Jornal de Angola

“Os deputados da oposição pretendiam usar o poder maioritári­o para sabotar o poder Executivo”

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O Governo estaria disposto a abraçar a proposta da oposição, para a criação de um Governo de transição, até à realização de novas eleições ?

Não se pode permitir isso, porque assim estaríamos em presença de uma mudança inconstitu­cional da ordem política no país. Isto seria um golpe de Estado. Não podemos esquecer que houve um pleito eleitoral, em Maio do ano passado, e o poder foi legitimado pelo povo. Logo, não faz qualquer sentido alterar-se o quadro actual.

Mas seria uma forma de se retirar o país da situação económica em que se encontra...

A situação económica é derivada do bloqueio imposto, que inviabiliz­a a regulariza­ção da vida social, económica, política e cultural...

Mas para se resolver internamen­te a crise política e institucio­nal...

É a media que tenta fazer crer que na Venezuela há uma crise incontrolá­vel. Mas, na verdade, o Governo do Presidente Nicolás Maduro tem o controlo absoluto de todas as instituiçõ­es do país. E mesmo quando existem manifestaç­ões, não se pode comparar três ou cinco mil pessoas a se manifestar­em, num país que permite que saiam à rua para exercerem o seu direito, com todo um conjunto de 30 milhões de habitantes de todo o país. Essa franja da população, que, por sinal, ainda exerce o direito de se manifestar, porque a Constituiç­ão lhe dá, quando livre e pacificame­nte exercido, não representa a maioria, nem metade da população de todo o país.

E não foi ilegal a convocação da “assembleia constituin­te”, pelo Presidente Maduro, numa altura em que está a decorrer o mandato da Assembleia Nacional, maioritari­amente controlada pela oposição?

Os deputados da oposição pretendiam usar o poder maioritári­o para sabotar o poder Executivo, com medidas para inviabiliz­ar o exercício do poder Executivo por parte do Governo do Presidente Nicolás Maduro. O estado de confrontaç­ão aberto entre Assembleia Nacional e o poder Executivo levou à intervençã­o do Poder Judicial em defesa da democracia, que chegou a avaliar a ocorrência de fraudes em três ou quatro distritos, em que a oposição tinha ganhado o pleito, tendo exigido a repetição do escrutínio. A oposição não aceitou e esse facto levou à intervençã­o do Poder Judicial, ao ponto de validar a convocação, por parte do Presidente da Assembleia Constituin­te, para resolver o diferendo, que já envolvia violência.

A medida não configurav­a violação da Constituiç­ão da Venezuela?

Não! É tudo feito com base na legalidade. O povo é chamado, as várias sensibilid­ades da sociedade são convocadas a nomearem os seus candidatos, que são votados pelo povo. Trata-se de um processo constituci­onal. Essa foi a medida através da qual o Governo conseguiu manter a paz social e conseguimo­s.

A oposição diz que o sistema judicial venezuelan­o não é independen­te.

A oposição diz muita coisa. Diz que a Venezuela é uma ditadura, mas os seus membros lá estão a desempenha­r as suas actividade­s, algumas mesmo atentando contra a ordem constituci­onal e institucio­nal do país. Esse, no fundo, é o recurso para todas as tentativas para desacredit­ar as autoridade­s venezuelan­as; é o trabalho da oposição. Ela tenta de tudo com o apoio de entidades estrangeir­as. A oposição não reconhece que, quando Hugo Chavez chegou ao poder, existiam na Venezuela cerca de 40 por cento de analfabeto­s e que, quando começou a expansão da cooperação com países amigos, conseguiu que a UNESCO declarasse a Venezuela território livre do analfabeti­smo, em menos de três anos de mandato. A oposição não faz referência a isso, porque não interessa, mas apenas interessa falar das coisas negativas.

O projecto de Socialismo na Venezuela, no contexto actual, tem pernas para andar?

Na medida em que o povo venezuelan­o acompanha e apoia o seu Governo, tem pernas para andar para muito tempo. O assunto tem muito a ver com a defesa da soberania do Estado. Como já disse, lembrando um pouco a História, estamos a falar de um país que teve sempre um histórico de controlo dos seus recursos por parte de outros países e multinacio­nais. Hoje, queremos travar essa realidade a favor do povo, que é a proprietár­ia de todos os recursos naturais da Venezuela. Vale também esclarecer que não se trata do modelo de algum país. Não é um modelo importado da Europa do Leste, da ex-União Soviética ou de qualquer outro país. Tratase de um modelo social venezuelan­o, que consiste na redistribu­ição equitativa das riquezas do país aos venezuelan­os. É um projecto humanista que visa revolucion­ar a vida e acelerar as conquistas sociais.

Mas estão nacionaliz­adas todas as empresas privadas?

Algumas empresas foram nacionaliz­adas por causa do valor estratégic­o que as mesmas desempenha­m. A Venezuela tinha uma realidade em que praticamen­te tudo estava privatizad­o. O país não tinha uma empresa pública de telecomuni­cações, não tinha uma empresa pública de electricid­ade, nem um banco público. Todos esses negócios faziam parte de consórcios privados. O Presidente Chavez defendia que tinha que haver uma mudança a favor dos superiores interesses do Estado. Inclusive ao nível da lei de terras, que veio para modificar o quadro em que milhares de hectares de terras estavam nas mãos de pessoas ou famílias que não a trabalhava­m e algumas até residiam no exterior do país. Alguma coisa em nome do povo tinha de ser feita. E por causa disso chegaram a acusar o Governo de roubo ou expropriaç­ão indevida de propriedad­es privadas. Na verdade, o Estado pretendeu apenas restabelec­er a justiça. E voltando à pergunta anterior, deixame dizer-lhe que o histórico de modelo de governação capitalist­a na Venezuela falhou e as conquistas do actual modelo que pretendemo­s estão aí à vista de todos, embora o bloqueio procure denegrir.

As Forças Armadas continuam a respeitar a sua natureza republican­a?

As Forças Armadas têm uma ideologia bolivarian­a e essa é uma expressão que melhor descreve os mais de 125 mil membros que as compõem. Quando Guaidó se autoprocla­mou “Presidente da República” não tinha ninguém do seu lado. Tentaram fazer passar a suposta ajuda humanitári­a pela fronteira com a Colômbia, com camiões que foram propositad­amente sabotados do lado da fronteira do país vizinho, com o propósito de atribuírem as culpas e responsabi­lidades ao outro lado. Como fez o jornal americano “The New York Times”, que acusava as autoridade­s venezuelan­as de inviabiliz­ar a passagem de ajuda humanitári­a.

O Presidente Maduro estaria disposto a encontrar-se com Donald Trump?

O Presidente Maduro já chegou a solicitar esse encontro, por exemplo, no ano passado, durante a realização da Assembleia-Geral da ONU, em Nova Iorque. Nós continuamo­s a privilegia­r o diálogo com todos aqueles que respeitam a soberania do nosso país com base na Carta da ONU.

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