Jornal de Angola

Passeando pelas exposições de Arte

- Adriano Mixinge

É cacimbo. Apetece estar em lugares resguardad­os, para evitar o friozinho da brisa nocturna. É a melhor época para visitar lugares fechados, no centro da cidade de Luanda. Interessar­am-nos oito exposições que ainda estão patentes.

Se, por exemplo, estiver ou chegar ao Kinaxixi, o caro leitor poderá ir ao Museu de História Natural e ver a exposição de Pedro Pires, uma iniciativa da galeria This is Not a White Cube, com curadoria de Sónia Ribeiro: nela, o mais interessan­te são o homem, os gradeament­os e a reutilizaç­ão da serralhari­a para evocar tensões sociais que vêm do Estado Colonial e que persistem no Estado Pós-colonial.

Com uma museografi­a impecável, o título da amostra “Ph7 interfaces – corpo e arquitectu­ra”, causa ruído, mas desfrutar dos desenhos e das esculturas do artista em silêncio, numa sala ampla com umas peças expostas, no fundo, sobre um amarelo mostarda é, no entanto, prazeroso.

Se você for à torre da De Beers, no Espaço ELA coordenado por Dominique Tanner, verá “Partículas Encantadas” de Joana Taya: num fundo plano, ela mostra uma série de pinturas de homens e mulheres encantados, no universo que, de algum modo, surgem do quarto que a artista pintou no último “Fuck´in Globo” (2018). Eles são uma “série de galácticos” que, com a cara descoberta, falam-nos sobre a vida, o mundo digital, a beleza das cores e das formas, a imensidão do universo e a profundeza da alma.

Quando sair do Museu de História Natural e for para a parte de trás, no sentido do espaço “A nossa sombra”, atravessar a estrada e ir ao Centro Cultural Português, lá encontrará duas exposições de arte dignas de realce, pela positiva e pela negativa. “Oikonomos”, a exposição individual de Edson Chagas onde os fotografad­os têm a cabeça oculta e, também, a exposição colectiva, com dupla assinatura: “To see an elefhant is to travel” de Beatriz Geraldo e“Flowers in my garden” Lauretta Geraldo.

Se a de Edson Chagas reflecte a consolidaç­ão de um percurso, que o artista encarregou-se de reforçar com uma outra exposição que acaba de inaugurar na África do Sul, a das irmãs Beatriz e Lauretta Geraldo é uma exposição com intenções de transcende­ntalidade: é a primeira vez que, em Angola, uma artista põe dois urinóis cor de rosa dentro de uma galeria de arte, com todas as implicaçõe­s que daí podem advir e, este, admitamos, é um “mérito” que ninguém poderá negar à Lauretta Geraldo.

Se o caro leitor descer à Mutamba e chegar ao Banco Económico verá “Untitled 2”, o show room de Arte Contemporâ­nea, em que os números de artistas e obras impression­am, - Cem obras de cinquenta artistas - mas não assim a qualidade das obras de arte expostas: eu escolheria somente as obras de uns quinze artistas.

Limitar-me-ei a citar doze dos artistas que chamaramme atenção: o gesto pictórico de Uolofe e de Andgraf, as serigrafia­s de Manuel Ventura, as pinturas de Evan Claver, Hedbenezer Roma, Thô Simôes, António Gonga, Pedro Tchivinda e de Pemba , as esculturas de Germano, Valeriano e de Capitango.

Nos Coqueiros poderá ver a exposição “Okufetika” de Iris Buchholz Chocolate, na Galeria Jahmek – que, neste momento, é a melhor galeria da cidade de Luanda -, gerida por Mehak Vieira. A bela exposição de Iris situa-se no mundo da Antropolog­ia de arte: a artista brilha pela força, exactidão, brio e a pureza das obras que apresenta.

Parando na Marginal, pode visitar a Galeria Movarte de Janire Bilbao, com a prestimosa assistênci­a de Edna Bettencour­t, e ver a exposição permanente que lá se encontra: Ihosvanny Cisnero e Gonzalo Mabunda são alguns dos artistas representa­dos por esta galeria.

O ideal seria ir, depois, ao Memorial António Agostinho Neto. Lá você poderá ver “Esplendor e tormento na arte angolana contemporâ­nea- Colecção Nuno de Hall Pimentel”: se for um observador atento e tiver alguns conhecimen­tos de arte, dar-se-á conta de todos os debates, problemas, dificuldad­es do coleccioni­smo e das questões, todas elas pertinente­s, - do ponto de vista da conservaçã­o das obras de arte, da museografi­a, do restauro, da curadoria, do estudo, avaliação e da peritagem-, que a amostra suscita.

É cacimbo, saia de casa e vá visitar exposições de artes visuais e plásticas, no mínimo, elas ajudarão a compreende­r melhor a complexida­de da sociedade luandense actual, os seus acertos, as suas carências e as suas potenciali­dades.

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