Selva de bichos pequenos treinados para domar leões
A cada reunião da tribo do futebol africano, para o desfile das selecções, agora maioritariamente formadas a partir da Europa, os relvados são transformados em verdadeiras passarelas, onde animais de vários tamanhos, do minúsculo esquilo ao grande elefante, batemse por um lugar de destaque na finta da bola.
Tem sido assim, de dois em dois anos. África, terra de calor e vida intensa, mostra ao mundo a riqueza da sua tão cobiçada fauna, população animal contemplada por quem a visita, nos concorridos Safaris, representados no CAN do Egipto pelo Quénia e Tanzânia. Juntos, publicitam encantos da natureza conservados nos parques nacionais de Masai Mara, Serengeti e Ngorongoro, que oferece, além da imagem pitoresca, uma caldeira vulcânica.
Mas a ideia de recrear a bicharada da bola africana, “Às Margens do Nilo”, tem pouco de original, porque o Caetano Júnior, no seu jeito gozado de dizer coisas sérias, escalonou, aqui no Jornal de Angola, as selecções pelo peso e impacto do animal que representam.
Ainda não tivemos, julgo eu, “Burros” no CAN. Desconheço o país cuja equipa nacional adoptou tal designação, certeza de fracasso a curto prazo. Ainda assim, a selva do futebol africano tem Zebras (Botswana) e Cavalos (Burkina Faso), parentes próximos do pobre animal, insultado por gostar de trabalhar.
É sabido que o CAN regressou ao Egipto, país de cultura milenar, palco da prova pela quinta vez. De parte ficaram os Camarões, detentores do título, devido a atrasos comprometedores na máquina organizativa.
Porém, ninguém pensou, mesmo nos momentos mais fecundos de arrojo mental, que os Faraós seriam “corridos de casa” por uns rapazes (Bafana Bafana), que no limite da primeira fase estavam de malas feitas para regressar a Joanesburgo.
Antes coitadinhos, mal-encarados por terem beneficiado da aselhice dos Palancas Negras, por esses dias envolvidos no puxa aqui e empurra ali, do discurso federativo prenhe de acusações, desmentidos e muitas não verdades, tudo para justificar a má safra, dizia, os sul-africanos são considerados, hoje, os senhores do Cairo, metrópole que faz menção de dar costas ao que resta do CAN, à semelhança do país, depois da eliminação do dono da casa.
Mais equilibrada foi a disputa entre a Nigéria e os Camarões. O desfecho, vitória (3-2) dos nigerianos - não os falsos que nos vendem as peças de imitação para prolongar a vida dos nossos carros -, teve tudo de normal. Até no mundo animal, porque as Super Águias, no seu voo apurado de ave de rapina, domaram o Leão, um rei ainda jovem, comandado pelo também inexperiente Clarence Seedorf.
O que custa explicar, na lógica da bicharada, é o facto de um minúsculo roedor ter derrubado o grande predador. Pendurados na inovação do apuramento dos quatro melhores terceiros, os Esquilos (Benin) deixaram pelo caminho os Leões do Atlas (Marrocos) e as camisas brancas da sorte protectora da competência de Hervé Renard.