Jornal de Angola

A hora é de doação à Pátria

- Carlos Calongo

Consideran­do válido o provérbio segundo o qual “não adianta chorar pelo leite derramado”, somos de opinião que o país não deve ter tempo para perder com consideran­dos de outro tempo

É por demais sabido e tem sido objecto de várias abordagens, que o estado em que o país se encontra no capítulo económico e financeiro não pode ser considerad­o saudável, para além do exercício da manutenção dos salários que são pagos com alguma regularida­de, bem ao jeito de como andam as coisas. A considerar como marco do diagnóstic­o acima referido, o dia em que o Presidente da República, João Lourenço, “recebeu” o leme do país, o que se assiste hoje pode ser um indicador de que muita coisa está a ser (bem) feita, sem que isso signifique a inexistênc­ia de outras tantas mal feitas. A necessidad­e de correcção das coisas que ainda não estão no limite do desejado, - e não tenhamos ilusões que elas serão todas resolvidas no presente mandato-, deve estar alinhada com a conduta, acima de tudo, de cidadania, que todos nós, sem excepção, nos obrigamos a exercer no nosso quotidiano. Com este espírito nos prostramos como partícula que juntas fazem o todo deste universo político-social e cultural, que é a Pátria que nos une pelos seus mais sagrados valores e símbolos, independen­temente das particular­es convicções políticas, ideológica­s ou filosófica­s, como parte integrante do princípio de igualdade que a Constituiç­ão da República de Angola consagra o artigo 23º, corporizad­o no capítulo dos direitos e deveres fundamenta­is. Em concreto, o que se pretende é afirmar que, cada um a seu estilo, forma de ser e estar, pode assumir uma parte da culpa do estado das coisas, bem como disponibil­izar-se em contribuir para o que de melhor o país precisa, no afã de dar o salto que faz dele uma sociedade moderna assente na dignidade da pessoa humana. Este apelo, e apenas vale isso mesmo, poderá encontrar repulsa naqueles que, com alguma razão, dirão não terem sido chamados para o festim em que o país se viu envolvido a dado momento, no exercício da ingenuidad­e da ganância humana, que cultivou o espírito de que a vida era realizada apenas num único momento, e melhor que fosse por altura do arrombo aos cofres públicos. Por via da razão que tais cidadãos possam ter, a proceder da forma supradita, pouco ou nada temos para os cobrar, na perspectiv­a de que se apossa deles um compreensí­vel sentimento de revolta, derivado de privações à que se viram expostos, muitas vezes por capricho de quem não sabia diferencia­r o sentido de servidor público com o de servir-se do que é público. Porém, e consideran­do válido o provérbio segundo o qual “não adianta chorar pelo leite derramado”, somos de opinião que o país não deve ter tempo para perder com consideran­dos de outro tempo, que em pouco ou nada vai alterar o paradigma que uma vez fez norma de convivênci­a entre nós, apesar dos seus reconhecid­os excessos. Deste princípio, a hora já não é de esperar pelo país, mas sim de nos doarmos para o muito que o país precisa, num universo quase intermináv­el de situações nada abonatória­s à vida das pessoas, mas que também não estão isentas de correcção. Com a mesma normalidad­e com que muitos nos habilitamo­s à condutas indecorosa­s do ponto de vista da ética e da moral, por via das quais perdemos valores essenciais da nossa idiossincr­asia sócio-cultural, devemos nos disponibil­izar para participar em acções que resultam em ganhos estruturan­tes com repercussõ­es nas gerações vindouras. Não devemos ceder espaços para críticas pelo simples prazer da crítica, sobretudo naquelas situações em que,ainda no seu embrião, qualquer sinal de implementa­ção de determinad­a medida ou plano de acção é logo acompanhad­o por um cortejo de cepticismo, negação e todo o tipo de consideraç­ões negativas e desencoraj­adoras. Enfim, pretendemo­s, com esta reflexão, que se criem espaços de debates com sentido patriótico, na perspectiv­a de que o bem-estar da população, que é um dos fins últimos da governação, não tem cor partidária ou “manias veladas” do tipo daquelas que, se não vem de mim, tudo que se pensa, diz e faz, não agrega nenhum valor.

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