensão da natureza dos diferentes Médias e dos produtos, técnicas comunicacionais e mensagens por eles utilizadas, bem como do seu impacto nos indivíduos e na sociedade, dotando os estudantes de ferramentas para um uso crítico e informado como consumidores e produtores de conteúdos. A cultura da participação, incentivada pelas tecnologias digitais, renova o cenário da informação e da comunicação, assim como faz surgir demandas até aqui inexistentes de literacia. Com o vasto leque de possibilidades para o acesso aos mais diferentes conteúdos e informações, novos desafios estão postos à área da literacia mediática e informacional, com ênfase no ambiente vivenciado das novas tecnologias, a identificar o contributo da competência dos Média para a caracterização e avaliação crítica dos seus conteúdos enquanto fonte de informação, disseminados todos os dias na Internet. O tema da iniciativa da ACAN, “A literacia da média em Angola”, tem sido objecto de pesquisa de muitos profissionais dedicados ao assunto. A conclusão a que todos chegam converge no sentido de que seja observada a compreensão crítica da informação em diversos contextos, especialmente no que se refere à avaliação de conteúdos que não estão restritos somente a ambientes académicos, daí o mérito da ACAN de voltar a sua preocupação para a qualidade dos conteúdos dos média que são difundidos na Internet, redes sociais, bem como dos média convencionais. Em tempos de Médias sociais virtuais, as mensagens com capacidade de persuasão passadas, sobretudo, por líderes de opinião digitais são especialmente relevantes. Um fazedor de opinião digital é capaz de gerar mensagens persuasivas e de conseguir mudar a atitude dos seus seguidores. Quando usada dentro dos limites da ética e deontologia, devemos utilizar este poder de persuasão para fazer com que os cidadãos aceitem a informação fornecida, influenciando-os para a adopção de práticas que contribuam para a construção de uma sociedade mais justa. Ser um alfabetizado na era digital é ser dotado de certas competências que são enfatizadas através da utilização das tecnologias digitais, como, por exemplo, o uso hábil da informação, que inclui a capacidade crítica de análise, avaliação e leitura dos diversos conteúdos dos média, etc., relacionadas directamente a uma competência abrangente que ultrapasse o processo de identificar a veracidade ou credibilidade de uma informação ou conteúdo e que alcance o contexto no qual estão inseridas as mensagens. Para isso, é indispensável ter o discernimento da função e papel que uma mensagem exerce ou o contexto político que a originou, pois é assim que atingimos a compreensão de que qualquer informação e texto é uma representação do mundo, sustentada por uma linguagem. E, no ambiente digital, que multiplica a produção desses textos e entrelaçam mensagens, é reforçada a necessidade de desenvolvermos em quem produz e em quem consome essa mesma produção, a capacidade de fazer uma leitura crítica, dentro do contexto aplicado. Sabemos que é possível verificar a relação directa e positiva entre a capacidade de persuasão de uma mensagem e a aceitação da informação contida nessa mensagem. Assim como entre a mensagem persuasiva e a mudança de atitude em relação ao comportamento dos cidadãos. Isso confirma ainda mais a relevância dos líderes de opinião, pois nos tempos actuais toda e qualquer influência que motive as pessoas ao questionamento sobre a qualidade das mensagens é de grande valia. Somente através de cidadãos conscientes do seu papel social é que iremos juntos superar os ataques de Fake News e pós-verdade que estão a ser gerados massivamente todos os dias. Devemos, no entanto, admitir que cometemos erros quando reproduzimos e ampliamos sem o mínimo censo crítico as mensagens que nos chegam através da facilidade das redes sociais. Estamos a ser tão - ou mais - manipuladores do que aqueles que produzem conteúdos falsos e caluniosos. Nós que possuímos alguma capacidade de discernimento entre o certo e o errado ou a verdade e a mentira, precisamos - no mínimo - apurar as informações e contextualizálas antes de darmos eco ou partilharmos qualquer uma delas. Notícias falsas contribuem não apenas para a desinformação ou formação distorcida de pontos de vista. São também responsáveis pela maioria da disseminação de uma expressiva carga de manifestações preconceituosas, entre as mais notadas temos a xenofobia, diferentes formas de discriminação, intolerância e até casos que culminam com mortes. São, portanto, uma ameaça que ultrapassa o ambiente virtual e atingem resultados reais que são, na grande maioria, danosos para os cidadãos e, em alguns casos, sociedades. Neste cenário digital de tantas possibilidades de convergência entre diferentes linguagens, formatos e médias, o volume de material submete quem produz e quem consome conteúdos aos algoritmos que, essencialmente, “regulam” o acesso à informação. Daí a importância de observarmos a análise crítica como uma habilidade incontornável dos tempos actuais.