Os transportes comunitários EDITORIAL
Há dias, foi ensaiada, na província do Bengo, numa iniciativa do governo local, a circulação de transportes comunitários, envolvendo autocarros que vão ligar as comunidades naquela província, tendo como alvo principal o apoio a estudantes e professores.
Trata-se de um passo importante porque, como todos sabemos, o país vive uma escassez enorme relacionada com a ligação inter-localidades, através dos meios de transporte, sobretudo para apoiar um dos sectores que mais importância tem no processo de modernização de Angola: o ensino.
O precedente, largamente positivo, que se abre na província do Bengo, pode servir para “inspirar” mais governos provinciais a embarcar na ideia inovadora que é posta a funcionar no Bengo, estendendo-se a outras áreas.
O crescimento económico de numerosas províncias e, dentro delas, de muitos municípios, comunas e aldeias, tem ficado seriamente condicionado, atendendo a ausência ou dificuldades de mobilidade humana e de bens. Urge, eventualmente, um levantamento para aferirmos sobre o impacto da ausência de uma rede de transportes nas comunidades que ajude as populações a movimentarem-se entre as várias localidades, com ou sem os seus bens.
Provavelmente, assim, nos vamos certificar sobre o quanto o país todo perde, como as populações tendem a empobrecer mais na medida em que não conseguem escoar os seus produtos para os centros de comercialização e de consumo, bem como o atraso no combate aos indicadores que se pretende erradicar.
Na província do Bengo, esperamos que as populações façam bom proveito dos meios para circulação colocados ao serviço das comunidades pelo governo provincial e que as deslocações importantes, nomeadamente às escolas, hospitais, aos locais de trabalho, às lavras e aos mercados estejam salvaguardadas.
Numa altura em que as atenções estão a ser dadas, e ainda bem que assim é, faz todo o sentido que os próximos desafios estejam concentrados na recuperação, reabilitação e construção de mais estradas e vias pelas quais as pessoas e os bens poderão circular.
No fundo, procedendo assim, estaremos a reduzir tempo e custos que, como se sabe, são duas variáveis que incidem pesadamente sobre a compra por parte dos consumidores. Os transportes comunitários podem jogar um papel importante numa altura em que crescem as necessidades de circulação de pessoas e bens de Cabinda ao Cunene.
Por força da crescente produtividade em muitas comunidades, meio por via do qual as famílias associadas ou não em cooperativas agrícolas pretendem, por meios próprios, combater a pobreza, o desemprego, e a fome, faz todo o sentido que nos empenhemos na melhoria das condições de mobilidade. Os transportes comunitários podem fazer toda a diferença na “revolução” da economia local a nível das nossas comunidades, aldeias e “bualas” em todo o país.
É, entretanto, aconselhável que se aposte em soluções duradouras, devidamente auto-sustentadas, para se evitar que passados seis meses ou um ano a iniciativa fique apenas como saudade, porque ditada pelo entusiasmo e menos pelo cuidado com os detalhes para perdurar.