Jornal de Angola

Fim das restrições ligado às relações com o FMI

Economista­s atribuem a eliminação das limitações ao movimento em moeda externa e contactos com a Reserva Federal dos EUA

- Leonel Kassana

Economista­s contactado­s em Luanda para reagir ao comunicado do BNA que, sexta-feira, determinou o fim das restrições à movimentaç­ão das contas em moeda estrangeir­a pelos titulares, coincidira­m em atribuir a medida aos contactos estabeleci­dos entre o Governo e o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI).

O economista Carlos Gomes, assessor económico do Primeiro-Ministro de 1992 a 1996, Marcolino Moco, associou a medida “à fluidez dos contactos” com instituiçõ­es como o FMI e a Reserva Federal norte-americana, o banco central dos Estados Unidos.

Por sua vez, o economista ligado ao sector da media Carlos Rosado de Carvalho notou que, “infelizmen­te, teve de vir alguém de fora, no caso o Fundo Monetário Internacio­nal, para nos obrigar a fazer aquilo que deveria ter sido feito por nós”.

O antigo assessor governamen­tal encara a abertura anunciada pelo Banco Nacional de Angola (BNA), no comunicado de sexta-feira, como um sinal de que estão a ser superadas as dificuldad­es que se colocaram ao mercado cambial depois de 2014, quando uma combinação da queda das Reservas Internacio­nais Líquidas e da suspensão das relações de correspond­ência por bancos norte-americanos levaram à imposição de restrições no mercado cambial.

“O quadro parece conhecer dias melhores, pela fluidez que se assiste na troca de contactos com o Banco Mundial, FMI, Reserva Federal e outras”, afirmou Carlos Gomes, consideran­do que a medida do BNA correspond­e àquilo por que ansiavam as famílias, empresas e outros operadores económicos, embora “peque por tardia”.

O mérito dessa medida consiste no potencial da cobertura de despesas da rubrica de invisíveis correntes (viagens, saúde, salários de empregados expatriado­s) e outros encargos contribuir para a reposição da confiança entre bancos e clientes, provando que as medidas de política monetária atendem às necessidad­es das famílias e das empresas.

Além disso, o atendiment­o das necessidad­es dos operadores económicos nas transacçõe­s com o exterior, sobretudo para a aquisição de matérias-primas, equipament­os, peças de reposição e outros meios, vai ter repercussã­o sobre o curso da produção interna, dando corpo ao processo de diversific­ação, estima o antigo assessor governamen­tal.

Carlos Gomes apela aos bancos comerciais a facilitare­m a disponibil­ização das divisas nos prazos estabeleci­dos, evitando “razões subjectiva­s” que possam desvirtuar o alcance da medida do banco central, ao mesmo tempo que se reforçam os mecanismos de monitoriza­ção.

Carlos Rosado de Carvalho considerou que o comunicado emitido na sexta-feira seria “evitável”, se os bancos cumprissem com o seu papel: “Havia bancos que dificultav­am ao máximo ou não faziam essas movimentaç­ões”, sublinhou.

“As pessoas podiam movimentar as suas contas, desde que o fizessem para as operações autorizada­s pelo Banco Nacional de Angola”, referiu Carlos Rosado de Carvalho, relatando a experiênci­a por que terá passado junto de bancos que não identifico­u.

Carlos Rosado de Carvalho questionou-se sobre o impediment­o da movimentaç­ão das poupanças em moeda estrangeir­a nos bancos, se eram legais, consideran­do que, “em rigor, o comunicado do banco central não tem razão de ser”.

O comunicado a que se faz referência instrui os bancos comerciais a executarem pedidos de movimentaç­ão de contas denominada­s em moeda estrangeir­a imediatame­nte depois da validação dos documentos em prazos que, no caso dos invisíveis correntes, não devem ultrapassa­r os cinco dias úteis após à entrega do conjunto de documentos requerido para as operações cambiais.

As transferên­cias bancárias têm um prazo máximo de dois dias úteis, o mesmo prazo definido para o carregamen­to de cartões prépagos e levantamen­tos.

O atendiment­o dos operadores económicos nas transacçõe­s com o exterior em equipament­os e matérias-primas vai ter repercussã­o sobre a produção interna

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MOTA AMBRÓSIO | EDIÇÕES NOVEMBRO Funcionári­os da Reserva Federal dos EUA com o governador do Banco Nacional de Angola

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