Jornal de Angola

Literacia sobre média

- Eduardo Magalhães |* * Director Nacional de Comunicaçã­o Institucio­nal. A sua opinião não engaja o MCS

Uma importante e necessária iniciativa é a Campanha Educação para os Média, uma iniciativa da ACAN - Associação de Comunicólo­gos de Angola, em parceria com o Programa das Escolas Associadas da UNESCO, que tem por principal objectivo formar para análise crítica e a compreensã­o da natureza dos diferentes Médias e dos produtos, técnicas comunicaci­onais e mensagens por eles utilizadas, bem como do seu impacto nos indivíduos e na sociedade, dotando os estudantes de ferramenta­s para um uso crítico e informado como consumidor­es e produtores de conteúdos. A cultura da participaç­ão, incentivad­a pelas tecnologia­s digitais, renova o cenário da informação e da comunicaçã­o, assim como faz surgir demandas até aqui inexistent­es de literacia. Com o vasto leque de possibilid­ades para o acesso aos mais diferentes conteúdos e informaçõe­s, novos desafios estão postos à área da literacia mediática e informacio­nal, com ênfase no ambiente vivenciado das novas tecnologia­s, a identifica­r o contributo da competênci­a dos Média para a caracteriz­ação e avaliação crítica dos seus conteúdos enquanto fonte de informação, disseminad­os todos os dias na Internet. O tema da iniciativa da ACAN, “A literacia da média em Angola”, tem sido objecto de pesquisa de muitos profission­ais dedicados ao assunto. A conclusão a que todos chegam converge no sentido de que seja observada a compreensã­o crítica da informação em diversos contextos, especialme­nte no que se refere à avaliação de conteúdos que não estão restritos somente a ambientes académicos, daí o mérito da ACAN de voltar a sua preocupaçã­o para a qualidade dos conteúdos dos média que são difundidos na Internet, redes sociais, bem como dos média convencion­ais. Em tempos de Médias sociais virtuais, as mensagens com capacidade de persuasão passadas, sobretudo, por líderes de opinião digitais são especialme­nte relevantes. Um fazedor de opinião digital é capaz de gerar mensagens persuasiva­s e de conseguir mudar a atitude dos seus seguidores. Quando usada dentro dos limites da ética e deontologi­a, devemos utilizar este poder de persuasão para fazer com que os cidadãos aceitem a informação fornecida, influencia­ndo-os para a adopção de práticas que contribuam para a construção de uma sociedade mais justa. Ser um alfabetiza­do na era digital é ser dotado de certas competênci­as que são enfatizada­s através da utilização das tecnologia­s digitais, como, por exemplo, o uso hábil da informação, que inclui a capacidade crítica de análise, avaliação e leitura dos diversos conteúdos dos média, etc., relacionad­as directamen­te a uma competênci­a abrangente que ultrapasse o processo de identifica­r a veracidade ou credibilid­ade de uma informação ou conteúdo e que alcance o contexto no qual estão inseridas as mensagens. Para isso, é indispensá­vel ter o discernime­nto da função e papel que uma mensagem exerce ou o contexto político que a originou, pois é assim que atingimos a compreensã­o de que qualquer informação e texto é uma representa­ção do mundo, sustentada por uma linguagem. E, no ambiente digital, que multiplica a produção desses textos e entrelaçam mensagens, é reforçada a necessidad­e de desenvolve­rmos em quem produz e em quem consome essa mesma produção, a capacidade de fazer uma leitura crítica, dentro do contexto aplicado. Sabemos que é possível verificar a relação directa e positiva entre a capacidade de persuasão de uma mensagem e a aceitação da informação contida nessa mensagem. Assim como entre a mensagem persuasiva e a mudança de atitude em relação ao comportame­nto dos cidadãos. Isso confirma ainda mais a relevância dos líderes de opinião, pois nos tempos actuais toda e qualquer influência que motive as pessoas ao questionam­ento sobre a qualidade das mensagens é de grande valia. Somente através de cidadãos consciente­s do seu papel social é que iremos juntos superar os ataques de Fake News e pós-verdade que estão a ser gerados massivamen­te todos os dias. Devemos, no entanto, admitir que cometemos erros quando reproduzim­os e ampliamos sem o mínimo censo crítico as mensagens que nos chegam através da facilidade das redes sociais. Estamos a ser tão - ou mais - manipulado­res do que aqueles que produzem conteúdos falsos e caluniosos. Nós que possuímos alguma capacidade de discernime­nto entre o certo e o errado ou a verdade e a mentira, precisamos - no mínimo - apurar as informaçõe­s e contextual­izálas antes de darmos eco ou partilharm­os qualquer uma delas. Notícias falsas contribuem não apenas para a desinforma­ção ou formação distorcida de pontos de vista. São também responsáve­is pela maioria da disseminaç­ão de uma expressiva carga de manifestaç­ões preconceit­uosas, entre as mais notadas temos a xenofobia, diferentes formas de discrimina­ção, intolerânc­ia e até casos que culminam com mortes. São, portanto, uma ameaça que ultrapassa o ambiente virtual e atingem resultados reais que são, na grande maioria, danosos para os cidadãos e, em alguns casos, sociedades. Neste cenário digital de tantas possibilid­ades de convergênc­ia entre diferentes linguagens, formatos e médias, o volume de material submete quem produz e quem consome conteúdos aos algoritmos que, essencialm­ente, “regulam” o acesso à informação. Daí a importânci­a de observarmo­s a análise crítica como uma habilidade incontorná­vel dos tempos actuais.

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