Líder da rebelião quer retomar negociações
Riek Machar, líder dos rebeldes do Sudão do Sul, escreveu uma carta onde se mostrou disposto a sentar de novo à mesa das negociações para acertar o passo ao acordo de paz, assinado há quase um ano, numa altura em que as Nações Unidas divulgaram, em Nova Iorque, um novo relatório onde são referidas as mortes recentemente registadas no país
O líder rebelde da oposição do Sudão do Sul, Riek Machar, exilado no vizinho Sudão, disse no fim-de-semana estar disposto a retomar as negociações de paz com o Presidente Salva Kiir, caso certas condições sobre a sua liberdade sejam acordadas.
Numa carta enviada ao conselheiro de segurança do Presidente sul-sudanês, segundo a Reuters, Riek Machar apresentou uma lista de exigências que faz antes de uma eventual reunião entre os dois, sugerindo que ela possa acontecer na capital sul-sudanesa, Juba.
“Acredito que este seja o momento para avaliar o processo, uma vez que passaram dois meses do período suplementar sem progressos substanciais”, escreveu Machar.
Entre as exigências, o líder rebelde coloca a possibilidade de viajar livremente para países da Autoridade InterGovernamental para o Desenvolvimento na África Oriental (IGAD, na sigla inglesa). O rebelde exigiu ainda o levantamento das condições de prisão domiciliária.
O Sudão do Sul, com maioria de população cristã, obteve a independência ao separar-se do norte árabe e muçulmano em 2011. No entanto, a partir do final de 2013, o país entrou num conflito civil, provocado pela rivalidade entre o Presidente, Salva Kiir, e o então Vice-Presidente, Riek Machar.
As partes formaram um Governo de Unidade Nacional em 2016, que caiu poucos meses após a formação, devido a um reinício da violência, tendo essa sido a primeira tentativa de pacificação do jovem país africano.
O acordo para a criação de um Governo unitário com os rebeldes, aprovado em Setembro do ano passado, foi o mais recente de uma série de compromissos entre o Executivo de Salva Kiir e os rebeldes liderados por Machar desde o início da guerra civil, em 2013.
Desde o início do conflito, a guerra civil sul-sudanesa já matou dezenas de milhares de pessoas, deslocando cerca de quatro milhões e arruinando a economia do jovem país, rico em petróleo.
Nações Unidas denunciam mortes
Ainda na semana passada as Nações Unidas denunciaram que mais de 100 civis foram mortos e quase o mesmo número de mulheres foram violadas ou sofreram outras violências sexuais durante os confrontos no Sudão do Sul após a última assinatura de um acordo de paz.
Em comunicado divulgado em Nova Iorque, a Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul (MINUSS) refere que se registaram 95 violações e abusos entre Setembro de 2018 e Abril de 2019, num total de 30 ataques a aldeias, em que 104 civis foram mortos e 35 ficaram feridos, bem como 187 pessoas foram raptadas.
No mesmo documento, a MINUSS refere que a violência no Sudão do Sul levou ao deslocamento interno de mais de 56 mil pessoas e quase 20 mil fugiram para o Uganda e para a República Democrática do Congo.
O relatório da Missão das Nações Unidas refere que, no geral, houve uma redução significativa de violações e abusos relacionados com conflitos em todo o país após a assinatura do acordo de paz, em Setembro de 2018. No entanto, o Estado da Equatória Central tem sido uma excepção a essa tendência, principalmente nas áreas em torno da cidade de Yei, onde os ataques contra civis continuaram.
A MINUSS identificou ainda os grupos responsáveis por ataques a civis: a Frente Nacional de Salvação (NAS), o Movimento para a Mudança (SSNMC) e grupos/elementos armados afiliados; Forças Armadas do Governo; e o Exército Popular de Libertação do Pro-Riek Machar Sudão da Oposição (SPLA-IO/RM).
No documento divulgado, a ONU salienta que a violência ocorreu em duas fases distintas: a primeira coincidiu com a assinatura do acordo de paz, quando o SPLA-IO (RM) e NAS, SSNMC e grupos armados entraram em conflito para o controlo territorial do país, matando 61 civis, e a segunda começou em Janeiro de 2019, quando o Governo iniciou operações militares para desalojar os chamados "rebeldes" da região da Equatória Central.
A Missão da ONU tem mais de 150 tropas no país, o que permitiu intensificar as patrulhas dentro da cidade de Yei e comunidades periféricas para combater a violência e permitir a entrega segura da ajuda humanitária e promover "actividades de reconciliação e consolidação da paz".
A ONU salienta que todas as partes envolvidas no conflito devem cumprir as leis internacionais de direitos humanos e o direito internacional humanitário.