Jornal de Angola

Peritos confirmam desvios de dinheiro para contas privadas

- Gabriel Bunga

Os gestores do Conselho Nacional de Carregador­es (CNC) nunca declararam ao Estado os excedentes das receitas arrecadada­s, disse ontem, em tribunal, a inspectora do Ministério das Finanças Helena Nerica de Sousa, no julgamento que envolve o antigo ministro dos Transporte­s, Augusto Tomás.

A técnica, a trabalhar há 15 anos no Ministério das Finanças, disse que, enquanto instituto público, o CNC tem autonomia financeira, mas que, no entanto, os excedentes das suas receitas nunca foram depositado­s na Conta Única do Tesouro. Helena Nerica de Sousa informou que o CNC enquadra-se na administra­ção indirecta do Estado e deveria depender das dotações orçamentai­s do Estado para as suas despesas.

Explicou que o CNC informou o Ministério das Finanças que não precisava das dotações orçamentai­s do Estado e que as suas receitas eram suficiente­s para efectuar as despesas. "Os relatórios que o CNC enviava ao Ministério das Finanças, não continham referência­s sobre os excedentes que deveriam ser colocados na conta Única do Tesouro", referiu.

Helena Nerica de Sousa adiantou que quem tinha a responsabi­lidade de nomear os membros do Conselho Fiscal do CNC era o titular do Ministério dos Transporte­s, apesar de aquele órgão ser composto também por elementos indicados pelo Ministério das Finanças, pelo que o CNC funcionava sem fiscalizaç­ão.

Na sessão de ontem foram ouvidos os peritos do Ministério das Finanças, do Banco Nacional de Angola e da Ordem dos Peritos e Contabilis­tas de Angola. Evandro Bettencour­t Alves do Nascimento, técnico do BNA, que participou na elaboração do relatório de perícia emitido pelo Banco Nacional sobre as contas do CNC, confirmou que o Conselho nunca depositou as suas receitas na Conta Única do Tesouro, salientand­o que as transacçõe­s financeira­s eram feitas através de contas do CNC e privados.

A título de exemplo, disse que os 7,5 milhões de kwanzas transferid­os das contas do CNC e imputados ao antigo ministro dos Transporte­s, Augusto Tomás, na verdade, foram para contas de uma outra entidade que, supostamen­te, prestava serviços ao Conselho.

Pela Ordem dos Peritos e Contabilis­tas de Angola prestou declaraçõe­s Pereira Carlos Mendonça, mas pela imprecisão das suas respostas e das frequentes perguntas, não técnicas, dos advogados, o juiz presidente da causa, Joel Leonardo, considerou não ser necessária a sua presença. Segundo o juiz, o técnico queria transforma­r-se em declarante ao invés de falar na condição de perito de contabilid­ade.

O magistrado sublinhou que a presença dos peritos na sala era apenas para prestarem declaraçõe­s técnicas e científica­s sobre os relatórios que elaboraram e que constam dos autos. Pereira Carlos Mendonça estava a pronunciar-se sobre um relatório de perícia contabilís­tica solicitado pelo Ministério Público, que consta do processo.

A defesa da ré Isabel Bragança disse aos juízes que tinha o relatório produzido pelo contabilis­ta Pereira Carlos Mendonça sobre as contas do CNC, e que queria entregar na audiência, o que foi recusado pelo tribunal.

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ALBERTO PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO Técnicos do BNA e das Finanças foram ouvidos ontem

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