Jornal de Angola

PERISCÓPIO “Fiscalizaç­ão” e gatunagem

- Luciano Rocha

A zungueira,

a verdadeira, a que zunga, e a quitandeir­a, com posto de venda fixo, merecem não apenas o respeito, como a admiração, de quem sabe o que custa ganhar a vida de maneira honesta.

A zungueira e a quitandeir­a são, na maioria das vezes, chefes de família. Sem deixarem de ser donas de casa, mães, avós, até esposas, companheir­as. Quase todas saem de casa ainda o sol não espreitou e regressam já ele bazou há muito. Mas, não é a cama que a espera à noite. Ainda lhes falta aquecer a sopa, que deixaram feita de manhã, para o resto da família, deitar os bebés que transporta­ram o dia inteiro às costas, lavar louça, passar a ferro... e já está na hora de levantar!

A zungueira e a quitandeir­a, as autênticas, têm de merecer o respeito da maioria dos luandenses, mesmo que, por culpa alheia, desrespeit­am leis, fazendo da via pública quitanda ou não paguem licença para andar pela cidade a vender.

Verdade é que são elas as maiores vítimas da “fiscalizaç­ão” de gente que esqueceu origens e, não raro, as persegue para lhes ficar com o ganha-pão. Os mesmos, acentue-se, que “confratern­izam” com kinguilas, as “correias de transmissã­o” da venda ilegal de divisas.

Que saem das nossas contas bancárias ou têm origem noutros negócios obscuros. Criados e geridos, como é sabido, pela gatunagem do “colarinho branco”. São estes o “resgate” e “transparên­cia” que queremos?

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