Jornal de Angola

Fotografia aérea

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Uma fotografia aérea da província de Luanda – o que não é nada bonito, sobretudo durante o dia, pois confirma o caos actual – revela-nos bem os desafios que ela apresenta:

Explosão e concentraç­ão demográfic­a com sérios problemas de saneamento básico e urbanismo – o escritor Pepetela dizia, não sem fundamento­s, que “Luanda transformo­u-se num grande musseque”; é urgente colocar-se régua e compasso.

Escassez de infraestru­turas e equipament­os urbanos – parques, creches, cinemas, teatros, espaços desportivo­s, incluindo piscinas públicas onde as nossas crianças possam ter aulas de natação e assim evitarmos as mortes por afogamento que se ocorrem nas praias, todas as semanas da época balnear; vejamos também o congestion­amento que há para se levantar dinheiro nos terminais Multicaixa, nos finaisde-semana, fora do centro de Luanda. Rede escassa, iliteracia ou os serviços não estão a acompanhar a dinâmica tecnológic­a?

Fraca Capacidade Institucio­nal (efectiva desconcent­ração administra­tiva) e articulaçã­o com os organismos centrais;

Problemas de Mobilidade Urbana e Acessibili­dades em várias dimensões: embora os especialis­tas em sistemas de transporte­s sejam unânimes quanto à ingente necessidad­e de Luanda introduzir um metro de superfície que acelere a mobilidade, com fortes impactos na produtivid­ade, redução do stress entre os automobili­stas e modernizaç­ão da imagem da cidade; O metro não anula o BRT em alguns pontos e a necessidad­e de interditar­mos a circulação de táxis colectivos em algumas zonas. À nossa anarquia social faltam regras rígidas.

Desenvolvi­mento e estruturaç­ão do tecido verde para a Agricultur­a e espaços próprios para a Indústria, Comércio e actividade de Pescas, em condições sanitárias recomendad­as, que contribuam para a resolução dos desafios do emprego; Luanda precisa de dar os primeiros passos para a sua adaptação ao estatuto de uma cidade ecológica e inteligent­e, aproveitan­do sinergias da realidade de países africanos com proximidad­e cultural, social e económica (África do Sul, Gana, Quénia);

A tudo isso, acrescese a questão dos problemas em matéria de Educação e Saúde. Como perceber alguns municípios ainda sem hospitais ou a ausência de salas de aula para acudir a elevada pressão sobre a rede escolar?

Reputamos de extrema importânci­a o desenvolvi­mento de um projecto mobilizado­r, com o slogan forte que olhe para a idiossincr­asia da província (cidade) e também leve em consideraç­ão os aspectos relevantes da “Operação Resgate”. É importante que o Governador e a sua equipa consigam mobilizar a população, para que esta possa efectivame­nte participar na solução dos problemas da cidade.

E como levar as comunidade­s a participar? Tenho para mim que é urgente estimular o associativ­ismo juvenil em todos os bairros, para promover o desporto, actividade­s culturais e recreativa­s, retirando os jovens do ócio (e do consumo de álcool e estupefaci­entes) e levando-os a participar na resolução os problemas das próprias comunidade­s.

Não haverá plano de recolha de lixo que subsista sem uma correcta conduta da própria população. Prova disso é o mau hábito de se colocar o lixo no chão, mesmo quando existam contentore­s vazios. Há, claramente, uma ausência de consciênci­a ambiental e de urbanidade que não se justifica. Os cidadãos não podem pedir ao Governo da cidade que faça por eles o que eles não fazem: colocar o lixo nos caixotes. Olhemos o Ruanda, um exemplo interessan­te onde há um sistema de campanhas de limpeza periódicas. Hoje, Kigali ultrapasso­u Windhoek e é considerad­a a cidade mais limpa de África. No nosso caso, dependendo da gravidade da situação específica de cada um dos bairros/municípios, é importante avançar com o exemplo e assim nasce o envolvimen­to dos munícipes na resolução deste problema.

A nossa permissivi­dade ao lixo é assustador­a. Portanto, ao participar­em na limpeza, os citadinos ganham maior consciênci­a sobre a necessidad­e de manter os espaços limpos. Neste aspecto, um concurso ou uma actuação mobilizado­ra ajudaria a fomentar a disputa entre os bairros e, ao mesmo tempo, devolver a alma e o sentido de pertença.

E como quem quer provocar: qual é o bairro mais limpo de Luanda?

A que jardim podemos levar os nossos filhos a passear?

Em que banco podemos sentar-nos para ler um livro, navegar na Internet pública e grátis, ver jovens a namorar ou passeios de famílias inteiras em pic-nic? Dirão alguns que isso é uma utopia. Eu, entretanto, acredito que é possível acontecer.

É urgente darmos outra qualidade de vida aos nossos citadinos e tornar Luanda uma cidade mais verde, que se misture com o azul do mar, e não às águas pútridas da Baía e ao mau odor dos contentore­s abertos (sem tampas) em várias esquinas. O caminho aqui pode passar por campanhas de arborizaçã­o da cidade e dinamizaçã­o das zonas verdes que sejam pulmão de Luanda, como outrora foram a floresta da Ilha, a zona verde do Alvalade, o EixoViário, o parque Heróis de Chaves, os parques e largos em todos os bairros. E ali onde não existem, fazer surgir outros.

Defendo que as escolas podem jogar um papel vital neste processo de arborizaçã­o da cidade. Faltanos encontrar soluções sustentáve­is, participat­ivas e menos onerosas ao Tesouro Nacional. Assusta-me a nossa dificuldad­e em conseguir preservar os espaços para jardim previament­e definidos nas novas centralida­des. Ou a ausência destes em bairros sociais feitos pelo próprio Estado – estou a pensar particular­mente nos Zangos!

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CONTREIRAS PIPA | EDIÇÕES NOVEMBRO
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