PERISCÓPIO “Fiscalização” e gatunagem
A zungueira,
a verdadeira, a que zunga, e a quitandeira, com posto de venda fixo, merecem não apenas o respeito, como a admiração, de quem sabe o que custa ganhar a vida de maneira honesta.
A zungueira e a quitandeira são, na maioria das vezes, chefes de família. Sem deixarem de ser donas de casa, mães, avós, até esposas, companheiras. Quase todas saem de casa ainda o sol não espreitou e regressam já ele bazou há muito. Mas, não é a cama que a espera à noite. Ainda lhes falta aquecer a sopa, que deixaram feita de manhã, para o resto da família, deitar os bebés que transportaram o dia inteiro às costas, lavar louça, passar a ferro... e já está na hora de levantar!
A zungueira e a quitandeira, as autênticas, têm de merecer o respeito da maioria dos luandenses, mesmo que, por culpa alheia, desrespeitam leis, fazendo da via pública quitanda ou não paguem licença para andar pela cidade a vender.
Verdade é que são elas as maiores vítimas da “fiscalização” de gente que esqueceu origens e, não raro, as persegue para lhes ficar com o ganha-pão. Os mesmos, acentue-se, que “confraternizam” com kinguilas, as “correias de transmissão” da venda ilegal de divisas.
Que saem das nossas contas bancárias ou têm origem noutros negócios obscuros. Criados e geridos, como é sabido, pela gatunagem do “colarinho branco”. São estes o “resgate” e “transparência” que queremos?