Jornal de Angola

As makas do Presidente Trump

- Sousa Jamba

Diz-se, muitas vezes, que o Presidente dos Estados Unidos é a figura mais poderosa na face da Terra. Tudo que ele diz é analisado microscopi­camente. O actual inquilino da Casa Branca, Presidente Donald Trump, prefere não ser comedido: quem o ofende, leva e ponto final! Recentemen­te, houve uma disputazit­a entre parentes próximos (Estados Unidos e Reino Unido) que o Presidente Donald Trump poderia muito bem ter ignorado. Alguém deixou transpirar o conteúdo de um relatório secreto do embaixador britânico nos Estados Unidos, Sir Kim Darroch, em que este descrevia a Administra­ção Trump como sendo inepta. O Presidente Trump, enfurecido, foi logo ao seu Twitter e descreveu Sir Kim Darroch como um imbecil pomposo com o qual a sua Administra­ção não iria tratar. O Presidente não parou por ali: numa outra efusão no Twitter descreveu Sir Kim Darroch como uma pessoa muito estúpida. O Presidente dos Estados Unidos usou o tipo de linguagem que não se espera de uma figura tão potente no mundo.

O Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, em 2016, chamou o embaixador dos Estados Unidos naquele país como um “maricas, filho da p**a”. O mesmo Presidente chamou ao então Presidente dos Estados Unidos também como um “filho da p**a.” Nos Estados Unidos houve um grande barulho à volta dos insultos que muitos acharam ser inaceitáve­is. Nas Filipinas, muitos intelectua­is afirmaram que Duterte não representa­va os valores da nação que valorizava muito as boas maneiras. O então Presidente Barack Obama, homem com muita classe, preferiu ignorar a linguagem grosseira do Presidente das Filipinas. Obama provou ser um verdadeiro estadista; alguém que estava muito acima da mesquinhez que estimula tanto o Presidente Trump e os seus próximos.

Nos Estados Unidos, durante a presidênci­a de Obama, havia mesmo uma indústria — com Donald Trump como principal maestro — dedicada a denegrir o seu nome. Dinesh de Souza, um conservado­r americano próximo de Trump, até fez um filme com acusações infundadas que questionav­am o patriotism­o de Obama por causa das suas raízes quenianas. A calma de Obama, no meio daquele tumulto de acusações e insultos, foi impression­ante — e exemplar. Muita gente no mundo admira o sistema americano. Por todas falhas que conhecemos, os americanos estiveram sempre prontos a fazer uma introspecç­ão colectiva. Sim, houve momentos que a América era mesmo “a cidade na colina” — um exemplo a seguir. Várias entidades no mundo já notaram que a América tem o potencial de criar uma sociedade baseada profundame­nte no princípio de civilidade.

Será que a maluquice do actual regime em Washington faz parte de um interlúdio que eventualme­nte passará apenas a ser um rodapé na grande narrativa, em partes altamente dignas, dos Estados Unidos? Os apoiantes de Donald Trump, lá no interior dos Estados Unidos, não estão interessad­os no resto do mundo. Até porque muitos odeiam o resto do mundo, a quem atribuem todas as suas infelicida­des. Quem foi aí com histórias de um futuro comum de todos os seres do Planeta Terra (como tem feito o antigo Vice-Presidente Al Gore) é rejeitado de imediato. Estes apoiantes de Trump não estão preocupado­s com os insultos que possam vir do seu Twitter; eles não se importam que o seu ídolo tenha o hábito de auto elogiar-se. Lá, no interior dos Estados Unidos, os apoiantes do Presidente Donald Trump estão permanente­mente perturbado­s com o que parece, para eles, ser a exclusão das suas vozes da empresa principal que parece sempre estar a promover valores urbanos e liberais. Não obstante todas as histórias de supostas indiscriçõ­es sexuais por parte do Presidente Trump, algo que desqualifi­cava de imediato quem pretendia ser um diácono de uma pequena igreja, os líderes religiosos quase vão se atropeland­o a caminho da Casa Branca para expor-se à suposta glória do Presidente Trump. Para muitos, o Presidente Donald Trump representa algo tão valoroso e quase inefável.

Voltemos, porém, ao caso do diplomata britânico, Sir Kim Darroch, que, depois de tantos insultos da Casa Branca, teve que se demitir. De longe, pode-se ver que há muitos no Reino Unido que estão “por aqui” com o parente lá em Washington DC. O Presidente Donald Trump gosta de se imiscuir em assuntos internos da Grã Bretanha e mesmo irritar figuras de renome por lá. Nos últimos anos, tem havido uma barragem de troca de mimos entre o presidente da Câmara de Londres, Sadiq Khan, e o Presidente Donald Trump. Para sermos justos, Sadiq Khan também não pára de criticar o Presidente Trump — em vez de concentrar-se em melhorar a vida dos londrinos. Em todo caso, porque razão é que o Presidente Trump não o ignora?

Vivi uma boa parte da minha vida no Reino Unido e Estados Unidos. Politicame­nte, inclino-me ao centro direita; o conservado­rismo sempre me atraiu porque coincidia com os valores do meio sociológic­o em que nasci: respeito a tradição, respeito a família, tolerância, modéstia, parcimónia, valorizaçã­o da ética do trabalho. Há uma franja da direita americana, arrogante, sem papas na língua, imbuídas de preconceit­os, que vê no Presidente DonaldTrum­pumaliado. Estafranja­estácomple­tamenteind­iferente à importânci­a da diplomacia e arte de governar. Um grande filósofo que influencio­u muito a direita intelectua­l, Edmund Burke, afirmava que nem sempre o representa­nte do povo tinha que dar eco aos seus preconceit­os. Para Burke, o representa­nte do povo tinha a responsabi­lidade de actuar sempre na base dos seus valores.

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